terça-feira, 31 de agosto de 2010

o Grito... pelo Krakatoa

Foi no final de Agosto que o Krakatoa explodiu, em 1883, depois de um crescendo de actividade, fazendo ouvir-se a mais de 4500 km de distância (o som demorou quase 4 horas a lá chegar, os céus cobriram-se de poeira alaranjada e a temperatura do planeta baixou subitamente).

Eduard Munch, o pintor norueguês, na altura com 20 anos, resolveu ilustrar a explosão, com o quadro acima, designado por "O Grito". Curiosamente, este quadro tem sido quase sempre associado a crianças maltratadas, depressão, suicídio e outras coisas assim. Não foi a intenção do autor, mas apenas ilustrar o que deve ter sido estar perto da maior explosão vulcânica de que há memória.

ciganices

Crédito Imagem: pontosumbandaequimbanda.com

Muito se tem debatido o caso das pessoas de etnia cigana expulsos de França. O assunto levará longe: se foram expulsos por estarem ilegais, se por serem considerados perigosos ou arruaceiros. Indignou-se muita gente e houve até quem, num acto de manifesta falta de lucidez, comparasse o caso ao Holocausto (que, aliás, como a palavra nazi é usado a torto e a direito).

Vale a pena relembrar, no entanto, que em Beja a autarquia construíu um enorme muro de betão para isolar a comunidade cigana do "resto" da população e que, pressionada pela Amnistia Internacional, vai embelezr o muro para não parecer tão muro. Faz lembrar o muro da Palestina, só que, como é em Portugal, as vozes adormecem e, no fundo, as "pessoas " aquiescem...

PS: a propósito dos confrontos num bairro de Loures, o jornalista de um canal nacional terminava assim: "três pessoas e um cigano foram detidas para averiguações". Continua lá, no seu posto. Para quê dizer mais? A culpa deve ser do Sarkozy...

Declaração de interesses: tenho uma excelente relação com parte da comunidade cigana de Lisboa. No que toca às crianças e aos cuidados que lhes prestam, tomara muitas "pessoas"...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Hitler, revoltado com algumas atitudes leoninas

Mas, mesmo a contragosto, parabéns ao SCP pela vitória de ontem...

o naufrágio do San Pedro de Alcantara

O naufrágio do San Pedro de Alcantara, pintado por Jean Pillement

Há dias fomos visitar o local onde o San Pedro de Alcantara naufragou (Papoa, Peniche), em condições tão inacreditáveis que parecem ser apenas uma lenda (julga-se que, numa noite de tempestade e algum álcool, o comandante teria confundido as Berlengas com o Cabo Carvoeiro, passando a estibordo deste e entrando pela praia dentro. Outros dizem que o navio foi atraído por faróis falsos, à boa maneira dos piratas da Cornualha).


A sua carga material (ouro e metais nobres) e humana (nobres espanhóis e guerrilheiros índios, da famosa tribo de Tupac Amaru, responsáveis por uma rebelião contra o domínio castelhano, para além de militares, passageiros e tripulação) levou a que este naufrágio fosse considerado um dos mais importantes ocorridos em Portugal.


Jose Gabriel Tupac Amaru, em http://www.artehistoria.com/historia/personajes/5715.htm

À data, Espanha estabeleceu um consulado em Peniche e mergulhadores franceses vieram tentar (há mais de 200 anos) recuperar o tesouro. Os mortos tiveram diversos destinos, desde a Capela de Nossa Senhora dos Remédios até valas comuns, algumas das quais encontradas, no final dos anos oitenta, junto à praia da Papoa.

Dava um bom filme...




... e deu um soneto, escrito por Basílio da Gama, um Jesuíta que viveu no final do século XVIII, sobre Tupac Amaru, o líder da revolta índia e um dos guerreiros mais famosos da América Latina.
Dos curvos arcos açoitando os ares
Voa a seta veloz do Indio adusto
O horror, a confusão, o espanto, o susto
Passam da terra, e vão gelar os ares.


Ferindo a vista os trémulos cocares,
Abriu-se o esquadrão do Chefe Augusto,
Rompe as cadeias do Espanhol injusto
E torna a vindicar os patrios lares.


Índio valente, genío Indiano!
O real sangue, que te alenta as veias,
Une a memória do paterno dano.


Honra as cinzas de dores, de infâmias cheias,
Qu´inda fumando a morte, o roubo e o engano
Clamam vigança às tépidas areias.

Poeta do Arcadismo brasileiro, José Basílio da Gama nasceu em São José do Rio das Fortes, Minas Gerais, em 1741. Estudava com os jesuítas na altura em que estes foram expulsos do Brasil, por ordem do Marquês de Pombal. Estudou em Portugal, indo para Roma onde ingressou na Arcadia Romana. Em 1767 volta a Portugal. Retornando ao Brasil, foi perseguido pelas autoridades, por suspeita de jesuitismo, e foi enviado para Lisboa. Caiu, porém, nas graças do Marquês, após escrever um epitalâmio pelo casamento da filha de Pombal, e assim evitou ser desterrado para Angola. Em 1769, publicou o poema épico "O Uraguai". Em 1791, publica o poema Quitúbia. Foi precursor do Indianismo romântico e faleceu em Lisboa, em 1795.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

o Forte de Pai Mogo


Perto de Lisboa há lugares, monumentos e organizações interessantíssimas para visitar. Um passeio curto basta. E talvez por exemplo as crianças gostem e aprendam mais do que a estar, durante dias a fio, nas férias, a fazer "mais do mesmo".

O Forte de Pai Mogo, por exemplo, que fica na Lourinhã. Vale a pena ir até à Praia da Areia Branca e daí seguir pela estrada litoral, que é linda, revelando praias desertas e vistas soberbas de mar e campo.

Aqui ficam algumas fotografias do Forte, ainda antes das obras que, felizmente, procederam a alguns melhoramentos, depois de ter estado quase a cair e vandalizado.


Foi classificado como Imóvel de Interesse Público, foi construído em 1674 por ordem de D. António Luís de Menezes, Conde de Cantanhede também conhecido por Marquês de Marialva e herói das guerras da Restauração.

Tinha por missão específica a defesa da praia de Pai Mogo, de modo a impedir o eventual desembarque de tropas inimigas, num lugar de fácil acesso - pode ver-se a Serra de Sintra, em dias de boa visibilidade.


Trata-se de um pequeno forte abaluartado, de arquitectura militar barroca, de planta quadrangular que possui guaritas cilíndricas de cobertura cónicas. É considerado um exemplar quase único de fortificação posterior à Restauração sem alterações arquitectónicas. Com o fim da Guerra Civil acabou a missão do Forte de Nossa Senhora dos Anjos de Paimogo como fortificação marítima. Com os nosso tempos, depois de uma fase de  destruição sistemática de um belo Forte, símbolo de tempos idos e da História do País, parece estar recuperado, embora ainda se possa explorar melhor e divulgar de forma mais alargada a sua existência.


Pai Mogo é também o nome de um excelente exemplar de doçaria conventual, típico da Lourinhã, que vale a pena comprar na Casa das Areias Brancas, na vila. E depois saborear uns quantos no caminho...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

congestion charge

Prometida na penúltima campanha eleitoral autárquica, a taxa londrina de circulação de viaturas privadas foi imediatamente instituída e é aplicada sem dó nem piedade. Quase toda a parte central de Londres tem esta taxa, de 8£ (cerca de 10€) por dia. Por dia! Há facilidades para quem comprar taxas mensais ou anuais (estas, cerca de 1.500€).

Câmeras fotográficas registam as matrículas e os computadores imediatamente assinalam quem tem de pagar - o pagamento é feito por telefone ou por net, através de cartão de crédito, e os automobilistas têm de pagar em 48h. Caso não o façam, a taxa sobe para 60£ nas duas semanas subsequentes, e depois para 120£. Ao fim de um mês entram em acção outras formas coercivas de pagamento.

O objectivo é limitar o tráfego privado, favorecendo (e de que maneira) os transportes públicos, que circulam rapidamente (sou testemunha) e amiúde. Por outro lado, estando o município de Londres altamente empenhado na luta contra a poluição, a redução da emissão de CO e CO2 e outros gases poluentes é enorme. Acresce que, pagando os londrinos preços elevados por metro quadrado de habitação, passam a dispor também de maior qualidade de vida e, igualmente, de maior acesso a parqueamento.

Por cá, falou-se vagamente disto quando das últimas autárquicas em Lisboa, mas a ideia caíu, como tudo o que é correcto mas politicamente embaraçoso. Pessoalmente, sou a favor de taxas de entrada na cidade, como em Oslo, Estocolmo ou tantos outros locais. Quem tem carro privado não pode pensar que o seu "sofá com rodas" é omnipotente. Talvez as pessoas pensassem duas vezes em comprar carro ou em andar a pé, de transportes públicos, de adquirir casas aqui ou acolá...

Só que nos falta um mayor de Londres... com os respectivos no sítio...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dia do Artista, de São Bartolomeu e do Diabo! - estarão relacionados?

24 de Agosto, é o Dia do Artista. E também dia de São Bartolomeu, em que se diz que o Diabo se solta do Inferno e anda livre pela Terra, por 24 horas. O vento forte, encanado, característico deste dia, é a prova dos movimentos do Demo.
Entre as proezas de Belzebu, no dia em que lhe é concedida liberdade, conta-se urinar para as amoras silvestres, pelo que não se recomenda a sua ingestão. Além disso, é o dia em que a carteira pode levar sumiço, sem se dar por isso.

Em homenagem aos Artistas, não apenas plásticos mas da escrita, da música, da expressão corporal e de tantas outras Artes (apenas as honestas e altruístas, sublinhe-se...), fica acima um quadro da minha irmã.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

back to work

Olá. Aqui estou, ainda mal refeito das férias... ou a fingir que até sabe bem regressar ao trabalho. Sabe... mas também sabia bem ter mais uns dias para andar por aí, sem destino, horários ou compromissos menos agradáveis.

Bom, mas para todos os efeitos, o Blogue volta a estar em completa actividade, e espero que, no trabalho ou em férias, o possam ir seguindo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sean Penn

Crédito imagem: Wikipedia

50 anos. Um grande actor, um activista político, um homem inteligente. Parabéns!
(só é pena a demasiada colagem a Hugo Chávez, mas compreensível para um americano, em que não há meio termo: ou Bush ou Chávez...).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Chipre

Há 50 anos conseguia a independência do Reino Unido. Agora, está dividido entre duas comunidades que se odeiam, tanto como os respectivos países de referência, numa rivalidade milenar: a Grécia e a Turquia.

Há uns anos, os meus filhos mais velhos passaram um mau bocado por dizerem, em Atenas, em casa de amigos gregos, a palavra "Istambul" - logo alguns jovens gregos aí presentes se mostraram agressivos, dizendo que era "Constantinopla" e que não admitiam outra coisa.

Mal o Arcebispo Makarios morreu, a Ilha desintegrou-se (um pouco à semelhança da ex-Jugoslávia de Tito)Tudo dentro da UE. É, é...

domingo, 15 de agosto de 2010

up Mary!

crédito imagem: 3.bp.blogspot

Poucas pessoas saberão o que é que significa este feriado do 15 de Agosto, pouco notado porque coincide com férias, e ainda menos este ano, já que calhou num domingo. Mesmo entre os católicos, segundo inquéritos, a ignorância é total.

Pois é o dia de Assunção de Maria (e não da Maria da Assunção), em que, segundo consta, a Virgem foi levada para o Céu directamente, como se dizia no jogo do Monopólio, "sem passar pela partida e sem recolher o prémio", corpo e alma por inteiro, sem sputnik mas desafiando a lei da gravidade.

O que é mais curioso é que este dogma, infalível e certeiro, foi estabelecido em... 1950! É, há apenas 60 anos, pelo  Papa Pio XII. Dá jeito o feriado, mas convenhamos que o pretexto é muito duvidoso.

sábado, 14 de agosto de 2010

o forno da Brites

14 de Agosto, dia da Batalha de Aljubarrota. E Brites de Almeida, ao que consta, nascida em Faro mas padeira em Aljubarrota, terá despachado sete castelhanos que fugiam, depois da vitória lusa. Estando o povo na rua, os castelhanos pensaram que se poderiam acoitar na padaria, dado que era uma mulher que aí mandava. Cobardes (reza a História, pelo menos a que fantasiamos).

Mas saiíu-lhes a sorte grande: Brites voltou e percebeu que tinha os foragidos dentro do seu local de trabalho. À falta de Sindicato, resolveu o problema (consta): como eles estavam dentro do forno, aí vai pazada e o forno aceso.

Ficou para a História, de facto, na terra onde viveu e num excelente restaurante em Lisboa que tem o seu nome (O Forno da Brites). E como não havia, na altura, o direito ao contraditório, nem a TVio nem a SIC foram ouvir os terríveis castelhanos (nem, felizmente, o PGR, o Dr,. marinho Pinto ou o sindicato dos magistrados), pelo que a lenda se perpetuou. Ganhámos por sete a zero, hat-trick da Brites. O resto é conversa!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ases pelos ares

crédito imagem: canadianangloclub.ca

Há 70 anos começava a Batalha de Inglaterra, com o ataque da Luftwaffe aos céus ingleses. Foram os alemães que deram o nome a esta acção, não os Aliados, mas adoptaram-no do discurso de Churchill no Parlamento, dizendo que depois da Batalha de França começaria a de Inglaterra. O Velho Leão e o povo britânico estava lá, para bem da Democracia e da Liberdade.

Os confrontos entraram para a História como a maior batalha aérea de todos os tempos. Apesar da Força Aérea alemã ter estado perto da vitória, acabaou por perder, o que comprometeu a estratégia de invasão marítima da Grã-Bretanha.

Portugal esteve representado nessa batalha... quer dizer..., através da banda desenhada do Major Jaime Eduardo de Cook e Alvega, o "luso-britânico" que dizia "arghh! Morre, cão!", enquanto mandava, do seu Spitfire (figura acima), os Messerschmitt alemães pelos ares.
 
Boas recordações (da leitura juvenil, não da Guerra!).

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

bip-bip-bip


Faz hoje 50 anos que foi lançado no espaço o primeiro satélite de comunicações - o ECHO 1, fabricado pela Schjeldahl Company.

Muito incipiente, apenas reflectia as ondas electromagnéticas, não as transmitindo. Durou 8 anos.

Incrível como hoje nem nos damos conta que tanta e tanta informação é transmitida por satélite, incluindo rádio, televisão e inernet.

50 anos. Tão pouco, e contudo tanto. O ser humano, quando se esforça, é mesmo bom!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

God save the King (and his daughter)

Um dia, estava eu em Oxford a lanchar no meu café favorito, o Browns, quando entraram vários homens, discretos mas não discretos, se me faço entender, que ocuparam várias mesas, dois numa, um noutra...

Daí a momentos, entrou um homem e uma rapariga. Árabes. ele era muito parecido com o rei da Jordânia, empossado num 11 de Agosto de 1952. Ela era bonita e parecia ser uma estudante.

E eram: ele, o Rei, ela a filha do rei. Ali estiveram, na mesa contígua à minha, saboreando um cream tea e conversando, como qualquer pai e qualquer filha fariam, quando o primeiro visita a segunda no local onde estuda.

Eu, a ver. Os seguranças a observar, discretos mas não discretos. Os empregados do Brown´s, impávidos, a servirem o chá com scones, doce e natas.

Só tive pena de não ter guts para meter conversa, mas provavelmente algum daqueles seguranças, discretos mas não discretos, me agarrariam antes mesmo de dizer "Hello!".

terça-feira, 10 de agosto de 2010

o Vasa



Vi-o em 1975, decrépito, com limos e algas, e cheiro a mar, no estaleiro onde foi estudado e reconstruído. Vi-o em 2009, outra vez, integrado num museu de grande categoria.

Refiro-me ao Vasa, um navio de guerra sueco, acabado de construir em 1628, e que pela ganância e pressão dos políticos acabou por se fazer ao mar antes de tempo, com erros de última hora e falta de balastro, que o fizeram afundar perante a multidão que o ovacionava, a 10 de Agosto de 1628.

Em 1950 foi localizado e trazido para o Wasavarvet (onde o vi pela primeira vez) em 1961. Em 1987 considerou-se recuperado, num trabalho exímio de centenas de técnicos e voluntários, e no ano passado teve mais de 25 milhões de visitantes (entre os quais este vosso humilde escriba).

Quando trazido para a superfície, foram encontrados 15 esqueletos, além de um conjunto de utensílios, canhões, velas, artefactos e muitas outras memórias.

Se forem a Estocolmo, não percam. Perfeito, como os suecos sabem fazer.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A minha Pátria é a Língua Portuguesa

No metro de Lisboa, tive a oportunidade de observar um grupo de brasileiros e brasileiras que entraram e se sentaram - sete ou oito. Cada qual de seu tamanho e cor. Cada qual com a sua fisionomia. Pretos, mulatos, brancos loiros, brancos morenos, índios.

O que pode unir um país de tamanha diversidade e com 8,5 milhões de quilómetros quadrados  (nós temos 92 mil) e perto de 200 milhões de habitantes (vinte vezes Portugal)?

Apenas uma única coisa: a Língua Portuguesa, falada por todos os brasileiros. Ah, Pessoa!

sábado, 7 de agosto de 2010

perplexidade

Ao viajar de metro, reparei que estava muita gente na paragem, à espera do combóio, e quando se abriram as portas, sairam e entraram pessoas. A minha atenção foi, no entanto, para as que, tendo chegado antes, algumas mesmo antes de mim, continuaram na estação, não entrando para o metro (que até tinha lugares sentados).

Desde pessoas sós a grupos... o que teriam ficado a fazer e porquê se não entraram no combóio. Não consegui descortinar nenhuma resposta para a minha pergunta...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

exageros

Crédito Imagem: Barnabu.com

O Google Earth é uma ferramenta de cuja importância e interesse provavelmente ainda não nos apercebemos. Há uns meses, foi adicionada uma funcionalidade que permite ver as ruas das cidades, com alta definição e muito pormenor, numa visão de 360º - ainda há dias visitei Paris e fiquei encantado.

Pessoalmente, delicio-me com as imagens e, pelo que tenho visto (designadamente da rua e do bairro onde moro) nunca vi nada de "escandaloso" nem pormenores macabros.

Pois agora, um grupo de pessoas decidiu processar "o Estado português" e a Google por surgirem estas imagens, que "devassam a sua vida privada". Por amor de deus! onde é que se chegou? Aposto que o "processo" visa obter alguns euritos, somados à actividade dos advogados. Defendo o direito à intimidade e à privacidade, mas se deixam de poder aparecer imagens de um espectáculo de futebol, de uma praia ou de uma rua, então creio que o que estará ameaçado será muito mais grave do que umas figuras ao fundo que ninguém reconhece, a não ser eventualmente os próprios. E quanto a "descobrir" coisas das pessoas, como "então estavas naquela rua ao lado daquela pessoa", francamente, há meios bastante mais sofisticados e mais eficientes...

Viva o Google Earth!


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Medicinas Complementares

Hoje faz anos o meu médico de Medicina Tradicional Chinesa. Chamo-lhe médico porque o é. Formou-se na Faculdade de MTC, em Lisboa, e tem tanto direito ao título como eu... ah, em Portugal, não.

A chamada Medicina Ocidental (?!) tratou de ocupar todo o espaço de diagnóstico e terapêutica, o que já seria errado, mas que o ainda é mais quando enveredou pelo tecnicismo e pela parte essencialmente curativa, orgânica, sem entender a prevenção, a pessoa e o ecossistema.

No nosso país, práticas como a MTC, osteopatia, acupunctura, reiki, entre muitas outras, são marginalizadas. O mais curioso é que a "legalização" destas práticas no sentido de as integrar no sistema, designadamente no Sistema Nacional de Saúde e no SNS, tem de passar por pareceres da Ordem dos Médicos, a última das interessadas em abrir mão de uma prerrogativa que adquiriu: a de ser a representante da "única" Medicina na face da terra. Pelo menos da terra portuguesa.

Acresce que mais de metade dos utentes do SNS já frequentaram ou frequentam as chamadas "medicinas alternativas" (que prefiro apelidar de "Medicinas Complementares"), pelo que continuar a fingir que "não se passa nada" é tapar o sol com a peneira. E o pior é que, na ausência de regulamentação, co-existem e convivem profissionais de primeira e arautos da charlatonice.

Chegou a altura de o Ministério da Saúde definir, de uma vez por todas, o lugar (imprescindível) destas práticas médicas, milenares e com comprovação científica. Duvido no entanto que o faça - seria enfrentar a Ordem dos Médicos e suspeito não haver coragem para tal. E por maioria de razão, aposto que, nas próximas eleições para a Ordem (este ano), nenhum dos candidatos (já há três) fará qualquer proposta nesse sentido. Pois!

Parabéns, Carlos! E obrigado por me ir resolvendo os problemas que a "Medicina Ocidental" não consegue resolver.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

malandrices comerciais

Segundo a Comissão Nacional para a Prevenção do Tabagismo espanhola, os fabricantes de cigarros usam na produção de cigarros 400 a 600 novas substâncias, cujo efeito "prende ainda mais os consumidores". Ou seja, hoje o tabaco vicia mais do que há quatro décadas.

El Pais on-line
É sempre bom saber... para que cada vez menos pessoas se deixem apanhar por este truque (muito) sujo.


Crédito imagem: Temoquimica.org

Wittgenstein



Motivado por um filme em que muitas vezes o mencionavam, interessei-me por saber mais sobre Ludwig Wittgenstein, um filósofo que descobri ser incontornável, no século XX. O mais curioso é que só publicou um livro, em vida, o Tratado Lógico-Filosófico, e ainda por cima com umas escassas dezenas de páginas.

Se os homens não se medem aos palmos, o impacte dos filósofos não se mede em caracteres.O Tratado parece querer acabar com a ética, a filosofia e a religião, considerando-as desprovidas de sentido. Mas não. Tudo permanece, só que debaixo de outras coisas: a matemática, a linguagem e a matemática da linguagem. Sem elas, nada existe. Com elas, tudo é possível. A linguagem, falada, escrita, gestual, simbólica, adivinhada é a essência, o âmago.

Ludwig Wittgenstein nasceu em 1889, em Viena, filho de um dos homens então mais ricos da Europa. Em 1906 entra para a Techinsche Hochschule de Berlim. Dois anos depois ingressa na Universidade de Manchester, com o objectivo de especializar-se em aeronáutica, tendo desenhado um motor a reacção. Não tarda a abandonar os problemas da técnica, para se dedicar à questão dos fundamentos da matemática. Entre 1913 e 1914 vive na Noruega dedicado-se ao estudo da lógica.

Na I Guerra alista-se no exército austro-húngaro e combate nas frentes russa e italiana. É feito prisioneiro e redige o Tratado Lógico-Filosófico (Tractatus Logico-Philosophicus), publicado em 1921. Diz-se que, nas trincheiras, enquanto os outros disparavam ou se defendiam, ele escrevia.

A seguir à Guerra, vende tudo o que tinha e torna-se professor primário numa aldeia, e depois jardineiro e arquitecto. Em 1929 regressa à Universidade de Cambridge, fazendo o doutoramento. Na II Guerra Mundial está com os aliados e trabalhou no Guy`s Hospital, em Londres. Dois anos depois da Guerra, demitiu-se da Universidade, e alternou a sua vida entre a Irlanda, Oxford e Cambridge. Morreu em 1951, vitima de cancro, com 62 anos.

As grandes linhas de pensamento de Wittgenstein são:

1. A função da linguagem é descrever a realidade, porque em rigor nada pode ser dado fora da linguagem.

2. A Lógica determina a estrutura da linguagem e é um espelho cuja imagem é o mundo.

3. Existe uma isomorfismo entre a linguagem e realidade. Estudando os elementos que compõem a linguagem lógica perfeita sabemos quais são aqueles que compõem a realidade e vice-versa. A linguagem é o espelho do mundo, o que se reflecte na sua natureza, e a realidade só pode ser compreendida através da linguagem e o conhecimento consiste na análise da linguagem.


4. A linguagem com sentido não é mais do que um conjunto de proposições que descrevem ou figuram algum estado de coisas possível.

5. A linguagem é a totalidade das proposições. Uma proposição é a linguagem expressa em sons, constitui uma figura da realidade, um modelo de de uma situação possível.

6. Pensamento e linguagem são uma e a mesma coisa.

7. O pensamento é constituído de proposições complexas, que ligam entre si nomes, signos simples dos objectos.

8. Limites da Linguagem: dizer e mostrar.

9. As expressões que não descrevem nenhum estado de coisas possível não têm sentido, pois não figuram nada.

10. A filosofia nada pode dizer acerca do mundo, pois não é uma ciência nem uma forma de conhecimento.

11. A filosofia é uma actividade de análise da linguagem, que nos pode ajudar a distinguir o que se pode ou não dizer. A grande tarefa da filosofia consiste em clarificar o pensamento e nada mais.

Podemos debater e discutir tudo isto, mas o que é certo é que usaremos palavras, ditas ou escritas (ou não-ditas e não-escritas) na argumentação...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mário Bettencourt Resendes

Ficam mais pobres a cultura, a política e o jornalismo, mas também o rigor, a calma, a intervenção séria e desapaixonada, apesar de firme.

Não me esquecerei das suas palavras e dos momentos de conversa simpática quando da apresentação do livro "Ilhas Atlânticas", na Casa dos Açores.