terça-feira, 2 de novembro de 2010

dia de Finados

Crédito imagem: coisa util.com


De tudo, ao meu amor serei atento
antes e com tal zelo, e sempre e tanto
que mesmo em face do maior encanto
dele se encante mais meu pensamento.

Quero vive-lo em cada vão momento
e em seu louvor hei de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
ao seu pesar ou ao seu contentamento.

E assim quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angustia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes - Soneto do amor eterno


Segundo o Diário de Notícias de hoje, há por dia 72 divórcios em Portugal. Sem contar com todas as separações que, por não ter havido casamento, não entram nas estatísticas. Não sei o que um número assim, desenquadrado do resto, significa, mas sei que, segundo o INE, 40% dos casamentos terminam em divórcios. Será bom? Será mau? Depende, de cada caso, de cada casal, de cada casamento.

Muitas explicações - algumas delas catastrofistas - podem ser adiantadas. Não me vou (agora) debruçar sobre elas, mas quanto a mim as relações (conjugais, familiares, comerciais, de amizade, políticas, religiosas, etc) devem durar "nem mais nem menos tempo do que devem durar". Pleonasmo? Redundância? Lapalissada? Porventura. Mas acredito que a transparência relacional corresponde a um aperfeiçoamento da Humanidade e a um salto qualitativo na dignidade e na liberdade individuais e colectivas. O amor é eterno enquanto dura. Se durar para sempre, óptimo. Se não durar, óptimo na mesma. Com os lutos necessários e indispensáveis. Mas com a certeza de que os amanhãs são sempre oportunidades, de que o nosso percurso de vida somos (também) nós que o fazemos... e que o nosso melhor amigo é aquele que nos olha quando olhamos para o espelho.

O amor é eterno enquanto dura, escreveu Vinicius, mas para mim, prestando homenagem à genialidade do poeta, o que importa é que, também, o amor seja terno enquanto dura.

3 comentários:

miguel disse...

Que soneto lindo. Que texto útil.

A minha opinião - de acordo mas, por variadíssimas razões, devemos dar sempre mais uma oportunidade ao amor, desde que haja interesse em manter o que resta da chama viva ou, se extinta, reacendê-la. Por nós, por eles, pela sociedade.

Virginia disse...

Concordo com o Miguel.

Custa-me ver que as pessoas desistem muito depressa das suas relações, saltando para outras ao mas pequeno ensejo.

Nothing lasts forever....that's true....

Mário disse...

A fragilidade do amor e o seu carácter efémero podem ser, porventura, as suas maiores forças. Mas nem sempre há a chama, a vontade, a química ou a arte de fazer da fraqueza, garra; do risco, resiliência; da queda, um voo súbito aos píncaros da vida. E, nesse caso, mais vale saber para do que lentamente morrer.