sexta-feira, 31 de julho de 2009

um privilégio...



Aos 75 anos, arrasou o Atlântico. Cantou tudo o que haveria para cantar (só faltou o Chelsea Hotel). Um senhor. Com a equipa, com o público, consigo próprio.

Raramente me lembro de um concerto tão emotivo e tão bom. Arrepiante. Mais um espaço enorme de reflexão.

"Be nice. Sincerely. L Cohen"


Parabéns também aos acompanhantes, todos eles verdadeiros solistas. Um luxo.

Fotos: MC

Dia Mundial do Orgasmo


Se o há da Avó, do Cão, do Piriquito e dos Marinheiros que Sucumbiram nas Guerras Púnicas (o dia, entenda-se), porque não este, que tem a ver com algo verdadeiramente mundial?

Foram as sex-shops inglesas quem desencadeou este movimento, há oito anos.

Do grego "orgasmós", que significa movimento impetuoso dos humores, muito se discute sobre o seu verdadeiro significado, se há vários, diferentes e diversos. Cada um sabe de si e dos seus, mas citando o meu amigo Júlio Machado Vaz, para melhor entender esta "problemática": "o verdadeiro órgão sexual dos humanos é o que está entre as orelhas". Subscrevo!

Fotografia: Hubble

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Divagações de férias - 15 - final



E no último dia de férias, resolvi apontar a minha máquina para os Céus e disparar, com o máximo do zoom. E depois... surpreendi-me, com o que consegui - ou o que a máquina conseguiu.

Senti-me um quase Armstrong, a caminho do nosso satélite. Com os meus filhos mais novos "a bordo", vimos e revimos a Lua, e expliquei-lhes onde ficava o Mar da Tranquilidade, onde os homens tinham alunado há 40 anos.

Perguntaram-me se já havia dinossauros (ou não estejamos na Lourinhã, onde tudo gira à volta desses famosos animais) e, depois, se eu tinha visto na televisão, ao que um respondeu (ingenuamente... não cinicamente...): "achas que a televisão é tão velha assim?".


E lembrei-me também de um poema antigo, quase com 40 anos, ele também. Aqui fica, para quem não esteja já farto deste versejar rural...

Que fazer
com a réstia de luar
que se acolhe no mar
no regaço da noite?

Transportá-la
nas mãos em concha?
Conservá-la
numa redoma?

Ou deixá-la
simplesmente
a cintilar
com o desejo ardente
de ser eu
o mar

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Divagações de férias - 14


A propósito da Semana Internacional de Piano de Óbidos, que já vai na 14ª edição, e da qual sou "crónico". Ontem, Paul Badura-Skoda, interpretando Haydn e Beethoven; hoje, Vitalis Margoulis, com Grieg e Chopin. E a vila, sempre acolhedora e formidável, relembrando-me do tempo em que lá trabalhava, como médico de família.

(Foto: MC - A Várzea da Rainha, em Óbidos, semelhante em beleza à Várzea de Colares)



Fado para Bach



Se de Goldberg, apenas as de Gould
Porque as mais sinceras e singelas
O sofrimento divertindo-se com o ardor
Em cada nota a nossa vida sendo elas.

Um Collares, bem frio e seco como deve
À medida do que é nobre e do que é bom
Ao momento que é só sonho e semibreve
Há que dar, de Bach e Gould, o semitom.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Um Viva ao Amor!


Aqui fica, segundo a sugestão do Huck, um dos poemas de Nuno Júdice, tanto mais porque acho que andamos provavelmente todos a dar pouca importância e pouco tempo ao Amor. Na vida social, na vida "pragmática", na vida familiar, na vida individual. E, contudo, é a razão das razões, pela qual se vive e se morre. "Cavalgando sempre no corcel da morte" (Petrarca), como o de Pedro e de Inês? Aqui fica este pungente poema, lindo de dor e de esperança. E de ternura. E de emoção.



Em quem pensar, agora, senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite.

É verdade que te podia dizer:
"Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?"

Mas ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.

Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo,
ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,

mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.

Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar:
com a surpresa dos teus cabelos,
e o teu rosto de água fresca que eu bebo,
com esta sede que não passa.

Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
como gostas de mim,
até ao fundo do mundo que me deste.




Fotos: MC

Divagações de férias - 13

Pedro


Pedro
Quiseste Inês
Tiveste Inês.
Num amor doce e profundo
Que rasga o mundo
Pela intensidade
Num amor forte e selvagem
Que galga a margem
Pela liberdade



Pedro
Amaste Inês
Desde a primeira vez.

Sentimos as peles nuas
Enroscadas em doces luas
Presentes
E quentes
Nas pedras cruas
De Alcobaça

Onde o sofrimento revive a dor
Onde a esperança retoma a cor
Onde o meu coração passa
E chora, e chora, e chora

Como quem namora
Em flores de sangue
De amor exangue
Em Alcobaça

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Divagações de férias - 12



Continuo na Grécia. Na Grécia de Sophia. Na Grécia de Sapho, de Ulisses, de Jasão. A Utopia está próxima - um dia ou dois e cairá aqui, depois de dois anos em "banho-de-maria"... Na Grécia do Cabo Sounion. Na Grécia dos mitos e dos deuses. Na Grécia que me atrai, porquanto tantas razões lógicas me poderiam fazer detestá-la...


Thalassos

Poseidon, deus das ondas e do mar
Que vives nas marés e nas nascentes
Usa o teu magnânimo tridente
E faz-me transformar
Num simples peixe
Para que nada do que sinto e do que amo
Se vá, com o vento norte, e enfim me deixe.

Do amor e da paixão
Que aqui proclamo
Ao sol que me acolhe, doce e quente
Da voz e da canção
De quem eu amo
À Atlântida, teu nobre continente.
Que o vento cante, ao som do teu arpão
E que encha de esperança a minha flauta…

Como Tritão salvou Jasão
E os argonautas.

domingo, 26 de julho de 2009

Divagações de férias - 11



Arcádia

Arcádia, país imaginário
De poetas, sonhadores
Idealistas
Arcádia da paz e das mil cores
De um romântico pardal num campanário.

Arcádia dos simples e artistas
Do passado guardadores
Do calendário
Arcádia, paraíso de conquistas
Onde não há nem senhores
Nem mandatários.

sábado, 25 de julho de 2009

Divagações de férias - 10



Fado da Voz do Mar - epílogo

(ver o início aqui)



Ainda ouves o mar
no fundo do búzio
ou o mar já secou?

Ainda observas as estrelas
no cimo do monte
ou o céu já murchou?

Ainda sabes o canto
do vento na lezíria
ou o rio calou?

Ainda sentes o beijo
na beira do Tejo
ou já tudo acabou?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Divagações de férias - 9



Maratona
(para o Miguel Leal)

Porquê pedir a morte a Fidípides
Quando veio divulgar boas notícias?
Afinal, foi Milcíades quem o mandou
Será ele o culpado da malícia.

Quarenta e dois quilómetros percorreu
Fidípedes, com o afã dos mensageiros
As boas novas ainda o escravo deu
Antes de cair fulminado no terreiro.

Agónico, enrolado em pó da terra
Pedindo a Zeus favores de outras delícias
Fidípedes conheceu o sabor da guerra:
Morrer só, sem direito a uma carícia.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Divagações de férias - 8



Peloponeso 2007


Porquê a raiva, e o castigo de Zeus?
Porquê queimar da Grécia o seu melhor?
Não devolveu, Prometeu, o fogo aos céus?
Não é Zeus, do Olimpo, seu senhor?

Porquê a raiva, em Agosto, incontida?
Porquê as chamas, de Hefesto, um oceano?
Não basta a seiva, será preciso a vida,
Para resgatar da morte o ser humano?

quarta-feira, 22 de julho de 2009



Esta é a Afrodite/Vénus de Andy Warhol.

Divagações de férias - 7



Ir na segunda-feira com os meus rapazes mais novos a um torneio e a uma feira medieval, na lindíssima vila de Óbidos...



... e ontem ir com os quatro rapazes assistir à festa de apresentação do Glorioso (equipa de quatro de cinco de nós), juntamente com 57.000 pessoas (pena o árbitro ter desejado estragar a festa)...

... são sinais de que a vida pode ter momentos bonitos, ainda mais se partilhados.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Divagações de férias - 7




Canto a Afrodite

Eu canto para ti, ó Afrodite,
Fruto do sangue que enlaça o mar a Urano,
Talvez por isso entendas que um humano
Sinta de ti uma ânsia e um convite

Eu canto para ti, bela Afrodite
Mãe de Eros, e de Adónis o regaço
Para me acolheres, nos teus sagrados braços
Se o perdão do Olimpo mo permite

Eu canto para ti, bela Afrodite
Que és nascida da espuma que há no mar
Deixa-me ver-te reflectida num luar
Onde apenas o amor seja o limite.



Escultura: Denise Justice - Aphrodite

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Divagações de férias - 6



Descalço ou calçado. Somos eu e as minhas pegadas. Os restos de mim, a impressão digital que atestará a minha presença.

Hello, Houston. O Águia alunou. Um pequeno passo para o Homem, mas um passo gigantesco para a Humanidade” .

Julho de 1969. Julho de 2009.

Afinal, qualquer areia de fim de tarde pode ser a Lua e, por conseguinte, a nossa conquista pessoal...

PS: foi um dos dias mais emocionantes da minha vida, a par com o 25 de Abril (suplantado pelo nascimento dos meus filhos), esperando e aprendendo a esperar, ao som da voz de Eurico de Figueiredo e José Mensurado. Tinha 13 anos e sabia "tudo" sobre os programas espaciais americano e russo.

Nesse mesmo dia, fazia-se em Coimbra o primeiro transplante renal em Portugal. Grandes feitos, grandes avanços, a que posso dizer ter a honra e o privilégio de ter vivido.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Divagações de férias - 5



Fado do Ladrão

No outro dia, quando estavas distraída
roubei-te um beijo
sorrateiro e muito breve
Roubei-te assim, sem dares por isso,
a tua vida...
Ou a parte dela
que me faz sentir mais leve.

No outro dia, quando estavas a dormir
roubei-te um sonho
engraçado e com ternura
Roubei-te assim, sem acordares,
o teu sentir...
Ou a parte dele
que me faz sentir loucura.

REFRÃO
Ai meu Amor, não te aflijas
nem te zangues
por te ter querido
desejado e assim tirado
o que é em ti mais que um segredo
de uma igreja
Um mistério
p´ra quem te ama
e te deseja


No outro dia, quando estavas distraída
roubei-te um beijo
sorrateiro e muito breve
Roubei-te assim, sem dares por isso,
a tua vida...
Ou a parte dela
que me faz sentir mais leve.

No outro dia, quando estavas acordada
roubei-te a alma
com carinho e com agrado
Roubei-te assim, sem tu saberes,
o teu amor...
Ou a parte dele
que me faz sentir amado.


Quadro: Amants - René Magritte

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Divagações de férias - 4



Se

Se no gesto despedida
Levares o mar e o vento
Que me importa suspirar
Se terei que lastimar
A solidão e o lamento


Será forma de argumento
Para esquecer uma vida?


Se no gesto de sumires
Levares a boca e o beijo
Que me importa continuar
Se terei que respirar
O ar carente de Tejo


Se vai contigo o desejo
Porquê então tu partires?

Se no gesto do adeus
Levares o sol e a neve
Que me importa protestar
Se terei que viver leve
Como alguém que nada teve


Não sei bem como se escreve
A face negra de Deus


Quadro: Turner - Peace Burial at Sea

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Divagações de férias - 3


Tarde de Verão


Tarde de Verão

O sol aquece a terra
A leve brisa morna
Afaga a seara
E os insectos
Esvoaçam
E zumbem
À volta dos frutos

Tarde de Verão

Qualquer som
Distante
Nos embala.
Uma criança que ri
Um cão que ladra
Um ribeiro que corre.
E a aragem
Terna e doce
Teima
Em beijar-nos
Ao de leve

Tarde de Verão

O corpo espreguiça-se
E repousa.
Os sentidos descansam
Na paisagem.
O Bem e o Mal
Fizeram tréguas


A vida corre lenta
Leve e longa.
Mais lenta do que os anos
Que passam
Sem se verem.
Mais leve do que o peso
Do desígnio
Que nos esgota.
Mais longa afinal
Do que a duração

De uma simples
terna e calma
Tarde de Verão


Quadro: Van Gogh - La Siesta

terça-feira, 14 de julho de 2009

Para galo de muita gente...

Parece que António Costa e Helena Roseta estão no bom caminho... e com o apoio já dado por Sá Fernandes, as recusas ácidas e birrentas do PCP e do BE vão falhar e acabar por não dar a Câmara da minha cidade a Santana Lopes.

Morreu o "Velho"

Hermínio da Palma Inácio nasceu em Ferragudo, em 1922, e fez da sua vida uma bandeira de liberdade, resistência, coragem e sagacidade.

Considerado "perigoso" pela polícia política da ditadura, embora não se lhe conheça um único crime de sangue ou sequer uma tentativa, foi preso e torturado pela PIDE por diversas vezes, de formas brutais, estando incomunicável durante largos meses, sem qualquer julgamento ou acusação.

Participou numa tentativa de golpe de Estado (em 1947, com o general Marques Godinho), protagonizou o primeiro desvio político de um avião (tomando um da TAP, que ia para Casablanca, a 10 de Novembro de 1961, e lançando panfletos sobre Lisboa), participou no assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz e ainda planeou tomar a Covilhã e torná-la o primeiro ponto da resistência a Salazar.

O que o moveu foi sempre a liberdade, e talvez por isso nunca esteve em nenhum partido, nem tivesse uma ideologia marcada. Para uns, não passava de um "ladrão", para outros, o seu percurso de vida foi bastante diferente, tendo lutado exactamente contra os "ladrões" de dinheiro, de almas e da liberdade.

Conheci-o num comício/concerto do PS, em 1978, onde actuou Herbert Pagani, mas só há cerca de cinco anos é que tive ocasião de conversar com ele com mais profundidade, num almoço da Fundação Ronald McDonald para a construção de uma casa para crianças com doenças crónicas e suas famílias, na Estefânia, em que estava como representante da Câmara Municipal de Lisboa.

Diz-se dele que era um "revolucionário ingénuo". Morreu agora, mas vale a pena relembrar este homem e contar a sua história de uma forma factual, às novas gerações, para que saibam que há quem nunca se vergue, mesmo quando não tenha nenhum objectivo político, ideológico ou económico, mas apenas a defesa exclusiva da Liberdade.

Divagações de férias - 2


Tanathos

Quando chegar à linha do horizonte
Que é o fim do cálice que bebo
Se me levares à barca de Caronte
Para me juntar a Nix e a Erebo,
Pede a Hades que tenha piedade
E que aos Campos Elísios me conduza
Pede a Cérbero generosidade
E livra a alma, de ser sua reclusa.
Marcado pela morte e pelo ferrete
E com a capa de Nix como envolta
Esperarei a eternidade junto ao Lete
Por qualquer corpo, que me leve a ti de volta.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Divagações de férias - 1


Fado da voz do mar – I

Já que não te posso dar
O barulho do mar
Por que é imenso
E forte
E retumbante

Já que não te posso ofertar
O sentido do ar
Porque é intenso
É norte
E caminhante

Já que não te posso enviar
A luz do luar
Porque é incenso
É morte
E sufocante

Aqui vai o que restou
Na espuma dos dias
O mar que ficou
Depois da ventania:
Eu próprio guardado
Num truque de magia
E para sempre selado
Na maresia.

sábado, 11 de julho de 2009

Férias!


Está sol e está calor. O Verão, em pleno. São mais os que vão de férias do que os que voltam delas. Pertenço ao primeiro grupo.

Mas esta imagem é a que melhor expressa o que me apetece nestas férias: descanso, reflexão, diferente, paz, afecto, despreocupação, criar, escrever, ler, ouvir música, pintar, jardinar, cozinhar, fazer puzzles... e sobretudo brincar com os meus filhos, e poder sorrir para a Catarina com a garantia de compreensão, de cumplicidade, e da retribuição do sorriso. Sem palavras. Umas férias quase sem palavras. Ditas, pelo menos.


PS. mas por aqui andarei, já que me sinto comprometido convosco (e "ligeiramente" viciado em colocar Entradas).

sexta-feira, 10 de julho de 2009

uma história do outro mundo...

Lembram-se do Piano Man? Já passaram quatro anos, mas vale a pena recordar este caso, pelo bizarro e pelo inédito.

Um dia, numa praia do sul de Inglaterra, apareceu um homem de mais de um metro e noventa, de fato e gravata, com cerca de 25 anos, completamente encharcado e com um rolo de partituras no bolso. Não era capaz de falar.

Levado para um hospital psiquiátrico em Dartford, pediu uma folha de papel mas, em vez do nome ou de qualquer outra indicação, desenhou um piano.

Os médicos pensaram que desejava tocar e conduziram-no à capela do hospital, onde havia um instrumento. Dizem os presentes, que o Piano Man "atacou" Tschaikowski, Chopin, Beatles e outros autores contemporâneos, improvisou, e assim esteve durante quatro horas. Depois remeteu-se ao silêncio durante quatro meses.

Começou então a procura da resposta: "quem é ele?" - Seria um pianista austríaco gay? Um mimo polaco que vivia em Roma? Um francês que se chamaria Steven Villa Masson? Parece que um grande concertista tinha desaparecido, no Canadá, e era tido como tendo ataques de amnésia. Mas também havia o caso de Klaudius Kryšpín, um músico checo de uma banda chamada Pražský výběr.

Um dia, o Piano Man apontou vagamente num mapa a cidade de Oslo. Logo surgiram várias vozes de reconhecimento - era um pianista norueguês, dado como desaparecido. Mais, um barco norueguês tinha passado perto da praia onde o Piano Man tinha sido encontrado. Só que o Piano Man desenhou o que poderia ser a bandeira da Suécia: ah! provavelmente norueguês a viver no país ao lado.

Quatro meses depois, quebrou-se o segredo: foi o próprio Piano Man, que saíu do mutismo e esclareceu o povo: era alemão, gay (depois o pai desmentiu), e tinha estado a trabalhar em Paris, num hospital psiquiátrico. O pai tinha uma quinta, na Alemanha, e tinha duas irmãs.

Um dia, tomou o combóio Eurostar para Londres e, por ter perdido o emprego, pensou em suicidar-se. Foi quando estava a decidir se o faria que a polícia interveio e o apanhou. E foi então que Andreas Grassl - porque é esse o seu verdadeiro nome -, decidiu forjar a sua história. As roupas não tinham etiquetas - foram cortadas pelo Piano Man, mas interpretadas pela presidente da Sociedade Britânica de Autismo como um sinal quase patognomónico da doença.

As opiniões dividem-se: o Piano Man teria estado sempre a improvisar, ao calhas, sem qualquer sentido de composição musical. Outros garantem ter ouvido excelentes interpretações de autores clássicos e modernos.

Quatro meses - tempo que causou custos ao Serviço Nacional de Saúde e que alguns pretendem ver ressarcidos - e lá segue Grassl, de 20 anos, para a Alemanha, mais concretamente para a Baviera. O pai afirmou que o filho tocava muito bem piano, embora não fosse um profissional, e o advogado referiu "alterações psicóticas" para fazer recuar a tese do embuste. O que é certo é que fazia críticas sobre música pop num jornal local, e estava horas na net.

Passados dois anos foi para a Suiça e, ao que consta, por lá anda, a estudar literatura Francesa. Um dia destes será o "L´Homme du Piano"...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

as ratazanas roeram certos cérebros...

Para preservar um rato, porque se trata apenas de um rato, mesmo que dê pelo nome de Microtus cabrerae e tenha pêlo comprido castanho-amarelado, os contribuintes portugueses são obrigados a gastar 6,9 milhões de euros para fazer três viadutos sobre as "colónias dos roedores", afinal, agrupamentos de meros ratos.

Segundo um reputado Professor, "Portugal e Espanha têm a obrigação de preservar esta espécie!".

Há outras espécies, "velhus senilis em asylus", "sin-abricus", "mater juvenilis", "pobris miserabilis", "infantilis deficientis"... que talvez merecessem mais atenção do que o "cabrão" do rato, digo, o "rato cabrerae"...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

hoje é dia de São Procópio

Procopius de Scythopolis, morto em 303 DC, era filho de Santa Teodósia. Nasceu na cidade de Jerusalém e faleceu em Systhopolis. Foi o primeiro dos mártires da Palestina e era, segundo os relatos, "um homem cheio da graça divina que desde sua adolescência devotou a castidade e a pratica das virtudes e da humildade... Vivia apenas com pão e água e somente comia a cada três dias".

Felizmente, nasceu em Portugal um bar, há décadas, que foi durante muitos anos um ex-libris da noite lisboeta. Frequentado por jornalistas, políticos, amantes, grupos de amigos ou solitários a afogar desgostos de amor, o bar de Alice Pinto Coelho foi uma marca na capital, e não consta que tivesse como objectivo a prática da castidade, das virtudes e da humildade; pelo contrário, era um hino à tertúlia e aos prazeres terrenos.

Tenho muitas, e muito boas, recordações do Procópio (não as vou relatar aqui, escusam de ter ideias), e já há alguns anos que não vou lá... tenho algum receio de me desiludir. O Juvenal já não está atrás do bar, e não sei se o gin, a cerveja ou as tostas mistas sabem ao mesmo. Diz-se que o tempo não passa pelas coisas, mas porventuras as coisas passam pelo tempo. Creio que o Procópio será uma delas.

terça-feira, 7 de julho de 2009

import/export - um princípio (ou fim) da economia

Nem nisto o ministro consegue ser original... deve ter ido ao concerto dos AC/DC...




Obrigado, Catarina, pela imagem.

como se pronuncia Belgais no Brasil? Béugáis?


Os meios de comunicação anunciaram que a espantosa pianista, ao que consta, ia optar pela nacionalidade brasileira. Surgiram depois alguns avisos "atenuantes" (não verdadeiramente desmentidos): a pianista só teria visto de permanência, a filha ignoraria...

Devo dizer que... quero lá saber! Acho Maria João Pires uma intérprete fabulosa. Mas se ela é portuguesa, brasileira ou ucraniana, confesso que me é indiferente. Acho ridícula a mania de viver das glórias nacionais como se isso representasse um engrandecimento das pessoas. Lembram-se do que se falou quando foi do caso da descendente de portugueses que coseu a bandeira que Neil Amstrong cravou na Lua, em 1969, ou mais recentemente o facto do presidente da Comissão Europeia ser tuga.

É que, se ficamos tão chocados por Maria João Pires querer ser brasileira, então deveríamos interditar a nacionalização de Nikias Skapinakis, Jorge Listopad, Deco ou de Francis Obikwelu. Ou não?

PS: gostava que me dissessem o que é que Belgais produziu, em termos reais, quanto gastou, quanto custou a formatura de cada aluno, que gestão foi feita... porque chamemo-nos Maria João Pires ou Joaquina das Osgas, tem de haver um escrutínio rigoroso das verbas públicas subsidiadas, e que não foram poucas, não senhor...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

momento crítico

Face ao que se vê aqui, é altura de Helena Roseta juntar forças com António Costa. Se a metodologia fosse a das autarquias espanholas, "no pasaría nada", mas como o presidente é o mais votado, mesmo que em minoria, o perigo é demasiado.

hoje de madrugada



Obrigado a todos!

utopia, o não-lugar da sapiência.

Foi num dia 6 de Julho, em 1935, que Thomas More, Grande Chanceler da Inglaterra, foi decapitado em Londres, por ordem de Henrique VIII.

Foi aluno em Oxford, tendo sido colega de Erasmo, e chegou a membro do Conselho Privado do Rei. Após a queda do cardeal Wolsey foi nomeado Grande Chanceler, mas como se manteve fiel a ROma e se recusou a assistir à coroação de Ana Bolena, foi condenado, primeiro a prisão perpétua, depois à pena de morte por crime de alta traição.

Thomas More era filho de um juiz, que tinha como objectivo, para os filhos dotá-los de conhecimentos e de vontade própria e livre, não distinguido entre filhas e filhos (o que, para a época, seria uma raridade): todos aprenderam latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia.

Considerado um exemplo de humanista, o nome de More está associado indelevelmente à sua principal obra, "Utopia", editada em Basileia por Erasmo. "Os utopianos abominam a guerra como uma coisa puramente animal e que o homem, no entanto, pratica mais frequentemente do que qualquer espécie de animal feroz. Contrariamente aos costumes de quase todas as nações, nada existe de tão vergonhoso na Utopia como procurar a glória nos campos de batalha.". Contudo, a República da Utopia cedo faz a guerra, para auxiliar outro país, e com esta desculpa torna-se ferozmente violenta. Curiosamente, alguns membros da Administração Bush tentaram citar partes da Utopia de More para justificar a invasão do Iraque. Foi a segunda morte de More, certamente.

Decapitado (depois de estarem previstas múltiplas atrocidades e tortura), a sua cabeça esteve exposta na ponte de Londres durante um mês. Foi canonizado em 1935. Em 2000, o Papa "nomeou-o" como padroeiro dos Estadistas e Políticos.

PS: consta que há uma segunda Utopia, só que escrita por Thomas Mann, pelo menos de acordo com o que afirmou o PR Cavaco Silva, que a citou como "o livro que estava a ler nas férias"... provavelmente ao som dos concertos de violino de Chopin Lopes...

sábado, 4 de julho de 2009

seis anos depois... será?

Ao reler algumas coisas antigas, encontrei esta Entrada, que foi publicada no Blógica da Batata, do qual o meu filho Pedro e eu éramos os Blogmasters.
O Pedro estava em Madrid, e resolvi escrever-lhe:

Para o Pedro, resistente em Madrid: não é que em Lisboa esteja um dia particularmente bonito, mas Lisboa é sempre Lisboa, como dizia o poeta, cantava o fadista e sublinhava Monsieur de La Palice. E sabe bem viver aqui, mesmo sabendo que amanhã começam oficialmente as obras do "Inferno das Amoreiras", com o túnel fechado ao trânsito por 15 meses e o que demais se adivinha.

A auto-estrada que vai de Seia à Torre, na Serra da Estrela, deve estar já seguramente programada, bem como o 3º Aeroporto Internacional de Lisboa - a avaliar pelos nomes que devem estar na calha para baptizar o próximo, seráo necessários vários - se já existe um "Sá Carneiro" e uma auto-fundação "Mário Soares", um auto-Estádio "Vieira de Carvalho" e, até, uma auto-Biblioteca "Marcello Rebelo de Sousa", coitados de todos os Guterres, Durões e outros que tais, sem sequer um chafariz que consagre o seu nome para a posteridade... E, estou certo, se conseguimos continuar a manter os critérios de convergência e deficits abaixo dos 3% (na DSM IV, da Classificação das Doencas da Saúde Mental, este pormenor deve entrar no capítulo das "neurosses obsessivas"...), que mais e mais projectos de betão, como as gengivas do anunciante de uma pasta dentrífica, se perfilam nos horizontes.

Quanto às pessoas, enfim, são apenas pessoas - o que valem elas, na sua passagem efémera por este mundo, comparativamente com o Futuro... "porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim"? Meu caro poeta, provavelmente a resposta é: porque são néscias ou ignorantes, porque não se mexem nem protestam, porque são más consumidoras, porque têm uma ideia da qualidade que é, ela própria, "abaixo de cão" e porque votam mal... "Batem leve, levemente", mas se calhar deviam dar com um bocadinho mais de força!


Não foi ontem. Foi há seis anos!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

será preciso a intervenção da Animal???

Não gosto de Manuel Pinho nem da sua queda para a chalaça fácil. E acho que um ministro, mesmo quando provocado ao limite, e sentindo-se injustiçado pelo que Bernardino Soares estava a dizer, deve resistir e comportar-se. Mais a mais, não estando em casa dele, mas sim no hemiciclo. E pregou uma rasteira ao PM.

Não se conseguiu conter e acabou por fazer aquele papelão, e assim saíu do Governo, depois de uma intervenção incisiva e clara de Sócrates. Um bocadinho diferente, note-se, da da Drª Manuela Ferreira Leite quando um dos seus deputados insultou outros, em voz bem alta, ou da do BE quando o Dr. Louçã se atirou a Paulo Portas acusando-o de não entender nada da vida por não ter crianças (a até puxou do retrato da sua "filhinha" de sete anos; o mesmo Louçã que defende a não-exposição de crianças na TV ou critica Carrilho por apresentar o bebé num vídeo...).

Vista e revista ad nauseum a imagem da malcriação do ministro, aqui fica uma coisa muito mais engraçada: um retrato do camarada Bernardino "Viva a Coreia do Norte" Soares, numa fotografia com 4 aninhos e já pegando em "armas de destruição maciça".

O PCP é a força mais reaccionária do espectro político português. Os partidos comunistas sempre o foram, por todo o mundo, e responsáveis pelas piores atrocidades, e por isso foi reduzidos a pó em tudo o que é mundo democrático, humanista e desenvolvido. Cá continuam "grandes", a mostrar o nosso sub-desenvolvimento. E Bernardino Soares, sempre na primeira linha, como um dos mais reaccionários entre os reaccionários, mesmo com aquela cara de bebé que come... Maizena???

quinta-feira, 2 de julho de 2009

eternamente... Sophia


Cinco anos de saudades, hoje, mas sempre presente.

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.


Sophia canta para nós.

Amanhã um novo dia


E entre o sol e o nevoeiro, a paz e a discórdia, o consenso e o conflito, o feio e o bonito, um novo átomo nascerá, um sonho será permitido, uma página aberta e despertos os sentidos.

Para que possamos cometer outros erros, que não os mesmos, porque essa é a maravilha e a marca indelével da imperfeição das pessoas e da condição humana, no percurso eterno do aperfeiçoamento, rumo ao infinito e à utopia.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

uma Estrela que se apaga...

Mais um clube que "vai para o galheiro". No mundo das ronaldices, alguns símbolos desaparecem, não por extinção natural, mas apenas por razões financeiras (e estamos a falar de "amendoíns").

Curioso, pensar que a Amadora é dos concelhos mais povoados, fortemente industrializado, onde abrem centros comerciais a granel, sendo um dos que têm maior percentagem de população infantil e juvenil, com uma igualmente enorme fatia de população de origem migrante, e depois não consegue manter um clube de futebol, quando o futebol é cada vez mais um desporto de massas.

Ou um desporto de ma$$as..., o que faz toda a diferença.

Ronaaaaaaaaaaaaaldo: é só duas ou três semanas do teu salário, chavalito.