segunda-feira, 29 de novembro de 2010

voto aos 16 - uma questão de justiça.


Crédito imagem: 4bp.blogspot

Antes dos 16 anos um jovem pode casar-se, ir para a prisão, comprar carro e tirar carta de motorizada. Ou ter filhos. Não pode contudo votar, pese embora ser o seu futuro, próximo e distante, que está em causa, bem como um OGE cuja grande fatia é a de serviços que lhe dizem directamente respeito, como os da Educação por exemplo.

Há muito que pediatras de todo o mundo, designadamente dos países nórdicos e dos EUA defendem o voto aos 15 ou 16 anos. Já o faço publicamente desde 1995.

Surge agora um projecto apoiado pelo BE e pela JSD. É de louvar. E espero que vingue, mesmo que os partidos se arrepiem de ver uam franja que não controlam poder contribuir para escolher os destinos do país. O argumento de que "os jovens não têm maturidade para votar" faz-me apenas pensar naquelas pessoas, bem maiores de idade, que aparecem na televisão e dizem que "Soares foi o último rei de Portugal", que "a culpa é toda desses malandros" ou que "os ricos paguem a crise".  Ou que apenas se interessam pela namorada do Ronaldo, pelo casamento do futuro rei do Reino Unido ou se a actriz não-se-quantas se separou do apresentador de televisão não-sei-quantos. Terão maturidade política para votar? Pelo menos, maior do que os jovens de 16 anos duvido que tenham.

Quem achar que "é uma idiotice" que pense se, aos 16 anos, não tinha já maturidade para escolher quem deveria ser governo, presidente ou autarca.

9 comentários:

miguel disse...

Amigo Dr. Mário Cordeiro: neste particular, estou em desacordo consigo!

Paulo M disse...

16, 18, 21 ... Teve-se de escolher uma idade e ficou aos 18 anos, idade em que se passa a ter o estatuto de adulto. Nos dias que correm, uma coisa é certa, a maturidade demonstrada pelos eleitores adultos tem deixado muito a desejar. Este problema é sempre o mesmo ... Qual a diferença (actualmente) entre uma campanha publicitária e uma campnha politica ... é tudo iogurte com curtos prazo de validade e muitos corantes a imitarem o belissimo sabor da realidade. Já agora, A questão é importante, pois nestes últimos anos temos com o nosso voto hipotecado o futuro dos jovens.

Mário disse...

Miguel: ainda bem que não concordas, ou seja, ainda bem que há razões para debate. Assim, fica o desafio: porque não concordas?

Paulo: a questão está na maturidade. Mas os conceitos evolui-se: pretos, mulheres e analfabetos foram considerados, durante muitos anos, incapazes de votar. No Estado Novo, só os "chefes de família" votavam(infelizmente reconheceu-se também aos não-benfiquistas a capacidade de votar, o que foi um erro tremendo de Salazar, mas enfim. Lagartos e tripeiros não eram, por definição, bons chefes de família, não deveriam votar...).
Chegou a altyura de pensar no que representa o voto, em termos de escolha, e se a média de jovens de 16 anos está capaz de fazer uma escolha informada. Eu penso que sim. E que ajudava a responsabilizá-los pelos destinos do país e pela própria política.

miguel disse...

..li um artigo que transcrevia a opinião - fundamentada - de um neuro-cientista ( área a que estou especialmente atento) . A tese então transcrita é que um adolescente tem - literalmente - um corpo de adulto em cérebro de criança - assim, textualmente e como novidade " de última hora". Tu, como especialista ( e obra publicada )ee, mais a mais, Médico, terás, ou não, a mesma opinião; convicção; certeza - ou dúvidas ou incertezas. Eu considero que o " mar , mais ou menos, tempestuoso" da adolescência obriga a alguma contenção quando se trata de passar responsabilidades importantes para os "marinheiros" para ele atirados.Acho que precisam de um skiper exigente mas paternal!

Virginia disse...

Tive centenas de alunos de 16 anos durante a minha vida profissional. As raparigas eram muito mais maduras que os rapazes. Eles, na sua maioria, eram realmente inconscientes, baldas e muito, muito indiferentes a tudo o que é política. Falámos muitas vezes de política m geral e quase todos ignoravam os mais infimos pormenores da democracia americana. Em relaçao a Portugal preferiam discutir tudo , futebol, musica, telenovelas, concursos a política.
É claro que havia excepções, mas o numero era infimo.
Penso que se se pudesse votar aos 16, os jovens se absteriam na sua maioria - sobretudo se pudessem ir surfar para a praia - ou então seriam manipulados pelas Js que têm jovens mais velhos e ambiciosos.

Também compreendo que há gente de todas as idades sem qualidade para votar, mas como distinguir uns dos outros? Devia ser como no Brasil. Quem não vota é penalizado. Mas aí haveria mitos votos brancos, pois muitas pessoas não sabem em quem votar neste país ( eu!)

Parece-me que estás errado no que se refere à prisão. Os jovens só são imputáveis depois de perfazerem os 16 anos. E há quem ache que é tarde demais.

Anónimo disse...

Creio que a Sr.ª professora Virgínia resumiu o bastante: os jovens são inimputáveis.
Enquanto os jovens não tiverem a percepção do risco, ou, apesar do risco comprometerem por exemplo, a sua Saúde (como não têm a maioria dos jovens e muitos adultos – venham os estudos –) não estarão aptos sequer a desenhar uma cruzinha.
Não é somente uma questão de maturidade e autonomia. Percebo perfeitamente o porquê de o BE e a JSD virem com essa ideia neste momento. Colocar esse ponto em questão do lado político ou colocarmos todos a cruz para votar, todos o sabemos fazer. Será que sabemos dotar os jovens para a autonomia, dando-lhes ferramentas para que não saiam de casa dos pais tão tarde ou viverem à custa de reformas e outros bens dos pais? Politicamente é difícil instrumentalizar isso, compreende-se. Dar-se-iam muitas voltas. Mal começámos. Os nossos melhores cérebros emigram. A questão da maturidade é outra importante. Não tenho a certeza que as estruturas neuronais para a decisão estejam formadas, nem as outras, nomeadamente físicas, daí eu não promover casamentos antes dos 19 anos, nem pilotos de motorizadas aos 16, nem votos aos 15, 16, 17. Podemos esperar um cadinho? A não ser que os votos fossem um indicador estatístico útil. Muito poderíamos saber mais além acerca dos jovens e do seu sentido de cidadania e sentido de estado, absentismo e/ ou negligência, ou ouvirmos dizer somente o que nós, pais, queremos ouvir – e nem nos damos conta – uma coisa colada pouco consistente só porque agrada ou se é obediente, ou venderem-se com honesta doçura por um par de botas, ou calças. A imagem do limpinho, bem apresentado como se de um comercial de publicidade (ou propaganda?) se tratasse forma mais atitudes do que aquele outro, cinzento e feio, que parece que trabalha em política. Mais mas não melhores atitudes. Estaríamos a pô-los no mesmo saco dos outros do texto. Esta é a minha ideia. É claro que o assunto dá pano para mangas.

Amélia do Benjamim

Anónimo disse...

Não concordo que os jovens com 16 anos sejam necessariamente inimputáveis ou irresponsáveis. Há de tudo, como também há de tudo na idade adulta. Até conheço jovens com muito mias maturidade, sentido de responsabilidade, bom senso, generosidade, que muitos adultos.
E ao dar-lhes o direito de voto mais cedo seria, em minha opinião, uma forma também de os trazer para a participçaõa cívica e eventual participação política mais cedo, contribuindo assim para a sua responsabilização como cidadão e para a sua maturação mental e cultura política e cívica, e participação social mais cedo.
Não podemos ´
e estar sempre a dizer que são uns coitadinhos e não fazer nada para puxar por eles e ajudá-los a crescer!

Catarina
dy

zé disse...

Concordo com a Catarina.
Se formos a ver bem, a percentagem daquele tipo de gente que o Mário descreve que vota é mínima. E os que votam, optam por aqueles partidos que nem sequer têm assento parlamentar. Conheço muitos deles daqui, do sítio onde vivo. Quando lhes pergunto se vão votar, dizem ou não querer saber, ou que "sim, num qualquer!"
Acho que há tantos jovens de 16 com maturidade para votar, como adultos sem maturidade para votar, ou competência para ter filhos...
E quantos há com 18 anos mais imaturos dos que outros com 16?

Virginia disse...

Tenho pena de te contrariar, Catarina, mas os jovens que conheci na sua maioria nem sequer davam o corpo ao manifesto na Escola, onde havia associações de estudantes. A participação deles na vida e mudanças na Escola era mínima, nos Conselhos Pedagógicos nada diziam ou sugeriam, faziam grande algazarra nas eleições dentro da Escola, mas intervenção era nenhuma.
Pode ser que haja outras escolas, onde os alunos sejam mais esclarecidos - não estou a falar de generosidade, nem de qualidade como pessoas - mas daí a achar que eles devem votar agora, não!

Mas tb deve haver muito adulto pouco esclarecido nos tempos que correm....eu desliguei da política, estou simplesmente enjoada, farta, completamente desmotivada. Nem sei se vou votar nas próximas eleições. Dava o meu voto a um jovem de 16 anos:))). E como eu deve haver muitos mais.