- Mestre: como é que podemos não cometer erros, no nosso percurso de vida? - perguntou o discípulo.
- Tornando-nos sábios. - respondeu o visado.
- E como é que nos tornamos sábios? - quis saber o discípulo.
- Cometendo erros... - esclareceu o Mestre.
E reflectindo sobre eles, aprendendo com eles e tentando não os repetir, acrescento eu.
E, já agora, tendo como ponto de honra que nunca mais deixarei ninguém me magoar (e, na mesma medida, tentarei não magoar ninguém), uso a frase de Rimbaud para declarar a minha total rejeição ao seu enunciado: "par des delicatèsses j´ai perdu ma vie!". Não! As cerimónias, os faz-de-conta e a "sociedade" não me farão perder a vida, não manipularão os anos que me restam nem cercearão a minha liberdade.
No dia em que fiz 10 anos - lembro-me como se fosse hoje , apostei comigo próprio que morreria aos 54. A conta, creio eu, terá sido pensar que no ano 2000 (mítico!) teria 44, ao que adicionei os 10 que já tinha. Hoje Delfos, o oráculo e as pitonisas foram derrrotadas, num processo já negociado desde há anos (pior do que o OGE). Mas, por muito parvo que tudo isto possa parecer, desenhei o meu percurso de vida, nos seus vários níveis, tendo em conta esta fatalidade cósmica. Encontro-me, assim, com folhas em branco á minha frente, relembrando a frase da canção de Sérgio Godinho e Ivan Lins: "Já fizemos tanto e tão pouco, que há-de ser de nós?!"
Acordo assim para um novo dia, mas também para uma nova vida. A sensação de liberdade é enorme e transcendente. E a consequente alegria, também. Obrigado Catarina, Pedro, Filipa, Eduardo, Zé Maria, Tomás, Sofia, Tiago, António, Helena e Maria, Filipe, Teresa, Virgínia e tantos e tantos outros. Eles sabem quem são. Eu sei quem eles são. Alguns já morreram mas estão dentro de mim, nas minhas memórias, no meu inconsciente, nas partículas de que sou composto e que, um dia (afinal não aos 54) explodirão e renascerão noutras formas de vida, aqui e ali, no reino animal e no reino vegetal, segundo as leis enunciadas por Lavoisier.
Nasci em 55, faço 55. Sinto-me livre - hoje renasci verdadeiramente para uma nova vida. Oxalá possa ser (ainda mais )feliz e contribuir também para a felicidade daqueles por quem tenho estima e que me dizem alguma coisa afectivamente. Obrigado a todos os que me deram algo e que me ajudaram a melhorar. Aos outros, agradecer não posso, perdoar não quero, ignorar desejo e consigo.