domingo, 30 de março de 2008
ainda as horas...
Porquê vinte para as três...
sim, porquê?
porquê estarmos condicionados
a esquemas obsoletos e antiquados,
a programas
previamente programados?
Sim, porquê?
Porquê tantos porquês?
Porquê vinte para as três?
As horas não têm vez !
Ah, e se os homens fossem bons,
e os políticos incorruptos...
Ah, e se os oceanos tombassem
em desfiladeiros abruptos...
Nesse caso
tanto poderiam ser
quatro e meia
como dez e cinco.
E até com um pouco de sorte
a própria hora da morte
poderia
ser meio-dia.
Mas
ai de quem disser oito e um quarto
ou duas e dez.
Será preso
julgado
condenado
São vinte para as três !
Ouviram?
Para todos.
Seja sueco, mexicano ou português
São vinte para as três !
O que interessa é a ordem
e o vinco do fato.
O respeito (a submissão) aos poderes instituídos
e o brilho do sapato.
Mas compreendem,
não é por mal.
é que há bandidos revolucionários
que se escondem ao pé das sete e tal
Sim, esses poetas
que passam o dia
a escrever poesia
sobre a utopia
das nove e quarenta.
E também os intelectuais
e as suas teorias.
escrevem livros,
espalham ideologias:
"Com seis e meia
na defesa dos oprimidos".
Não lhes dêem ouvidos!
São traidores!
Prefiram que os nossos assessores,
homens calmos, eficazes,
decididos,
vos ofereçam melhor:
O novo vinte para as três
...em comprimidos!
Vinte para as três.
Sempre vinte para as três...
Ah, se fossem quatro e meia!
A imaginação teria asas
voaria sobre os campos, sobre as casas,
até soltar no Ipiranga o grito
que ecoaria, para além do infinito.
E os relógios,
os relógios de cuco,
os de caixa alta, os de cozinha,
teriam cada um a sua hora
cada um a sua sina.
E por esse mundo fora,
não se saberia se o amanhã era agora
se os sonhos bons poderiam ser verdade
e verdadeira a nossa liberdade.
Cada um
a sua hora,
conforme o gosto do freguês...
Mas são inexoravelmente vinte para as três.
Exactamente vinte para as três.
Pontualmente vinte para as três.
Pobre peão de xadrez!
parado no tempo,
suspenso no espaço,
por cima do traço
das vinte para as três.
Quadro: Eduard Munch - "Mãe chorando a morte do filho" (com ponteiros acrescentados)
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1 comentário:
O tempo é sem dúvida alguma mais relativo que absoluto. Foram milhares de anos regulados pelo Sol ou pela vontade simples de comer ou dormir. As coisas levam o tempo que levam. Tanto faz que sejam vinte para as três como três e vinte. O problema é que o Sr. Homo Sapiens Sapiens decidiu que ia evoluir e tiranizar o seu próprio tempo. Agora somos regulados pelo relógio em vez de controlarmos o tempo que já não é meu, teu nem nosso. Se decidirmos conversar com o tempo de igual para igual o "mundo real" e a "sociedade" mostra-nos que isso é impossível. Temos, humanos, as mesmas necessidade em comum mas obedecemos àquele objecto, relógio.
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