Crédito imagem: edições Cosmos
Bordéus. 1940. A Wehrmacht ocupa a França. Centenas de milhar de pessoas fogem do terror nazi. Pegam nas crianças e nos idosos, lançam mão de alguns dos seus haveres e metem-se à estrada. Os alemães perseguem-nos. O objectivo é exterminá-los - Hitler foi muito claro.
Os fugitivos procuram refúgio. A palavra passa: há um pequeno país de onde é possível partir para terras mais seguras, onde não se perseguem nem assassinam as pessoas só porque têm uma religião diferente, uma cor da pele diferente, opções politicas diferentes.
Para chegar a esse país, é necessário atravessar outro país, um pouco maior, dilacerado por uma Guerra Civil, e nas mãos de governantes que não escondem a sua simpatia pelo regime que vigora na Alemanha. E para atravessar a Espanha era necessário um visto português.
Em 1939, Salazar tinha dado ordens claras ao corpo consular: nada de vistos, eles que se amanhem. Houve contudo um Homem (entre outros, que felizmente a coragem e a rectidão não são tão raras como isso) que resolveu dizer "Não!". "Não!" às ordens injustas, "Não!" aos regulamentos iníquos, "Não!" às leis criminosas. "Recusar os vistos era superior às minhas forças!". Esse Homem foi Aristides de Sousa Mendes, consul de Portugal em Bordéus nos anos negros do nazismo. E a sua "maratona" começou no dia 17 de Junho de 1940.
A coragem deste Homem não se diz em 30.000 palavras nem se conta em 30.000 páginas. Trinta mil... foi o número de vistos que, em poucos dias, Aristides de Sousa Mendes passou, à revelia do ditador, mas em consonância com o que de mais nobre a condição humana tem. Aristides de Sousa Mendes salvou 30.000 pessoas da morte. E acabou julgado, condenado, demitido, reduzido à miséria, obrigado a pedir esmola para alimentar a família até morrer num hospital de Lisboa, em 1954.
"Quem salva um homem, salva a Humanidade inteira!" - pode ler-se na placa de homenagem, em Jerusalém.
É este o valor da solidariedade, da nobreza e da rectidão de carácter, face à iniquidade e ao desprezo pela condição humana. Neste dia, lembremo-lo, para que a História, ou pelo menos a parte mais abjecta dela não se repita. E para que não esqueçamos o valor de um Homem e, em consequência, o valor da Humanidade inteira.