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Não sou defensor oficial do Primeiro-Ministro, mas neste fim de semana pude ler diversos jornais e revistas, e não posso estar mais de acordo com o que Miguel Sousa Tavares escreve no Expresso, sobre "como fritar um PM em lume brando".
Sócrates, pese embora algumas coisas erradas na governação, tornou-se o rosto da frustração generalizada, da crise, das nossas imperfeições, das claques corportivas (professores, médicos, polícias, etc) - a
bête noire dos tempos que correm. É o bode expiatório de tudo o que acontece de mal, seja a proibição do uso de minissaia na Loja do Cidadão, seja o parto que correu mal em Trás-do-Sol-Posto.
No fundo, o esquema de funcionamento corporativo do Estado Novo agradaria a muitos, mesmo quer travestido de democracia. Porque - poucos o referem -, Sócrates representa o partido que ganhou as eleições com maioria absoluta, e quando leio crónicas que quase classificam o facto de ele ser PM como "uma desfaçatez do Sr. Sócrates", há que recordar que foi o povo português quem votou nele, e que o voto do cidadão José Sócrates vale o mesmo que o meu ou que o de qualquer um dos leitores deste Blogue.
No que se refere à polémica com João Miguel Tavares, de quem sou amigo, é de espantar que se reconheça ao jornalista o direito de escrever o que lhe apetece (estou absolutamente de acordo com este direito, embora ache de alguma falta de gosto o tom de piada fácil com que escreveu o artigo da discórdia), mas "aqui d´El Rei" se o cidadão, ou mesmo o PM Sócrates usa do seu direito, igualmente inequívoco, de processar o jornalista. Aí já se fala de "atentado à liberdade de imprensa" ou de "tentativa de silenciar os jornalistas".
Quando Fernanda Câncio, a quem os jornais chamam regularmente "a namorada de Sócrates", vem à liça defendê-lo (já li vários artigos dela contra medidas do governo, adiante-se), então o Expresso traz um artigo que disseca "a atitude da namorada de Sócrates"... porventura ela ficou chocada com algumas coisas que por aí são ditas, como eu fico, e mais ainda por ser... namorada de Sócrates, só que referir-se a uma jornalista isenta e rigorosa rementendo-a para o PM, é desqualificar, à partida, tudo o que ela possa dizer. Não será isto um "atentado à liberdade de imprensa", feito pelos próprios jornalistas?
Alguns jornalistas consideram-se prima-donas, e detentores exclusivos da liberdade - o 4º poder. Ora a liberdade é de todos: deles, de escrever o que querem; de todos, de acharmos excepcional ou lixo o que escrevem, e de, se nos sentirmos atacados, protestar, processar e usar os mecanismos que a Lei permite. Que eu saiba, Sócrates não mandou fechar o DN ou prender João Miguel Tavares...
Pessoalmente, já processei um jornal por difamações sucessivas e ganhei o caso na barra do Tribunal. Os dois jornalistas do semanário em causa, na altura, reconheceram por escrito ter feito um frete ao poder político: um continua a escrever semanalmente na Sàbado; a outra aparece na televisão, escreve colunas de opinião e é muito conceituada. Continuam a exercer como se nada fosse ou tivesse sido. O mesmo não acontecerá a um primeiro-ministro a quem se provem erros como o que, por exemplo, esses dois jornalistas cometeram comigo... ou a mim, se os factos que me imputaram fossem verdadeiros....