A Homenagem às Mães, especialmente à minha.
Com quadros de Picasso. Para mim, o maior pintor de todos os tempos.
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga
Por que choras tu anjinho?
Tenho fome e tenho frio.
E só por este caminho.
Como a ave que caiu ainda sem plumas do ninho.
E tua mãe já não vive?
Nunca a vi em minha vida.
Andei sempre assim perdida,
E mãe por certo não tive.
És mais feliz do que eu,
Que tive mãe e morreu.
João de Deus
domingo, 3 de maio de 2009
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3 comentários:
Ainda ontem falámos dela, da nossa Mãe.
Os poemas são exemplo da sua ausência na tua ( e na minha) vidas. Mas fica um manancial de recordações maravilhosas e de alegria de viver que ela deixou no seu percurso.
Bom dia do Pai!
Bjo
Virgínia
As pinturas de Picasso sobre a maternidade são ternas e bonitas. Os poemas também (por Torga, tenho um carinho especial), embora muito tristes. A perda ainda está demasiado próxima (porventura, estará sempre). No entanto, recordo as palavras do Padre Aberto na missa de sétimo dia da Avó: “Conhecendo os frutos, consigo perceber a grandeza da árvore”. Valeu a pena! Um beijinho
Obrigado, Catuxa.
Apenas uma correcção, já que estamos em dia de gralhas (ver entrada acima).
Foi o Padre Miguel Ponces de Carvalho, na altura prior de São Mamede, e não o Padre Alberto.
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