domingo, 20 de junho de 2010

as intermitências da morte


Edgar Viggeland - Foetus

Quando a morte nos aparece como inevitável, porque acontece, porque é falada, porque é a principal notícia, temos a nostalgia do passado e o desejo de regressarmos no tempo. O ontem, mesmo que sensaborão, teve uma certeza, a maior de todas: sobrevivemos. O hoje, pelo andar da carruagem parece que sim, mas ainda faltam algumas horas e muitos eventos possíveis. O amanhã, e à medida que nos distanciamos no tempo, é uma incógnita com aumento exponencial da imprevisibilidade. E entre as coisas que nos podem acontecer é morrermos.

Contudo, o passado não é nem deve ser recuperável, pelo simples facto de que existe apenas dentro de nós e faz parte da nossa estrutura. Mas não é nem deve ser a única parte, nem nos devemos comportar como se estivéssemos a viver nele. Ou a vivê-lo outra vez.

Somos quem somos, temos a idade que temos, e felizmente esta é composta de todas as que nos antecederam e que serviram - todas - para nos estruturarem e contribuirem para o processo de aperfeiçoamento no percurso de vida. Se por exemplo acordássemos "infantes", era o fim!

Outra coisa é a angústia da morte, o nosso dilema existencial, que acarratamos dentro de nós desde os 18 meses de idade, consubstanciada na sensação de que gostamos demasiadamente de viver para nos darmos ao luxo de morrer. Ou ao desperdício de morrermos.

3 comentários:

Virginia disse...

Aconselho-te a leitura dum texto de Saramago que a minha amiga Regina escreveu no seu blogue Do caos ao cosmo, hoje. É uma carta à Avó. Fantástica....

Virginia disse...

Aconselho-te a leitura de uma carta á Avó Josefa, de Saramago, transcrita no blogue Do Caos ao Cosmos da minha amiga Regina. É extraordinária e tb levanta o problema da morte e como as pessoas a encaram.

Não posso dizer que não tenho medo da morte...tenho...mas procuro aproveitar todos os minutos da vida, pois sei que para alem dela só restará aquilo que fizémos enquanto vivemos.

Virginia disse...

Desculpa, pensava que a orimeira mensagem não tinha partido....e mandei uma segunda.