segunda-feira, 25 de maio de 2009

branquinho é que é bom!

Um dos símbolos do supérfluo é a criatividade e o design desviarem-se tanto dos objectivos das coisas, ou fazerem crer que algumas têm uma importância desmedida, que se podem tornar ridículos ou até contraproducentes.

Há dias fui a uma sala de espectáculos em Lisboa, e tive de ir à casa de banho - o papel que havia era encarnado. Sei que também existe em preto, cor-de-laranja e mais umas cores.

O papel branco tem um objectivo, para lá de revelar a sua alvura e higiene: saber se o "sim-senhor" está limpo. Mas, além disso, convém recordar que o diagnóstico precoce das hemorróidas ou do cancro do útero, do cólon ou do recto - situações muito frequentes e em que é fundamental uma detecção atempada -, é feito pela presença de sangue vivo nas fezes ou nas secreções vaginais. Com papel encarnado (ou preto, ou cor-de-laranja), será muito mais difícil a pessoa detectar a presença de sangue, atrasando o diagnóstico até aparecerem outros sintomas.

É pena que os publicitários e empresários não pensem um bocadinho nos efeitos colaterais das suas inovações. Podem ganhar com isso muito dinheiro (até porque, apesar de não serem esses os órgãos-alvos do papel, este custa "os olhos da cara"), mas porventura serão responsáveis por problemas bem graves. Quando acabará este show-off de sinais exteriores de riqueza saloia?

6 comentários:

Huckleberry Friend disse...

Argh! Acho piada a alguns papéis higiénicos com brincadeiras tipo arame farpado estampado, mas isto das cores é quase tão detestável como os "há" "à" e "á" referidos na coluna da direita! Beijinhos

Anónimo disse...

Tb tem um problema: as cores das tintas poluem mais do que o papel branco que vai parar à água....não são tão inofensivas quanto coloridas e sugestivas.
A simplicidade é a mãe das virtudes.

Virgínia

zé disse...

Uma vez fui a casa de um amigo que tinha papel preto. Indaguei: "quando estará, de facto, limpo?"
Perguntei-lhe então se teria rolo de cozinha com maçãs estampadas...
Realmente vivemos num mundo cor-de-rosa, mas que parece cheirar ao cor-de-rosa que constitui o fim último desse fashioníssimo papel.

Miguel e Rita Clara disse...

Desculpem mas creio que estes produtos têm destinatários muito específicos...
Quem se preocupa em demasia com a suavidade e cor e aroma e padrão do Papel higiénico?
Decerto que não é uma família numerosa como a minha..
Pois para mim tem que ser barato, duplo e vir em grandes pacotes!!!
Existe na publicidade uma correcta apreciação dos consumidores alvo, isto é quem está disponível a pagar mais por Ph de luxo...
É decadente.

Pintarriscos disse...

Regra de ouro caros senhores designers...
A famosa regra K.I.S.S... Keep It Simple Stupid!

E já agora, porque não aplicá-la a outros sectores da actividade humana.

Paulo Galindro

Mário disse...

O que me pasma é a necessidade de ser diferente de "épater le bourgeois".
Uma parafernália de eterno descontentamento, ou a confusão entre a fantasia, o sonho, o projecto e a realidade.
Por mim, branco (de folha dupla, isso concedo), e como escreve o Miguel, em quantidades industriais, oferecendo ainda mais 12 gratuitos a somar aos 36 que já levamos...