sexta-feira, 27 de agosto de 2010

o naufrágio do San Pedro de Alcantara

O naufrágio do San Pedro de Alcantara, pintado por Jean Pillement

Há dias fomos visitar o local onde o San Pedro de Alcantara naufragou (Papoa, Peniche), em condições tão inacreditáveis que parecem ser apenas uma lenda (julga-se que, numa noite de tempestade e algum álcool, o comandante teria confundido as Berlengas com o Cabo Carvoeiro, passando a estibordo deste e entrando pela praia dentro. Outros dizem que o navio foi atraído por faróis falsos, à boa maneira dos piratas da Cornualha).


A sua carga material (ouro e metais nobres) e humana (nobres espanhóis e guerrilheiros índios, da famosa tribo de Tupac Amaru, responsáveis por uma rebelião contra o domínio castelhano, para além de militares, passageiros e tripulação) levou a que este naufrágio fosse considerado um dos mais importantes ocorridos em Portugal.


Jose Gabriel Tupac Amaru, em http://www.artehistoria.com/historia/personajes/5715.htm

À data, Espanha estabeleceu um consulado em Peniche e mergulhadores franceses vieram tentar (há mais de 200 anos) recuperar o tesouro. Os mortos tiveram diversos destinos, desde a Capela de Nossa Senhora dos Remédios até valas comuns, algumas das quais encontradas, no final dos anos oitenta, junto à praia da Papoa.

Dava um bom filme...




... e deu um soneto, escrito por Basílio da Gama, um Jesuíta que viveu no final do século XVIII, sobre Tupac Amaru, o líder da revolta índia e um dos guerreiros mais famosos da América Latina.
Dos curvos arcos açoitando os ares
Voa a seta veloz do Indio adusto
O horror, a confusão, o espanto, o susto
Passam da terra, e vão gelar os ares.


Ferindo a vista os trémulos cocares,
Abriu-se o esquadrão do Chefe Augusto,
Rompe as cadeias do Espanhol injusto
E torna a vindicar os patrios lares.


Índio valente, genío Indiano!
O real sangue, que te alenta as veias,
Une a memória do paterno dano.


Honra as cinzas de dores, de infâmias cheias,
Qu´inda fumando a morte, o roubo e o engano
Clamam vigança às tépidas areias.

Poeta do Arcadismo brasileiro, José Basílio da Gama nasceu em São José do Rio das Fortes, Minas Gerais, em 1741. Estudava com os jesuítas na altura em que estes foram expulsos do Brasil, por ordem do Marquês de Pombal. Estudou em Portugal, indo para Roma onde ingressou na Arcadia Romana. Em 1767 volta a Portugal. Retornando ao Brasil, foi perseguido pelas autoridades, por suspeita de jesuitismo, e foi enviado para Lisboa. Caiu, porém, nas graças do Marquês, após escrever um epitalâmio pelo casamento da filha de Pombal, e assim evitou ser desterrado para Angola. Em 1769, publicou o poema épico "O Uraguai". Em 1791, publica o poema Quitúbia. Foi precursor do Indianismo romântico e faleceu em Lisboa, em 1795.

Sem comentários: