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Motivado por um filme em que muitas vezes o mencionavam, interessei-me por saber mais sobre Ludwig Wittgenstein, um filósofo que descobri ser incontornável, no século XX. O mais curioso é que só publicou um livro, em vida, o Tratado Lógico-Filosófico, e ainda por cima com umas escassas dezenas de páginas.
Se os homens não se medem aos palmos, o impacte dos filósofos não se mede em caracteres.O Tratado parece querer acabar com a ética, a filosofia e a religião, considerando-as desprovidas de sentido. Mas não. Tudo permanece, só que debaixo de outras coisas: a matemática, a linguagem e a matemática da linguagem. Sem elas, nada existe. Com elas, tudo é possível. A linguagem, falada, escrita, gestual, simbólica, adivinhada é a essência, o âmago.
Ludwig Wittgenstein nasceu em 1889, em Viena, filho de um dos homens então mais ricos da Europa. Em 1906 entra para a Techinsche Hochschule de Berlim. Dois anos depois ingressa na Universidade de Manchester, com o objectivo de especializar-se em aeronáutica, tendo desenhado um motor a reacção. Não tarda a abandonar os problemas da técnica, para se dedicar à questão dos fundamentos da matemática. Entre 1913 e 1914 vive na Noruega dedicado-se ao estudo da lógica.
Na I Guerra alista-se no exército austro-húngaro e combate nas frentes russa e italiana. É feito prisioneiro e redige o Tratado Lógico-Filosófico (Tractatus Logico-Philosophicus), publicado em 1921. Diz-se que, nas trincheiras, enquanto os outros disparavam ou se defendiam, ele escrevia.
A seguir à Guerra, vende tudo o que tinha e torna-se professor primário numa aldeia, e depois jardineiro e arquitecto. Em 1929 regressa à Universidade de Cambridge, fazendo o doutoramento. Na II Guerra Mundial está com os aliados e trabalhou no Guy`s Hospital, em Londres. Dois anos depois da Guerra, demitiu-se da Universidade, e alternou a sua vida entre a Irlanda, Oxford e Cambridge. Morreu em 1951, vitima de cancro, com 62 anos.
As grandes linhas de pensamento de Wittgenstein são:
1. A função da linguagem é descrever a realidade, porque em rigor nada pode ser dado fora da linguagem.
2. A Lógica determina a estrutura da linguagem e é um espelho cuja imagem é o mundo.
3. Existe uma isomorfismo entre a linguagem e realidade. Estudando os elementos que compõem a linguagem lógica perfeita sabemos quais são aqueles que compõem a realidade e vice-versa. A linguagem é o espelho do mundo, o que se reflecte na sua natureza, e a realidade só pode ser compreendida através da linguagem e o conhecimento consiste na análise da linguagem.
4. A linguagem com sentido não é mais do que um conjunto de proposições que descrevem ou figuram algum estado de coisas possível.
5. A linguagem é a totalidade das proposições. Uma proposição é a linguagem expressa em sons, constitui uma figura da realidade, um modelo de de uma situação possível.
6. Pensamento e linguagem são uma e a mesma coisa.
7. O pensamento é constituído de proposições complexas, que ligam entre si nomes, signos simples dos objectos.
8. Limites da Linguagem: dizer e mostrar.
9. As expressões que não descrevem nenhum estado de coisas possível não têm sentido, pois não figuram nada.
10. A filosofia nada pode dizer acerca do mundo, pois não é uma ciência nem uma forma de conhecimento.
11. A filosofia é uma actividade de análise da linguagem, que nos pode ajudar a distinguir o que se pode ou não dizer. A grande tarefa da filosofia consiste em clarificar o pensamento e nada mais.
Podemos debater e discutir tudo isto, mas o que é certo é que usaremos palavras, ditas ou escritas (ou não-ditas e não-escritas) na argumentação...
1 comentário:
Estudei-o por alto em Dramaturgia. Fiquei a saber que sempre foi um aluno medíocre e que, quando as pessoas não se entendem, é porque não sabem falar. Isto é, as pessoas não conseguem explicar por palavras o que pretendem, dando origem a mal-entendidos e discussões infrutíferas e desnecessárias. Isto o Mário descreve no pnto 11.
Fazem falta muitos
Wittgenstein no mundo que expliquem à malta como pensar e conversar a ver se a gente se entende de uma vez por todas... Ou então lê-lo!
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