quinta-feira, 9 de setembro de 2010

como melhor amigo do Homem, o cão já era...


Um estudo que saíu há escassos dias mostrou que o número de pessoas que na Índia têm telemóvel ronda os 500 milhões, ao passo que o das que têm acesso a casas-de-banho fica-se pelos 300 milhões. Em Portugal, o número de pessoas com dois ou mais telemóveis aumentou exponencialmente desde há cinco anos. E outra coisa que os estudos não dizem mas que seria muito interessante saber, é que tipo de utilização as pesoas fazem, ou dito de outra forma, que serviços não exclusivamente de telemóveis são usados, quantas chamadas precisavam realmente de ser feitas naquele momento (as inadiáveis), etc, etc. Sem emitir juízos de valor, vale a pena, individualmente e em sociedade, pensar no significado eventual e potencial de tudo isto. Há 20 anos não existia a palavra telemóvel. Agora o que praticamente não existem são pessoas sem telemóvel...

A propósito disso, todos os dias passo em frente de uma pequena banca de gelados, daquelas que a Câmara disponibiliza para o Verão. Lá dentro, uma rapariga nova,  de plantão, a vender gelados. Está sempre ao telemóvel. Demoradamente. Dei comigo a pensar no dinheiro que gastará, ela ou quem lhe telefona, que presumo não tenha fortuna. Horas e horas. No outro dia resolvi comprar um gelado e ela pediu desculpa à pessoa que estava do outro lado, manteve o telemóvel ligado, atendeu-me e retomou a conversa. Rios de dinheiro. Rios de perplexidade. Rios de estranheza pela má gestão do tempo, do dinheiro e das prioridades... mas "isto sou eu a falar" (na net).

4 comentários:

Virginia disse...

É um fenómeno piramidal e anda por cima muito português. A necessidade do telemóvel - porque se transformou em vício - ultrapassou tudo o que é razoável. No comboio toca um de 5 em 5 minutos e as pessoas que iriam caladas, falam histrionicamente de modo que todos os que vão na carruagem tem de ouvir a conversa...só faltava pôr em alta voz, já agora, para ouvirmos tb o lado de lá!

Em relação ao dinheiro, acho que deviam mesmo fazer um levantamento do dinheiro que as famílias gastam neles - avos, pais, crianças - comparado com o que gastam em material escolar, de que tanto se queixam agora na rentrée. Fico sempre irritada com as reportagens sobre os pobres pais que no inicio do ano têm de pagar os livros dos flhos - era óptimo se fossem oferecidos, mas para isso os alunos tinham de ser outros porque os nossos perdem os manuais, não os trazem para as aulas, repartem com os colegas, fazem fotocopias, etcetc.
Mas todos tem telemoveis caros, IPODs para ouvir musica nos intervalos, sapatilhas das melhores e mochilas aparatosas.
Ode é que está a ºpobreza envergonhada??

Paulo M disse...

Nos dias que correm, temos de assumir uma verdade: o telemóvel é um bem de primeira necessidade sem o qual não seriamos infelizes ou carentes do que quer que seja. É como um rebuçado, sabe bem, mesmo quando dá cabo dos dentes.

Mário disse...

De facto, a maneira como as pessoas se relacionam com o telemóvel e o modo como falam (aos berros, contando pormenores da vida privada) merece algumas teses de doutoramento. Um estudo da Universidade Católica demonstrou que o grau de utilização está directamente relacionado com indicadores de solidão.

Quanto aos rebuçados, Paulo, o ideal é serem sem açúcar... ou seja, reconheço que é um bem de primeira necessidade (tenho um), mas há que saborear esse rebuçado com calma, sem sofreguidão ou bulimia, e escolher bem a hora em que se come e como se come... como é o seu lema? "Como, logo emgraço" - com os relemóveis também deve ser assim: alimentação racional e inteligente...

sofia costa disse...

Essa rapariga que trabalha nos gelados deve ter um tarifário como eu tenho em que entre números com o mesmo tarifário não se pagam as chamadas nem as mensagens.
Mas isso não faz com que eu passe o dia, no meu trabalho, a falar ao telemóvel. O problema aqui nem é dos telemóveis é da falta de educação das pessoas que está a atingir um limite inaceitável. Há dias fui às finanças pagar o imposto do meu carro. Quando vou para ser atendida o telemóvel da senhora que me ia atender tocou, e a senhora pediu-me um momento e atendeu, à minha frente, o seu telemóvel pessoal! Eu fiquei de boca aberta! Não queria acreditar... Atendeu o seu telemóvel calmamente, o assunto era sobre a entrega de uns móveis e eu fiquei ali de tal forma incrédula que nem tive reacção (eu que sou rapariga para fazer logo ali uma queixa por escrito)...