Robert McDonald faria hoje cem anos. É uma personalidade demasiado importante para nos esquecermos dele. Parabéns, designadamente pela ideia de inventar os fast-food!
Um dia, na consulta, ao ver com um adolescente com nítido excesso de peso e ao explicar-lhe a situação, falei-lhe, logicamente, dos cuidados a ter com a alimentação. Ele até estava a ouvir e, pareceu-me, a gostar da conversa. Mas logo a mãe interveio e exclamou: “Oh, doutor, mas como é que ele pode estar gordo se nem sequer vai muito ao McDonald´s?!”.
Foi difícil, a partir daí, fazer-lhe ver que o que estava de errado era a nutrição familiar – aliás, a senhora também era um pouco para o avantajado -, desde o que estava dentro do frigorífico até ao modo de confeccionar as refeições – a descrição continha fritos e molhos que enjoava só de ouvir -, passando pelos donuts, croissants e bolas com creme da cantina escolar.
Julgo que, no final da consulta, aquela mãe não estava convencida. O “grande satã” é que tinha a culpa. Ou quase, já que o filho “nem ia lá muito”. Talvez na próxima vez lhe consiga explicar que o que se come todos os dias é que conta. A regra, pois. Porque as excepções são apenas isso - excepções.
Quando alguém quer arranjar um bode expiatório para obesidades não assumidas ou para hábitos alimentares desconchavados, aponta logo um dedo acusador à maior cadeia de fastfood do mundo. Quando não é tema para diatribes políticas e filosóficas, claro. Ouve-se um pouco de tudo: que os McDonald´s deram cabo da juventude. Que põem minhocas nos hamburgers. Que estão feitos com a “globalização”, no sentido de dominar o mundo. “Imagina que já há McDonald´s na China!” – como se os chineses tivessem menos direitos do que nós.
Deus nos guarde dos purificadores das almas: dá-se-lhes um pouco de trela e logo se cai numa atitude proibicionista e a solução mais fácil é arranjar um culpado para os desvios alimentares de toda uma sociedade, tanto mais que ninguém admite verdadeiramente gostar de ir ao Mcdonald´s. Pelo menos na faixa etária dos pais. Não é politicamente correcto. Alguém já viu um candidato, nem que seja a uma Junta de Freguesia, admitir gostar de um desses espaços?
Trata-se, realmente, da solução mais fácil. Assim, branqueamos as “porcarias” que comemos nas nossas “homes sweet homes” (sweet, fat and fried...), o que compramos no supermercado e que sabemos fazer mal à nossa saúde. E não verificamos o que existe nas cantinas escolares, o que, salve-se meia dúzia, são um autêntico atentado a tudo o que se possa dizer de nutrição equilibrada e inteligente.
Por outro lado, o facto de muitos adolescentes terem encontrado, no espaço McDonald´s, um ponto de pertença, onde se identificam através de códigos próprios, irrita muitos pais. Só entra no McDonald´s quem quer. E quem entra escolhe o menu que quer. Quando quer. Como quer.
5 comentários:
Não tenho nada contra os McDonalds e companhia. Admiro a organização interna e acho que serão inclusive um bom ponto de passagem para jovens à procura de um “part-time” para obter a sua mesada. Estimula a autonomia, o brio pelo trabalho bem feito, e ensina que é necessário “produzir” para ganhar uns cobres.
Sou dos que dão importância ao que como. Por sorte (ou educação) tenho pouca atracção pelas gorduras, fritos à cabeça, ou alimentos muito artificiais.
Aprecio ir ao mercado, ver, tocar e escolher os produtos ao natural – sugiro uma cooperativa de consumidores Biocoop (mesmo junto ao aeroporto). Aconselho a levarem os mais pequenos; é um espaço de descoberta que eles vão adorar conhecer e interessar-se pelo antes e pelo depois.
Em Portugal a obesidade não está ao nível dos EUA ou Inglaterra. Por cá há gordos; lá há gente deformada. Os hábitos alimentares, a gastronomia e a cultura da refeição são uma das nossas grandes riquezas sociais e culturais e que devem ser incentivadas. Um plano Socrático tipo “Choque Nutricional” seria sem dúvida muito útil.
A sopa, por exemplo, é uma instituição que devia ser mais promovida: leva o que quisermos e faz-se em quantidade pode ser guardada sem problemas vários dias. Depois, é rapidíssima de preparar (3min no microondas) e mais ainda de comer – a verdadeira “fast-food”.
Em Portugal – penso eu! – ainda está muito enraizada na sociedade a noção das refeições (peq. Almoço, almoço, lanche e jantar) e que não se come o mesmo em cada uma delas. Nos EUA, por exemplo, via frequentemente gente comer um hamburgeur ou pizza indiferenciadamente ao longo do dia. Para não falar que uma coke é mais barata que uma garrafa de água!!! Mesmo em Paris, tive colegas que faziam de um prato cheio de batatas fritas a sua refeição, ou então, uma pizza e um monte de batatas fritas.
Para terminar, confesso que sou daqueles que de tempos a tempos sente atracção pelo McDonalds. Vou, peço sempre o “Menu Big Mac” & Coke e passo o resto da tarde com aqueles sabores entranhados até aos dentes e a perguntar-me porque lá fui. No final irei meia dúzia de vezes por ano, mas “Eu vou!”
Não havia McDonalds, mas já havia fast food. Em 1969, quando fui a Inglaterra pela primeira vez com a universidade. Não tínhamos dinheiro para nada e comer um hamburger nos Whimpy - assim se chamavam - ou pancakes no Kentucky Fried Chicken sabia-nos pela vida.
Hoje em dia as crianças aprendem cedo que não se "pode" engordar. os meus netos sofrem já longas diatribes em casa quando pedem algo de doce ou se atrevem a comerfrutos proibidos.
Vou frequentemente ao café com o Daniel, que tem 5 anos. A mãe proibiu-o de comer croissants por causa do colesterol.
Quando chegamos ao café, ele olha para mim, com ar muito triste e diz: A mãe não me deixa comer croissants, Vóvo, de modo que o melhor é eu só comer... uma bola de berlim :))))
Olá!
Reconheci-me nas palavras do 1º comentário: vivi nos EUA durante 3 anos e tive essa mesma experiência das refeições indiferenciadas. Por outro lado, os meus sogros, belgas, sempre que estão cá ou quando nós vamos lá, ficam abismados pelo facto de eu “me dar ao trabalho”, segundo eles, e fazer tanta comida, que afinal mais não é que a sopa, todos os dois dias, a carne ou o peixe grelhados, arroz, massa, salada…nunca me livro de ouvir os seus comentários do tipo jocoso…quando estamos de férias todos juntos, continuam sem compreender a razão pela qual ao almoço gosto sempre de parar e fazer uma refeição o que, é verdade, até faço mais pelo meu pequeno, de 5 anos, que por sua vez sempre assim foi habituado. Ainda hoje, o meu marido, a viver em LX desde 2000, acha curioso almoçarmos, dizendo-me que mesmo nas creches e jardins-de-infância na Bélgica as crianças apenas comem sandes. Aqui, tal como eu também já presenciei, para muitos adultos um pacote de batatas fritas com maionese ou um esparguete com molho de tomate para o almoço são algo de bastante razoável. Depois não me admira…
Eu gosto imenso do McDonald’s, o meu filho idem e não tenho qualquer tipo de problema com isso. Aliás, quando vamos para fora (vamos algumas vezes e o Miguel vai sempre connosco) recorremos muitas vezes a fast-food porque é mais barato e temos a garantia que todos gostamos, pais e filho. E complementamos com fruta. Aprendemos com o pediatra do Miguel que as crianças devem comer o mesmo que os pais e é isso que praticamos. Temos hábitos alimentares equilibrados o que significa que também cometemos os nossos pecados e o nosso filho também. Não proibimos o Miguel de comer o que quer que seja. Controlamos, isso sim, a quantidade do que não é aconselhável comer muitas vezes. Viva o McDonald’s!
Obrigado pelos comentários.
Há que desfazer esta ideia de arranjar sempre um bode expiatório externo para as nossas insuficiências internas.
Aliás, seria bom os adultos perceberem porque é que os adolescentes gostam do ambiente do McDonalds e fazem dele um grupo de pertença, um clã como os McDonald da Escócia (espero que não matem ninguém chamado Campbell!)
Outra vantagem é o preço, a qualidade é boa (tive ocasião de pertencer a um grupo de avaliação sanitária desta cadeia) e têm cada vez mais saladas e sopas, sendo dos poucos restaurantes onde se pode saber a composição alimentar da refeição. COnseguem isso na Portugália ou no Gambrinus?
Enviar um comentário