segunda-feira, 7 de setembro de 2009

o Facebook e os arautos da "inteligentzia"



Faço minhas as palavras de Joel Neto - aqui no DN - sobre a retórica de Miguel Sousa Tavares acerca do Fecebook, na semana passada, no Expresso.

O estilo "a larga maioria das pessoas", sem qualquer dado estatístico que consubstancie uma frase destas, cheira logo a esturro - aliás, já no programa com Paula Teixeira da Cruz, aqui há um par de anos, quando MST não sabia inventava.
E o que escreveu sobre o Fecebook é, quanto a mim, apenas o que deve dizer ao espelho para justificar não aderir a esta rede social. Não quer, não adira. É convidado? Recuse.

Mas classificar (=menorizar) intelecutalmente, psicologicamente e socialmente os que aderem ao Facebook é, no mínimo, reducionista e desinteressante, pondo em causa a profundidade com que aborda outros casos: será que o que escreve sobre a zona ribeirinha de Lisboa também é assim, por convicções e fé? Por acaso, não, mas a dúvida pode ficar.

Comentadores, analistas, politólogos, convidados, jornalistas, apresentadores, entrevistadores - qual a diferença profissional, científica, factual e funcional? Um dia destes não saberemos. E MST abrirá o telejornal com a boca da Moura Guedes, atacando Manuela Ferreira Leite ou Paulo Portas só porque não estavam disponíveis, nesse dia, para ir ao telejornal.

Um autor que vende livros como "pãozinho quente" antes mesmo de sairem do prelo, mas que não adicionou nada à literatura, a não ser algumas horas bem passadas para o Leitor (banal...), e que vive dessa profissão porque é MST, filho dos grandes Sophia e "Tareco", deveria ser mais cauteloso com as generalizações.

Dá vontade de escrever: "os que lêem Sousa Tavares são sofredores de isolacionismo, solitários, mentecaptos e carentes". Não o escrevo porque não sei - nunca fiz nenhum estudo epidemiológico. E porque li alguns livros dele e gostei - mas voltem a Joel Neto, um jovem com ideias, mesmo que se discorde delas.

8 comentários:

Anónimo disse...

Então Mário! Isso é muito feio. Dizer que o MST só vende livros por ser filho de quem é... Acha que alguém compra livros (caros) porque o Pai ou Mãe do Autor são fulano ou sicrano? Tenha dó...
Goste-se ou não, ele escreve, as pessoas lêm e gostam e ele volta a escrever e as pessoas continuam a gostar. Quando se passam "umas boas horas" a ler um livro, é porque vale a pena, caso contrário não passamos das primeiras páginas, arrumamos no fundo da estante e de certeza que não compramos mais nenhum desse autor. Não é?
Nem todos podem viver só da escrita, porque nem todos são (como gostariam de ser...) escritores.
Joana

Mário disse...

Joana. Obrigado pelo comentário.

Eu não escrevi que "só".
Gosto do MST, ouço-o quando possível e leio sempre as crónicas no Expresso, estando de acordo com muito do que ele diz e defende.

No entanto, creio que faz afirmações muito dogmáticas, raramente descodificando porque é que as pessoas podem ter comportamentos ou ideias diferentes - veja-se o caso do tabaco, em que a defesa das suas posições de tabagista (que ninguém atacou) eram estilo "a democracia está em perigo". Ou o que disse sobre o caso McCann e a presença de crianças em restaurantes, por exemplo.

Quanto aos livros, e que Joel Neto refere provavelmente melhor do que eu, é que ele próprio não sabe quem os lê - serão os tais que ele acha que estão no Facebook, e que tratou com displicência e até paternalismo? Eu sou um deles.

E que faz algum alarde de sedr Sousa Tavares e de ser filho de Sophia, é verdade - um certo va sans dire que não deixa de ser eficaz.
Mesmo gostando de algumas coisas que MST escreve, não creio que seja um fenómeno literário inovador ou tão interessante que justifique centenas de milhar de exemplares comprados (e quantos serão efectivamente lidos?!). Tornou-se moda, foi muito bem promovido (lembra-se da figura dele em tamanho natural, recortado, que estava nas livrarias?), mas por exemplo, o Equador, que é um livro interessante, tem um final muito a martelo, previsível e parece mesmo de quem já está farto de pensar. Não li ainda "o Deserto" (tem outro nome).

Anónimo disse...

Desculpe Mário, mas o que escreveu na sua entrada foi:
"Um autor que vende livros como "pãozinho quente" antes mesmo de sairem do prelo, mas que não adicionou nada à literatura, a não ser algumas horas bem passadas para o Leitor (banal...), e que vive dessa profissão porque é MST, filho dos grandes Sophia e "Tareco", deveria ser mais cauteloso com as generalizações."
Como vê escreveu que MST vive da profissão de escritor por ser filho de quem na realidade é. Queria o quê? Talvez que ele usasse outro apelido (qual?). O Mário não usa os apelidos dos seus Pais com orgulho? Porque não ele? Porque é que é moda comprar um livro dele?
Só mais uma coisinha. Lembre-se do provérbio que diz: "Quem tudo quer, tudo perde"
Joana

Mário disse...

Joana. Para não ser mal interpretado, até porque, repito, MST é uma pessoa que aprecio, e com quem estive em diversos programas e congressos, embora ele advogasse, por exemplo, que o limite de velocidade nas auto-estradas fosse de acordo com o tipo de carro - isto, dito num congresso sobre acidentes rodoviários, é show-off!

"Um autor que vende livros como "pãozinho quente" antes mesmo de sairem do prelo!" - acho que é verdade.
"mas que não adicionou nada à literatura" - acho que é verdade.
"a não ser algumas horas bem passadas para o Leitor (banal...)" - podia ser ele ou "n" escritores equivalentes, portugueses ou estrangeiros, que contam uma história
"e que vive dessa profissão" - é verdade e é muito difícil. Até Virgílio Ferreira tinha de trabalhar.
"porque é MST, filho dos grandes Sophia e "Tareco" - se não fosse ele não teria esta facilidade, até porque os livros estariam um dia no expositor, de face, dois dias de lombada e depois iam para a aestante, sendo devolvidos os remanescentes uma semana depois...

"deveria ser mais cauteloso com as generalizações." - porque nem o caso dele é "generalizável".

É isto que penso. Por exemplo Jorge Reis-Sá, Gonçalo M. Tavares, Possidónio Cachapa ou José Luís Peixoto, entre outros, são, para mim, escritores muito mais importantes na Língua Portuguesa, mesmo que vendam incomensuravelmente menos.

Teresa disse...

Dr. Mário,

se ainda não leu o "No teu deserto" de MST, arrisco a sugerir-lhe que não perca o seu tempo! Peguei nele, porque estava à mão, porque estava de férias e "devorei" muito mais rapidamente do que estava à espera uma MARAVILHA chamada "Somos o esquecimento daquilo que seremos" de Hector Abad Facciolince (um escritor colombiano praticamente desconhecido entre nós).
Talvez o MST com a sua escrita escorreita cative muitos leitores, mas não me acrescenta nada e neste seu ultimo livro então, revela a 100% um narcisismo sem limites, que me incomodou!

Quanto ao facebook, só posso dizer que me tenho divertido imenso com a possibilidade real de reencontrar amigos (da escola primária, do liceu, da faculdade... que foram ficando pelo caminho e de quem tinha perdido completamente o contacto, a trocar ligações e ideias no geral com alguns deles (e outros)e tirando partido da sua componente lúdica, até. É uma ferramenta como tantas outras, que nos permite estar mais perto daqueles que estão fisicamente mais longe de nós! Todas as outras considerações que o MST possa fazer... são as tais banalidades que ele gosta tanto de atirar gratuitament para ar. Imagino o quanto ele deve gostar/precisar de se ouvir!

Elisete disse...

Estou cada vez selectiva com as minhas leituras, não porque o tempo escasseie (não me queixo desse mal de que tantos padecem) mas porque a exigência aumentou com a idade. Mas faço questão de ler um livro de cada autor português principalmente daqueles que “estão na moda”. Li o “Equador”, não gostei e não volto a ler mais nenhum livro do MST. Recentemente li uma entrevista dele na revista “Ler” que acho bastante elucidativa do que o Dr. Mário Cordeiro quis dizer.

Virginia disse...

Concordo com quase tudo que dizes sobre o MST. Os comentários dele sobre profs revelam maldade. Só gostava de o ver dia apos dia a dar aulas...queria ver se conseguia que os alunos lessem dez páginas do Equador, sem dizer : Que seca!
Li-o todo ( trazido da biblioteca A. Garrett , tentei depois ler Rio de Flores e não passei da página 2...folheei o "Deserto" e concordo com a Teresa, acho-o narcisista ( que se vê nas intervenções da TV tb), convencido e muito snobeco.

Virginia disse...

Só queria acrescentar que através do Facebook encontrei um amigo nosso - especialmente do Zé, mas dez anos mais velho, um americano Carlos del Castillo, que esteve cá em Portugal a convite nosso e convidou o Zé durante cinco meses para viver com ele em Virginia Beach, isto há uns dez anos. Ele casou-se , tem três filhos e nós túnhamo-lo perdido de vista. Agora já conseguimos trocar e-mails, pôr as contas em dia. Foi emocionante.
Não gosto especialmente de estar no facebook, mas não me importo de o usar quando é preciso. A exposição não me agrada especialmente, mas tb nada tenho a esconder...