sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Rotina

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.



Eugénio de Andrade



Foto: MC (Estocolmo)

7 comentários:

Virginia disse...

Não concordo. Cada vez vejo mais , oiço mais e falo menos....gosto de cada minuto e noto os pormenores.

Elisete disse...

Mas é por causa da minha rotina (que eu adoro) que tenho tanta disponibilidade para ver, para ouvir, para ajudar embora de forma criteriosa. Por causa da rotina e porque tenho ao meu lado uma pessoa fabulosa que, apesar de menos atenta e menos tempo disponível, tem um coração daqui até à lua.

Mário disse...

É um poema perturbador, embora, pessoalmente (talves sinal de senilidade...) sinto que a Vida me traz, todos os dias, novos desafios, oportunidades e competências...

E as rotinas são necessárias, como as regras, para entendermos as excepções e ousarmos as transgressões.

Quanto ao sueco da fotografia, acho as barbas dele fantásticas - a sépia deu-lhe um toque mais "antigo", mas é capaz de ser um jovem de espírito... pelo menos estava a assistir muito interessado a um concerto de rua.

Virginia disse...

A foto é mais interessante do que o poema, um pouco derrotista. Muito boa mesmo. Parabéns.

Desde que não tenho rotina - cada dia é diferente e posso determinar o que faço quando me levanto - sinto muito mais que vivo a sério, que não estou adormecida para a vida. E não há constrangimentos, nem despertadores.

catuxa disse...

O poema é bonito mas não me parece que a rotina seja isto, pelo contrário, pode ser a base de segurança que nos permite criar e saborear outros momentos.
As palavras do poema são mais de alguém que desistiu de viver (com ou sem rotina, com ou sem os outros). Quando alguém passa por uma fase assim, é muito triste. Mas acontece. Há que estar atento.

Mário disse...

Talves o título adequado ao poema fosse "Tédio".

zé disse...

Compreendo o que quer dizer. Às vezes sente-se isto quando se está no meio da selva humana: quando queremos partilhar algo, por simples ou insignificante que seja, parece difícil aceder às pessoas, tarefa que deveria ser construtiva e divertida!