sexta-feira, 2 de julho de 2010

Percebes?



Quem leu as "Vinte mil léguas submarinas", de Júlio Verne, recordará que o Capitão Nemo frequentava, com o seu submarino "Nautilus", as águas galegas: Diz o livro que era para rechear os seus cofres com o ouro dos galeões espanhóis, afundados no local. Omite, mas é capaz de ser verdade, que um dos objectivos do Capitão era apanhar o seu marisco preferido - os percebes.. pelo menos é o que juram os galegos... Nunca se poderá confirmar esta versão da história mas, a ser verdade, é inegável que o Capitão Nemo (ou Júlio Verne, por ele) tinha bom gosto...

Os percebes - de seu nome latino Pollicipes elegans - fazem as delícias de muita gente, embora tenham aquele aspecto de "unhas encardidas". São crustáceos que, depois de passar, na sua juventude, pela fase de larvas, que nadam de forma errática pelo mar, cansam-se de ver o mundo e adoptam a sua forma adulta, criando raízes. E onde param, ficam para sempre... até irem parar à boca de um humano, claro.

O maior predador de percebes é, naturalmente, o Homem... e por vezes os sargos (que podem ser peixes, mas não são parvos)...

Os percebes precisam de água muito batida, limpa e bravia, com uma base rochosa e não arenosa. Precisam também que o sol os tisne com regularidade e também precisam de chuva para que a água doce estimule o seu crescimento. O facto de estarem parte da sua vida acima da linha de água também contribui para que cresçam mais rapidamente. Em seis meses conseguem atingir o tamanho comercial (pelo menos cinco centímetros de comprimento e dois de diâmetro). Segundo os pescadores, este tamanho é meramente comercial, e diz exclusivamente respeito aos percebes.
Cozê-los é simples. E devem comer-se quentes, dizem os especialistas. Cuidado também para o suco dos percebes ir para a boca e não para a camisa... o que obriga a abri-los por baixo e não por cima...

São caros? Bom, baratos não serão e, como canta o Sérgio Godinho: "cuidado com as imitações..." Em Espanha, a produção de percebes é de 336 toneladas, valendo perto de 7 milhões de euros. A extracção de percebes dá emprego fixo a 1.500 pessoas e indirecto a cerca de 2.500... mas o prazer de os saborear chega a vários milhões de pessoas, incluindo alguns verdadeiros percebo-maníacos... alguns, mesmo, percebo-dependentes....

10 comentários:

Virginia disse...

Não percebo nada de percebes, mas fiquei a perceber um pouco mais...:))

Nunca comi...nem sequer experimentei, assim como outros mariscos. Fico-me pelas ameijoas, mexilhões e gambas...já não é mau. Adoro fazer volauvent de camarão, é um dos meus pratos favoritos.

Susete disse...

Hum, já fiquei com fome... queremos a receita desse "Volauvent de camarão" :)

Aproveito para deixar uma sugestão para estes dias: Festa da Arqueologia, no Convento do Carmo.

Mais informações aqui:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=177535
ou
http://festadaarqueologia2010.wordpress.com/


Bom fim-de-semana,
Susete

Huckleberry Friend disse...

Percebes, coisa boa! No Baleal comemo-los amiúde e na família da minha mulher são tão sagrados como a hóstia! Tia Bicas, há-de prová-los um dia com a Helena, que começou com 3 meses...

joaopedrosantos disse...

Muito bem!
Grande relatório sobre a espécie!
20 valores

miguel disse...

Como muitas experiências ( fundamentais ) que me fogem, terei provado percebes ( ou perceves ) 2 ou 3 vezes no máximo...e sou um balealense de nascença. Do que provei, soube-me a quase nada.Além disso parecem-me a unha de um dos meus dedos do pé, atacada de um fungo destruidor!

Ou como se " deita abaixo " um post que exalta o valor gastronómico e económico de uma espécie endémicca!! :))

Não vão por mim.

Mário disse...

Miguel: não tenhas problemas de consciência. Pessoalmente, não aprecio nada os percebes, ou dizendo de outro modo: até gosto do sabor ("a mar", o que é muito vago - estou convencido que umas piutadas de água do dito fariam o mesmo efeito), mas só a ideia de ter de descascar aquela coisa, espirrar tudo, pagar uma pipa de dinheiro e comer 3 microgramas de "produto edível"... francamente!

Mário disse...

Quanto ao volauvent da Virgínia, candidato-me...

Virginia disse...

Não tm nada que saber.

Compra-se uma embalagem de massa folhada e corta-se em dois, ou se for redonda aplica-se a um pyrex, de modo a conservar mais um pedaço para tampa.

Passam-se as gambas ou camarões por azeite e alho ( a serio, não pó do dito), de modo a ficarem bem impregnados. Faz-se então um molho bechamel, margarina, farinha e leite, não muito espesso, mas também não aguado, deitam-se os camarões e mistura-se. Junta-se salsa ou coentros migados.Pode-se deitar um pouco de piri-piri, se quiser.
A massa vai ao forno muito quente -250º- até ficar loirinha. Tira-se e deita-se o creme na parte de baixo, levando ao forno para gratinar. No fim pôe-se a tampa, de modo a fazer uma espécie de caixa. Come-se bem com uma saladinha mixta ( pode ser daquelas em sacos já cortada e lavada), bem temperada com vinagre da Modena, sal , pimenta, azeite e vinagre.

Bom appetit!

Não é preciso pôr muito camarão. O molho não deve levar farinha a mais e deve ficar sem grupos nenhuns.

Susete disse...

Obrigada pela receita. Já está guardada :)

Susete

Susete disse...

Obrigada. A receita já está guardada.

Susete