A propósito das medidas que o Governo (provavelmente muito tarde) tomou, e para lá da discussão se se faz ou não TGV, se a receita ou a despesa é que devem ser intervencionadas, etc, etc, há elementos de desinformação que não ajudam, em nada, a que um cidadão consiga entender, de modo desapaixonado e não partidário, o que é correcto ou não.
Escrevo isto porque ontem ouvi um inflamado sindicalista a dizer que o aumento do IVA "vai levar à fome de muita gente". É assustador. Mas... pus-me a fazer as contas, e vi que o dito aumento (para o escalão mais elevado de IVA, e admitindo que uma pessoa compra todos os produtos neste escalão) corresponde, por cada 100€... a 42 cêntimos.
Dizia ele que "uma pessoa que ganha 300€ ficará na miséria". É inadmissível que ainda haja pessoas a ganhar 300€ por mês. Mas, se estas gastarem tudo em produtos taxados à escala máxima, verão a vida agravada, mensalmente, em 1,2€. O preço de dois cafés num estabelecimento baratuncho. O preço de 5 cigarros. O preço de um décimo de litro de gasolina. O preço de... acho que nem uma pastilha gorila.
Com argumentos deste nível, acho que nunca iremos entender o que é, de facto, possível, necessário, admissível ou imperativo.
5 comentários:
O que é mais grave não é o agravamento dos produtos, que podemos ou não comprar, mas a fraca capacidade de compra e de sobrevivência dos portugueses em geral. Aflige-me bastante, por exemplo, a situação dos velhos, que vejo na farmácia a contarem os euros para pagar os medicamentos, que sobem muitissimo todos os dias. Os anti-psicóticos, por exemplo, vão passar a ser pagos, o que impedirá muitos doentes mentais de os comprar - e pior, de os tomar - com todas as consequencias que isso pode acarretar.
Se não acabarem com as megalomanisas dos TGVs e aeroportos, ninguém aceita ver reduzidas as suas pensões, vencimentos e poder de compra, pactuar com viagens sumptuárias a pretexto de negócios bons para a economia (qual?) e outras mordomias de que usufruem os "maiores" à custa dos mais pequenos ou médios.
Não se trata de demagogia, mas da história do nosso país de há trinta anos para cá. Há sempre dinheiro para os Euros, CCBs, Expos, Mundiais, auto-estradas, aeroportos, TGVs , mas para aumentar os vencimentos e reformas dos que ganham uma miséria não.
De acordo, Virgínia. Por todo o lado continuam os gastos em coisas que chocam qualquer mortal, e ainda há a questão do TGV e companhia, que ainda ninguém conseguiu explicar ser ou não necessário. Ainda não vi ninguém a dizer para que vai servir: comércio, mercadorias, passageiros, quantos, como, onde, que gastos e que receitas, para lá de se chegar a Madrid em 3 horas (do Poceirão, claro). Não consigo ter uma opinião formada porque não consigo obter informação suficiente e credível, apenas o ruído partidário no qual não acredito até prova em contrário.
Concordo que os salários em Portugal, como dizia o inefável ex-ministro Manuel Pinho,são de miséria. Mas o que me pasma é que esse sindicalista, sendo representante e defensor dos trabalhadores, avance com argumentos que passam ao lado do fulcro da questão. E que são, eles mesmos, demagógicos.
Finalmente, colocar tudo no mesmo saco é ofensivo para alguns: provavelmente a maioria dos reformados, pensionistas, doentes crónicos, idosos, desempregados, etc, passa mal. Mas vejo coisas, todos os dias, que chocam, como o que muitos funcionários públicos (e outros) gastam em almoços, apstelarias, tabaco, carros de média cilindrada, telemóveis topo de gama, consolas para os filhos e "carne do lombo".
A crise deve-se ao mercado e à banca. Mas muito zé povinho endivida-se, gasta, é perdulário e, à sua escala, faz o mesmo que o Governo fez. Como é que depois podem criticar?
Este país está num autêntico marasmo ético...
Defendo que estas medidas devem ser tomadas, talvez não neste formato... Concordo que o aumento do IVA apesar de pesar, não é nada de significativo. Mas, se a isto juntarmos o aumento do preço base dos bens (pelo menos os essenciais)antes dos impostos, a subida das taxas Euribor (que, inevitavelmente, vai acontecer) e o crescente clima de pânico que os nossos amigos dos media fazem questão em enaltecer, então não tenho dúvidas: Estamos à beira de uma crise social de enormes proporções. Pouco faltará para começarem todos à batatada...
Por outro lado, não vejo da classe política o altruísmo e coragem necessários para que as medidas mais duras sejam impostas, precisamene, aos políticos. Isto, num cenário extremo, pode dar em revolução... O que, se calhar até nem era má ideia (mas, desta vez a sério, sem cravos). É, também, um facto que o Tuga endivida-se apenas por dois motivos: por tudo e por nada. Pode ser que toda esta austeridade ensine o povo a ser mais comedido...
Concordo com o Mário: o zé povinho endivida-se porque sonha e pouca consciência tem da gravidade dessas acções que toma; o governo faz o mesmo em consciência porque estamos estúpidos e adormecidos, abrindo-lhes caminho às avarias que fazem. A meu ver, o problema é e está no povo: moderno e sofisticado que é, fútil, trantando sempre da fachada com a casa e o sótão desarrumados. Tal como a Virgínia, tenho penas dos velhos, dos miseráveis que vêm de outros tempos que julgavam vir a ter uma velhice descansada. Depois de uma vida em censura política e de sonhos castrados, não lhes é dada sequer a oportunidade do livre arbítrio porque se decidirem ir passear à cidade, o bilhete do transporte é caro para quem dispende de uma boa percentagem da pensão para farmácia. Não viveram e, quando pensaram que iriam fazê-lo em toda a sua modéstia, isso não acontece.
Agora os mais jovens, os da minha geração e até os treinadores de bancada quarentões, irritam-me com a sua sabedoria e conversas sobre a cavalagem do automóvel e opções tácticas do J. Jesus. Se houvesse outra consciência popular, acredito que as coisas mudassem. Não era preciso greves nem revoltas, apenas pensar. Mas pensar, todos nós pensamos, e mal.
A realidade é que o português está habituado a gastar o que ganha ao final do mês até ao último tostão. Acredito que um aumento de impostos, por pequeno que seja, pode ser o pânico para muitas famílias. Porém, são poucas as famílias que conheço da minha geração (nasci em 75) habituados a poupar, pura e simplesmente não sabem como fazê-lo e há tentações a mais. Desde comprar produtos de marca branca em vez dos de marca, prescindir da TVcabo por uns tempos ou mesmo do telemóvel... até mesmo do café depois do almoço. Parece dificil não é? Mas na vida há que fazer sacrifícios e parece-me que muita gente não está para isso. São centenas de euros que se poupam no final do ano, centenas! Alexandra
Enviar um comentário