quinta-feira, 2 de setembro de 2010

o inglês que tirava fotografias

Crédito Imagem: static-blogstorage.hi-pi

Um cidadão inglês ia levando uma surra e foi detido na sequência de ter andado a tirar fotografias de crianças, na praia. Porque o fez, não se sabe - ele argumenta que gosta de tirar fotografias e que, nomeadamente, as crianças dão bons motivos fotográficos.

Os jornais inquietaram-se e, como é costume, assumiram o seu papel de "cavaleiros brancos", justiceiros, dando do "alegado pedófilo" uma imagem a condizer.

Provavelmente, muitos destes jornalistas, em viagens pelo extremo-Oriente, Índia ou África, tirarão fotografias como a que publico acima, não perguntando aos meninos e aos respectivos pais se autorizam ser manequins. E essas imagens "piedosas" vão para os albuns, internet e facebook, sem que alguém se preocupe, causando muita comoção porque "os pretinhos são muito queridos" ou "os indianos, coitados, cheios de fome". E porque é que é assim? Por duas razões: a primeira, é que somos nós tiramos as fotografias, logo, temos o direito natural de o fazer. O inglês era seguramente pedófilo, nós só queremos tirar fotografias; a segunda, é que são pretinhos ou indianos, pelo que os seus direitos são necessariamente o de ser fotografados por ocidentais. A estes é que a sociedade dá a prerrogativa de autorizar, mesmo que se estejam a expor em local público.

O inglês livrou-se do linchamento pela intervenção da polícia mas ainda ficou sem a máquina e levou uns sopapos. Dois pesos e duas medidas? Julgamentos sem tribunal? E por crimes que não o são (pedofilia não é crime)? Alguns jornalistas estão demasiado ocupados a escrever tretas para se incomodarem com isso...


3 comentários:

Pedro Cordeiro disse...

Fico sem saber se o autor do blogue e meu pai acha que o inglês tinha ou não direito de tirar fotos a crianças de outrem na praia...

Como pai, não aceito que ninguém - pedófilo ou não - tire fotos à minha filha sem autorização minha e da minha mulher. Isto vale também para os nossos amigos, quer para tirar fotos quer para divulgar a terceiros as que autorizamos. E tenho por regra não fotografar crianças, mesmo amigos da minha filha, sem pedir autorização aos pais.

Claro que o impacto é maior quando o putativo fotógrafo é um desconhecido. Já tivemos de impedir pessoas de fotografarem a minha filha, mesmo após a desautorização verbal, pondo-nos à frente da máquina. E se fosse preciso arrancar-lha da mão, com esforço físico, fazia-o. Nem pensei se seriam ou não pedófilos, simplesmente considerei-os invasivos. É uma questão de respeito, nada mais. Porque, imaginemos que a foto era tirada... bem podíamos processar o tipo, que até haver sentença, ou mesmo apesar desta, seria impossível controlar o destino das fotos - ficariam a aboborar na máquina? iriam parar à Net? O direito à privacidade existe e a única coisa que uma pessoa tem de fazer quando quer tirar fotos a miúdos é pedir aos pais. Se eles disserem não, é dizer "ok, desculpe lá" e meter a máquina no saco.

Dito isto, há que distinguir entre contextos noticiosos (criança numa catástrofe natural ou guerra, ou que é apanhada na foto quando os pais a levam a um evento público tipo marchas populares ou torneio desportivo) e privados (família tranquilamente a passar um dia na praia ou, for the matter, na varanda de sua casa). Independentemente da cor da criança fotografada, da do fotógrafo, das preferências sexuais deste e de ele ser ou não jornalista (como eu sou).

Mário disse...

Bem analisado.
A minha opinião é que as pessoas, quaisquer umas, não devem, ser fotografadas se não o desejarem, independentemente de irem para a net ou para lado nenhum, sejam crianças ou adultas.
Posto isto, há o outro lado da moeda: o exercício não-malévolo da arte fotográfica, bem como, como referes, a profissão de reporter.
Qual a fronteira? Muito pouco clara... daí... mesmo a definição de público e privado é relativa - veja-se o xirivari com o google-earth ao fotorgafar ruas das cidades.
De qualquer modo, caça às bruxas, linchamentos e justiça popular é que não... assim como justiceiros que fazem o mesmo só que travestido de boas intenções.

Virginia disse...

Conheço fotógrafos pessoalmente que fazem fotografia artística de pessoas anónimas, sem que haja nunca um pedido de licença para as fotografar. Um deles tem um portfolio das gentes da Argentina, crianças, velhos, mulheres, etc. Não o acho culpado de nada, fá-lo com a melhor das intenções e é um artista. É impossível impedir que se tirem fotografias com teleobjectivas a uma distancia grande.
Cada família deve proteger os seus, como o Pedro faz...é a única maneira de protegermos as crianças e mesmo assim....

Perseguição aos fotógrafos? É um exagero.