quarta-feira, 15 de setembro de 2010

onde é que pára a polícia?


A estreia do programa Boa Tarde, apresentado por Conceição Lino na SIC, no dia 13 de Setembro, foi marcada pela transmissão em directo do nascimento de dois bebés - um no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, parto normal; outro no Hospital de Beja, através de cesariana. Duas repórteres e respectivas equipas estiveram nas salas de parto, conversando com médicas, enfermeiras e as grávidas em trabalho de parto. Uma festa!


Estamos a falar de hospitais públicos, em que, por exemplo, se proibe a presença dos pais quando de cesarianas (contra tudo o que é lógico e científico) e se limita "ao limite" essa presença em outros tipos de partos. Para lá disto, mediatizar um nascimento parece-me bizarro - é um momento íntimo e dos pais; mesmo com a aquiscência destes (a troco de quê? dinheiro? cinco minutos de fama?). A intrusividade e os princípios (ou falta deles) subjacente a este episódio são deploráveis. 

Senhora Ministra da Saúde, que além de ministra é pediatra: isto passou-se em hospitais do SNS. Onde os pais, repito, são escorraçados da sala de partos; onde os funcionários não podem dizer nada às televisões sem autorização superior. Não diz nada? Não comenta? Não se insurge?

É o país onde vivemos. Acima de tudo, um país onde impera o mau-gosto e a falta de senso.

4 comentários:

Anónimo disse...

Hoje em dia está na modo partilhar tudo com a maior naturalidade...já não há momentos íntimos de cada um ou do casal. E chamam-nos caretas se por acaso temos esses pruridos. Daí, parece-me que esses momentos que nós achamos " Íntimos e pessoais" perderam a magia e o encanto e as pessoas gostam de se exibir e acham-se importantes por aparecerem na Tv. Estarei enganado?

Anónimo disse...

Só falta ser o Carlos Cruz fazer o parto.
José Pedro

R. disse...

Deplorável... mandaram-me o link e nem consegui ver tudo sob pena de entrar em trabalho de parto antes do tempo. Mau gosto, incompetência, falta de bom senso, enfim, consigo lembrar-me de vários qualificativos para semelhante "reportagem".

zé disse...

Este exemplo não é comparável ao que se passou, mas cá vai: a clínica de oncologia onde trabalho, bem como a maior parte das empresas deste país (e já trabalhei em muitas) funcionam sem critério definido, alterando-se este sempre que em algum manda-chuva surge um capricho qualquer, talvez porque sinta que já não dá uma ordem há algum tempo e precisa de relembrar os empregados que aquilo ali tem rédea curta. No entanto, estou rodeado de colegas que tratam doentes oncológicos como se fossem mercadoria frágil em grandes quantidades: há que ter algum cuidado, mas se um ou outro se partir não faz mal.
Depois há excepções deliciosas e é aqui que está a semelhança: sempre que há uma visita importante, tudo tem de estar impecável, arrumado, organizado, penteado, limpo, cheiroso e invejável! Mas assim que sai a visita... ó meu amigo... Os sorrisos acabam, os papéis resurgem em sítios estranhos...
No caso do hospital: "É pá, espera aí que isto é para a televisão! Vamos mostrar as nossas instalações asseadas e arrumadas! Só desta vez!"
Não era a Conceição Lino que em Nós Por Cá denunciava situações anómalas? O que é que aconteceu?