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É curioso. Curioso e inquietante.
Curioso ver que o PS levou da esquerda, da direita, das corporações que ainda continuam a existir em Portugal, de toda a gente - nas eleições eram cinco contra um (o PCP e o Bloco esqueceram-se que havia uma Direita, aliás já o fazem desde a moção de censura ao governo de Mário Soares, em 1976, mesmo que o Bloco fosse o solitário deputado da UDP; a direita esquece-se de que, se for governo, terá os sindicatos, a CGTP e o Bloco à perna... - quero ver como o PSD se sai e se resolve as questões com "consensos", estilo queijo limiano).
Inquietante, por ver a voluptuosidade das pessoas e a fraca memória histórica.
Os jornalistas e comentadores e analistas, que a Oposição dizia estarem sempre ao ritmo e sabor do governo, não deram uma abébia ao dito governo, cascando forte e feio: não se vê um único artigo a defender o PS e o governo - chamo a isto "oportunismo" e falta de espinha dorsal.
Já ninguém se lembra do deficite de 7,5% de Santana Lopes e do desvario do seu governo, ou dos anos barrosistas. A Drª Manuela Leite foi a ministra da Educação mais odiada de sempre (na parede da UNL, na Av. Berna ainda está escrito: "leite pôdre" e "abaixo o leite azedo". Foi também a ministra das finanças que se sabe. Cavaco, que agora "odeia autoritarismos" e condena as políticas de betão, esquece-se do que foi o PM Cavaco, que governou o país dez anos com intolerância, autismo e exibição de obra... de betão. Talvez sejam as poupanças debaixo do colchão que mostrem ser mais fácil tirar o homem de Boliqueime do que tirar Boliqueime do homem...
Os manos Portas continuam a demagogia de quem não é governo sozinho, dizendo, com as misses universo, que "é preciso paz, amor, dinheiro, emprego para todos, saúde para todos e educação para todos". Como? Logo se vê. O PSD - valha Rangel, que parece diferente - ressuscitou dos mortos, mas ainda não disse porque é que foi um partido chamado PSD que aprovou, decidiu e estimulou o TGV e a OTA, e porque é que os maiores defensores do TGV, por exemplo, são líderes destacados e ex-eurodeputados do PSD. O governo de Durão Barroso, em 2004, comprometeu-se (vejam aa firmeza do verbo...) com a realização de CINCO linhas de TGV!!!!
Os professores continuam a gerir o dossiê "avaliação", os médicos a questão dos genéricos, etc, etc (Portugal corporativo no seu melhor) e os sindicatos tornaram-se em partidos políticos. Parece que nada está melhor.
Não tenho particular estima por José Sócrates, mas trabalhei com ele em 1997, no processo que levou à consagração da Lei europeia mais evoluída na segurança dos espaços de jogo e de recreio, e da implementação real e prática dessa Lei. Vários países usaram essa lei e a sua aplicação. Relembro a sua coragem na questão da co-incineração.
Por isso, sem margem para qualquer dúvida, e reconhecendo muitos erros, não tenho dúvidas de que qualquer outro governante seria ou será pior.
Chega de demagogia - governar para ganhar eleições teria sido melhor. Mas o povo ia pagar caro. Virá a geração de Rangel, Seguro, Passos Coelho e outros. Até lá, mesmo com todas os anticorpos pessoais, na minha opinião, o PS e José Sócrates não têm alternativa viável, credível e eficiente em termos de desenvolvimento do país.