sábado, 31 de maio de 2008

aberrações exploradas


O circo tem que continuar, e paga-se bem para ver as aberrações humanas. No fundo, para exorcizarmos fantasmas e nos confrontarmos com o pior de nós próprios.

Só que o homem elefante não recebia um chavo nem a organização lhe fretava aviões. Nem era aplaudido pela crítica, recebendo prémios.

De resto, o destroço é o mesmo, e o fim creio ir ser semelhante. Se Amy tivesse voz, não bebesse e não se drogasse andava a cantar no chuveiro e pouco mais. Mas é uma "não-notícia", pelo que vale mais do que uma notícia.

PS: Aldina Duarte e Paulo de Carvalho lançaram discos, esta semana - quantos conseguirão vender? Quantas faixas passarão nas rádios? Quantos minutos de tempo de antena?

A praia que irradia a luz


Em tempos um pescador encontrou um tesouro nas redes do seu bote. Mas como a inveja grassava e a desconfiança era sentimento comum, escondeu o cofre num buraco da rocha e confiou a sua guarda a um dragão. Quem se aproximasse, cedo se arrependia, porque o monstro, fiel ao dono e cumpridor da promessa, logo o fulminava com o fogo do seu bafo.

Os tempos passaram e esta história nunca existiu. Provavelmente. Mas ficou a cova onde o dragão se acoitaria, na pequena baía formada pela Rocha Negra.

A Praia da Luz justifica o nome. Praia. Luz. Já lá vão os tempos em que a aldeia não era mais do que uma rua “direita” de casas de pescadores, meia dúzia de casas de férias de famílias da capital, e um bairro residencial habitado por ingleses que um dia, nos anos sessenta, hastearam a bandeira de Sua Majestade e declararam a adesão à Coroa Britânica, revolta efémera, diga-se de passagem, que terminou com a intervenção esperada, inevitável e eficaz das autoridades portuguesas.

Os tempos mudaram e a Praia da Luz cresceu. Modernizou-se. Urbanizou-se, com períodos negros de construção desenfreada. Pariu verdadeiras aberrações arquitectónicas. Mas o que é belo está acima da ganância e da pequenez humana, e a Praia, com a ajuda inteligente de alguns autarcas mais recentes, soube preservar os seus espaços mais significativos e importantes – o areal, as rochas, as enseadas... e o mar. Sempre o mar. Azul.

A Igreja é o centro de referência de quem vive e de quem chega. “Viras à esquerda na Igreja”. “Vai até á Igreja e pergunta”. Aí repousa a imagem da Senhora da Luz, que um dia, há mais de um século, um outro pescador recolheu das profundezas do mar, provavelmente das mãos do próprio Neptuno. Há cada vez menos barcos de pescadores na praia, e também não existe nenhum dragão no lugar de culto. Apenas paredes caiadas, uma pia baptismal de pedra clara, os tectos de madeira escura com travejamento singelo, e ao fundo, passado o arco rebaixado, o altar, com a sua magnífica talha doirada.

Da Igreja descemos a rua que conduz à praia, recentemente beneficiada por uma interdição ao trânsito automóvel, pavimentada com calçada portuguesa e embelezada por uma fila de palmeiras que emolduram o mar, a Rocha Negra, que se destaca, escura, sobre os tons amarelos e ocres das Ferrarias, e ao fundo a Ponta da Piedade, com as suas grutas de águas e paredes multicolores. Para trás ficou a Fortaleza, antigo fortim do século XVII, hoje convertida em restaurante, frequentado por estrangeiros. Virado para o Atlântico. O Atlântico. Azul. Ao Sul.


Deambulo pela vila – o conceito de aldeia ficou para trás, no tempo, engolido pela vertigem da construção e do poder de compra, e pela passagem dos anos -, e os meus olhos deixam-se gravar pelas buganvílias e hibiscos coloridos e florescentes. Chilreiam os pássaros e ouvem-se as crianças. Brincam na praia, aproveitando o tempo que lhes resta. A areia convida e o mar também.

Assento praça numa esplanada e bebo um gin, vagarosamente, alternando cada gole com um gole no oceano. As cores do fim de tarde começam a desenhar uma aguarela. A realidade torna-se onírica. Antes que anoiteça, o Sr. João já recolheu os toldos, e só restam as estacas brancas, qual exército plantado na areia, esperando estoicamente pelas manobras bélicas do resto do Verão.


Que fica da vida, se não os momentos bons, partilhados e vividos? Enquanto saboreio o gin, o dia escoa-se entre os dedos do tempo. E entre os meus dedos e o meu tempo, ficará a réstia do entardecer nos repositórios da memória. E o mar, sempre azul. Sempre azul. Ao sul.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

do big-bang à eternidade - 2 - "Gestação e gravidez"

Pássara grávida, ave de sol
Rompe o vitral da manhã (...)


Oswaldo Montenegro

Mulher grávida - Marcus Gheeraerts


Giovanni Arnolfini e noiva - Jan van Eyck


Esperança - Gustav Klimt


O feto in utero - Leonardo da Vinci


Gravidez - Robert Bergamo

Mulheres grávidas - Steve Gribben

As três mães - Sarah Kiser


O re-nascimento - Elizabeth Silk


Lullaby - Julianna Ziegler


A desova de Mimi - Ruby Persson


Gestação - Eduard Vigeland

acabou a pausa!

Depois de uma semana de ausência - trabalho assim obrigou -, este Blogue vai voltar à sua regularidade.
Até já.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

dez anos!


Que saudades. Foi mesmo bom. Custa a acreditar que Lisboa foi palco de um acontecimento tão fantástico!

Acho que se viveu um pouco de tudo, culminando no dia do encerramento, mas passando pelos pavilhões, pelos restaurantes (bifes de crocodilo!!!), as cervejas no Bugix ou o restaurante do Panamá, o Peter´s, o fogo de artifício, os teleféricos, a fragata Dom Fernando e Glória, os passeios, e o aquamatrix.



"Os oceanos: um património para o futuro" - considerada a melhor exposição de sempre.
Tanta coisa. Tanta emoção. Os olharapos, o desfile, as surpresas, o ambiente, as pessoas, o calor, a emoção. Sempre a emoção. Foi mesmo bom!

terça-feira, 20 de maio de 2008

do big-bang à eternidade - 1 - "A ideia e o projecto"

A vida é melodia
é poesia
é uma pintura.

A vida é uma aventura!


Começo aqui, conforme prometi, a apresentação de alguns quadros que têm a ver com a vida das crianças, da gestação à morte. Fazem parte de uma apresentação que fiz, recolhendo cerca de 280 quadros, por temas, e acompanhando-os de música e poesia adequada aos vários temas. Infelizmente, a música não pode caber aqui, e a poesia teve que ser limitada.

Mas espero que gostem...

O nascimento do Mundo - Nilly Kook


Acto da Criação - Antigo Egipto

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


José Régio


A mulher em três estadios - Edvard Munch


Puberdade - Edvard Munch


Madona - Edvard Munch


As palavras do Diabo - Paul Gauguin


O divino feminino - Beth Budesheim


A criação de Adão - Michelangelo


O nascimento da paixão - Ralph White

Nascer é forçar a tampa dum sepulcro.
A palavra mãe significa terra.
O corpo da mulher é mais feito de terra que o do homem.
O homem é pedra e fogo, incandescência solar, espectro a arder.


Teixeira de Pascoaes


Tango dip - Lee Goodall


O beijo - Gustav Klimt


Lovers - Anónimo


A perda da virgindade - Paul Gauguin


A dança da Vida - Edvard Munch


O coito - Leonardo da Vinci


Criança observando o nascimento do Mundo - Salvador Dali

Quero dar-te a coisa mais pequenina que houver
bago de arroz grão de areia semente de linho
suspiro de pássaro pedra de sal som de regato
a coisa mais pequena do mundo

a sombra do meu nome
o peso do meu coração na tua pele


Rosa Lobato Faria


Bebés - Ofir Nave

A próxima entrada será sobre "Gestação"

sexta-feira, 16 de maio de 2008

a criança e a pintura, ou vice-versa


O mundo é feito de coincidências. No mesmo momento em que o meu filho Pedro publicava no blogue dele alguns (excelentes) quadros sobre "maternidade", estava eu a preparar uma conferência sobre a pintura, a poesia e as crianças, através dos tempos. O espólio é enorme!

Seguindo a ideia do Pedro, vou agarrar algumas dessas pinturas e colocá-las, tematicamente, aqui.

Começo por uma estátua de Eduard Vigeland, norueguês, sobre o amor: é afinal aqui que tudo começa...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

prometo!

"Peço desculpa. Vou deixar de fumar"

Deixar de fumar é uma decisão pessoal. Fumar em lugares onde, alegadamente, a Lei proíbe, é uma decisão pessoal, mas passível de censura legal e social.

Ele sabe muito. Mas mesmo muuuuuuuuuuuuuito.
Pedir desculpa já é uma novidade no panorama português. Mas depois deste "baraço ao pescoço", o nosso Egas Moniz promete o que, afinal, é tão fácil: vai deixar de fumar. Dixit. Acabem com as consultas de desabituação tabágica, acabem com os pensos de nicotina e outras tretas.

Remédio para deixar de fumar: prevaricar, arrepender-se e... já está!
(uma videocâmara para a casa de banho do PM, já, para ver se ainda fuma cigarros de mentol às escondidas...). O PM não entenderá que pode fumar, se quiser, desde que respeite a Lei? E que o problema não é fumar, é fumar onde não deve?

PS: Américo Thomaz pediu uma ves desculpa de ter pedido desculpa por ter dito que era a 9ª vez que ia a Viseu, quando era realmente a décima, e quando o presidente da Câmara disse décima ele corrigiu nona, mas era a décima!

sábado, 10 de maio de 2008

será que Vale tudo?

Há qualquer coisa que me inquieta, no processo de Vale e Azevedo.

Não estou por dentro dos vários processos, nem como benfiquista me suscitou especial simpatia. Mas há algo que me incomoda, como espectador apenas mediático deste "circo", neste processo. Condenado, esteve preso, foi solto o tempo suficiente para ser preso novamente (cerca de dez segundos, para ficar livre, se não não podia ser preso porque já estava preso - e foi vê-lo vestido, de mala, a sair e a re-entrar na prisão!), saíu, agora foi novamente condenado a uma pena nada leve: sete anos e meio.

Não discuto se a moldura penal é esta ou outra, mas o que me incomoda é o facto de todos estes alegadosd crimes terem sido efectuados antes de ser preso. Porquê este calvário, de julga-não julga, acumulando penas e mais penas?

Há algo de iníquo, comparando com o que se diz dos futebol, dos BCPs, dos interesses do lobby de betão, dos erros governamentais, etc, etc. Ou dos que retiram a vida a outrém, ou dos ´pobres adolescents que, com Gisberta, só faziam uma brincadeira de crianças.

Vale e Azevedo não velejará no seu iate Lucky Me, de um milhão de contos. É certo. E porventura é justo. Mas porque será que este caso me incomoda?

a frase de ouro



Mário Neves pergunta, Humberto Delgado responde. "E o que vai fazer ao Presidente do Conselho de Ministros?". "Obviamente demito-o!"

A 10 de Maio de 1958, no café Chave de Ouro, em Lisboa. Depois, foram os banhos de multidão, a esperança, as eleições que alguns afirmam ter sido ganhas por ele, a perseguição, o exílio e o assassinato.

O General Sem medo mostrou o material de que era feito. "Olha para trás, vota no Thomaz", "olha para o lado, vota no Delgado", "olha para a frente, vota no Vicente". Arlindo Vicente viria a desistir em favor de Delgado.

O 25 de Abril surgiria 18 anos depois, com uma Guerra Colonial de 13 anos de permeio.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

despertar



Lisboa abriu-se hoje por inteira
Como no canto mais belo a Oxalá
Foi em Maio que a cidade foi ribeira
De água roxa, perfumada e tafetá.
Em Lisboa abriu-se a alma verdadeira
E sentiu-se o que existe para lá
Da magia e da arte feiticeira
Lisboa explodiu jacarandás.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

alguém me diga!

Porque é que os jogadores do meu Clube são tão perfeitos: não fumam, não bebem e... não jogam!?

quarta-feira, 7 de maio de 2008

chamar os bois pelos nomes

Disse o que tinha de dizer, com a coragem que nem todos têm e com a legitimidade de toda uma vida.
Mas há dúvidas que os dirigentes angolanos cometem crimes? Há dúvidas que se enchem de dinheiro, que controlam a economia, que a família do presidente enriquece à custa de tudo o que é negócio? Há dúvidas que Angola poderia estar muito melhor?

Que o representante de Angola saia da sala, ainda se compreende, que depois negue ter lá estado é risível, mas o BES sair à liça como virgem ofendida é que não se aguenta... quais serão os negócios do BES com Angola? E com José Eduardo dos Santos? De certeza maiores do que os que tem com Bob Geldof.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

dia da Espiga

A oliveira, símbolo do azeite; a espiga, que traduz o pão; o malmequer amarelo, que significa ouro, e a papoila encarnada, que nos traz a alegria.

Quinta-feira de Ascensão - Dia da Espiga. É fazer o raminho e conservá-lo até para o ano, atrás da porta da entrada, para dar sorte. Dará?

Segundo a tradição, no Dia da Espiga, considerado o "dia mais santo do ano", não se trabalhava - este ano calhou, precisamente, no dia dos Trabalhadores. Será muito difícil ocorrer novamente esta coincidência.

Era também chamado o "dia da hora", porque ao meio-dia tudo parava: "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam". E ao meio-dia colher-se-iam as plantas com que se faria o ramo da Espiga.

o dia em que não se trabalha


Viva o Primeiro Desmaio!