Os rankings escolares não querem dizer nada de nada. Limitam-se a ver quais as escolas onde mais alunos entraram na Universidade (ou, numa versão mais "pós-modernista", os "exames" do 4º ano). Mesmo que este critério valesse alguma coisa, seria logo errado porque podiam os alunos de uma determinada escola, por exemplo, ter entrado em faculdades onde se entra com médias baixas, e outra ter tido menos alunos na faculdade mas onde os alunos desejavam cursos que obrigam a notas elevadas.
Mas muito pior do que este erro, é o facto de se considerar, à partida, que o objectivo do Sistema Educativo e do ensino/aprendizagem é “entrar na faculdade”. É muito pobre. Porque se é só isso, então não precisa de haver escolas – cada um estudará em casa, isoladamente, ao seu ritmo. Para que, então um ensino obrigatório?
Por outro lado, compara-se o incomparável: é o mesmo que dizer que Lisboa é melhor do que São Mamede da Infesta porque tem mais gente. Não tem pés nem cabeça. As escolas não são melhores por terem alunos com melhores médias (até porque são juízes em causa própria, dado que forjam parte dessas médias através do método de classificação dos 10º, 11º e 12º anos).
São melhores as que permitem um ensino variado e inclusivo, onde os alunos progridem, se motivam e gostam de estar. E a realidade social do país é muito desequilibrada, plena de assimetrias e de desigualdades, nomeadamente quanto ao apoio que os alunos têm em casa, em livros e outros meios, em explicadores, acesso à internet, materiais, etc.
Finalmente, os rankings são muitas vezes uma “publicidade enganosa” para algumas escolas privadas manterem elevados níveis de propinas, ou para começarem (continuarem) a formar futuros dirigentes, administradores e decisores que pertencerão a determinados lobbies e classes de poder.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
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4 comentários:
Amen, é o que me ocorre dizer, pois concordo com tudo.
Se há escolas que se permitem escolher os alunos que lá entram desde o básico ( exº Aurélia de Sousa), outras há que reunem miudos dos bairros sociais que ninguém quer e que de metro hoje chegam a todo o lado ( vide Carolina Michaelis, em tempos escola de elite, mas que agora acolhe tudo e todos).
E o que é melhor? Preparar miudos menos abonados e fazer deles homens e mulheres, ou melhorar as meninges das elites, enche-las de explicações até dizer basta, prepará-las até à medula para os exames, pô-las à frente ao PC durante horas a fio e manter-lhes as notas internas a bom nível para a média final ser compostinha?
O Inglês nunca entrou para a média, mas tive alunos de 18 que se espalharam nos exames e tive alunos mediocres que conseguiram 16 nos ditos cujos. É preciso lembrar tb que os exames são corrigidos por um único prof ( porque o Estado não quer pagar a dois), falível, subjectivo, mesquinho, por vezes, porque está a corrigir os exames dos alunoa que competem com os seus próprios meninos, enfim, uma chachada. Os recursos são muitos e há alunos que sobem de 10 para 15 e farsas no género. As cadeiras de Letras são uma pantominice, com redacções a valerem 8 pontos em 20!!
Bom, ficava aqui eternamente - até porque estou com insónias e acordei ao som da chuva inclemente que cai sobre o Porto.
Concordo.
Acho que o império estatístico é um perigo real. E temos mesmo que ter medo ter muito medo...
As médias pegam em 2 homens e perante os dados concretos : 1 comeu 2 pães e outro nenhum, digerem-nos e regurgitam que em média cada um comeu 1 pão!!!
É assim em tudo.
Na educação também.
Esta coisa dos rankings cria nos próprios miúdos um stress de estar em desvantagem logo no início da corrida. O meu filho mais velho dizia que não valia a pena pensar muito no futuro porque não ía a lado nenhum pois a escola dele estava fora dos lugares cimeiros e que uma boa média de uma má escola seria um atestado de incompetência...
Disse-lhe que cada um deve ser responsável pelo que faz com o que tem á sua disposição mas não garanto ter anulado o fatalismo por completo.
A escola deveria ser a academia onde o prazer do saber se sentiria pleno. mas ao invés é um local de passagem para decorar o mais possível, mesmo sem acordar as sinapses e garantir o passo seguinte, a Universidade.
Este complexo do país de douutores faz perder muitas aptidões e cultiva muitas frustrações
(O meu conhecimento do meio escolar resulta quase exclusivamente da experiência vivida como aluno)
Sou a favor da avaliação das escolas.
Os alunos são avaliados, os professores são (e deverão!) ser avaliados, porque não as escolas no seu todo (alunos, professores e restante pessoal que integra a vida da escola).
Este ranking resulta de um critério redutor e facilmente sujeito a manipulação por parte de escolas “xico-espertas”, mas é um princípio. Aquando da primeira publicação do ranking fui a favor, porque nessa altura não se publicava informação nenhuma a esse respeito. Passar de zero a alguma coisa é bom. Que deveria ser completado ou criados outros rankings (incorporar meio sócio-económico, actividades extra-curriculares,...), concordo.
Em todo o caso, embora redutor, diz alguma coisa e para pais interessados é apenas uma ponta por onde pegar.
Avaliação das escolas começaria por uma boa auto-avaliação, um laboratório de qualidade, reuniões periódicas só para avaliar o andamento dos projectos, das aulas, da consecução dos objectivos do prjecto educativo. O que aliás já se fazia na minha escola. Uma avaliação externa viria verificar se a auto avaliação corresponde na realidade ao que lá é feito, entrevistando alunos, professores e funcionários, num ambiente saudável, sem papões, nem amedrontados.
Se alguém entrar an Carolina Michaelis, onde dei 29 anos da minha vida, a certas horas, tudo parece calmo, as aulas parecem decorrer com normalidade e um inspector daria uma excelente nota à escola. Se entrar lá de tarde , o ambiente é totalmente diferente, os alunos acotovelam-se pelas escadas abaixo, rolam mochilas pelos ares, há gritos e berros, tudo parece caótico. Basta os alunos terem de mudar de sala para que um torvelinho aconteça.
Não se pode avaliar escolas assim só pelas notas, mas pela atmosfera que lá reina, os agentes que lá agem, os projectos que os alunos fazem, o que eles dizem da escola, se gostam de lá estar, se tem bons resultados para a vida , mesmo quando são fracos alunos, há uma série de factores que me parecem essenciais e que estão ausentes destes rankings ridículos do ME.
As escolas que surgem em primeiro lugar no ano seguinte fazem a triagem dos candidatos e mandam embora os que não querem porque vem do bairro do Aleixo ou doutro bairro qualquer. Hoje em dia não é obrigatório aceitar os alunos da zona. Há escolas que para sobreviverem - dado que já quase não há alunos no centro do Porto, tem de aceitar todos os outros o que descaracteriza a própria escola, construida com outros objectivos. Agora estão a fazer obras monstruosas no que era o jardim lindo com árvores centenárias. Isto é melhorar??
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