Conheci Marcelo Rebelo de Sousa aos 9 anos de idade, no Liceu Pedro Nunes. Sempre me dei muito bem com ele, dado que era colega e amigo do irmão, e há alguns anos Marcelo falou-me porque tinha feito, nessa altura (anos sessenta) um filme sobre "Um dia na escola", em que o irmão, uns amigos e eu aparecíamos, protagonizando o que os estudantes faziam na altura. Infelizmente não estava em Portugal e não pude rever o filme.
Marcelo sempre foi brilhante, em termos académicos - já no 1º ano do antigo liceu, quase que era "obrigatório" os alunso saberem quem era Marcelo, o estudante exemplar, nota 20, uma sumidade. Na Faculdade de Direito foi o mesmo. E ainda tem a vantagem de ser um fast-sleeper que lhe permite ter dias acordado de quase 20 horas.
Tenho encontrado Marcelo de vez em quando, e sempre lhe mostro o meu respeito e amizade. A última vez que o vi pessoalmente foi em 2005, quando de um Congresso que organizei: ele aceitou falar sobre "Ser avô" e fez uma intervenção muito assertiva e divertida. Não me esqueço, também, do apoio que me deu no "caso das meningites", nem da maneira como falou do assunto - muito melhor e mais esclarecedor do que a larga maioria dos profissionais e do ministro da altura -, com a verdade dos factos e com coragem.
Isto para dizer que não há outros factores, que não os políticos, que justifiquem a minha perplexidade perante o que o "fenómeno Marcelo" faz na sociedade portuguesa. Sejam jornalistas, sejam políticos, parece que Marcelo é o oráculo de Delfos, e os sinais que envia são aguardados com uma expectativa quase angustiante.
Respeito muito Marcelo e gosto dele. Mas, amizade à parte, não consigo descortinar nele um político de primeira água, muito menos que justifique pôr o país em suspense desta maneira. Não tenho boas memórias da passagem de Marcelo como presidente do PSD, nem como candidato à Câmara de Lisboa. Todo o percurso político, em cargos, foi vulgar. E não me esqueço de algumas arrogâncias, como dar nota ao jornalista Neves de Sousa, "pela sua vida" - acho que nem Deus se atrevia a tanto.
E, quando se fala de mentir - assunto tão em voga -, e de como Marcelo afirmou (ouvi eu): "um mentiroso não pode ser primeiro-ministro", valeria a pena relembrar o "episódio da vichyssoise", em que Marcelo ludribiou Paulo Portas, mentindo-lhe descaradamente sobre um jantar em Belém com Soares que nunca ocorreu, e adicionando até a cereja em cima do bolo: uma ementa (fictícia) em que havia uma vichyssoise. Paulo Portas publicou, foi desmentido pela Presidência, ficou furibundo e vingou-se quando da formação da nova-AD (vingança fria como a vichyssoise). Aliás, em questão de mentiras valerá abrir uma COmissão de Inquérito para avaliar a mentira de Durão Barroso à AR sobre as armas de destruição massiça no Iraque.
O PSD tem de eleger um líder forte, que possa, em futuras eleições, participar numa luta política em que estarão Portas, Louçã e o sucessor de Sócrates (e o "velho" Jerónimo, claro). Pedro Passos de Coelho é esse líder, e eu, não sendo do PSD, desejo no entanto para o meu país um líder social-democrata aguerrido e que possa ser um bom PM, porque desejo alternância democrática. Rangel tem defeitos de carácter, de postura e um vácuo de propostas, a meu ver, e representa muito daquilo que não quero ser (aquilo de dizer que a política não deve incluir ética não me sai da cabeça - porque, se sim, então como condena o PM por essa falta de ética que seria "mentir"?). E como faz aquele discurso no Parlamento Europeu em que diz que "Portugal não é um Estado de Direito" (sic). Aguiar Branco é uma pessoa fraca, um ex-minsitro da Justiça que aceita violar o segredo de justiça, e que tem alguma esperteza saloia, veja-se a postura no último debate da SIC Notícias (em que só disse banalidades e nenhuma medida prática: rigor, transparência, valores...), para lá de fazer perguntas ao outro entrevistado, como se fosse juiz e o outro réu.
No meio disto, parte do povo PSD clama por Marcelo. Na minha humilde opinião, e com todo o respeito por Marcelo e pelas suas qualidades, não precisamos de um Dom Sebastião, mas sim de um Dom Dinis ou de um Mestre de Aviz.