sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

há pessoas que nos marcam - 3

A primeira vez que ouvi a voz de Herbert Pagani foi em casa de um amigo meu, anarquista, com quem tinha conversas intermináveis sobre religião, política e metafísica. Fiquei fã de Pagani, e tentei encontrar os discos de vinil (poucos) que existiam. Ouvia Megalopolis e a história dos "Estados Unidos da Europa" e da débacle da sociedade após um mero acidente aéreo, mergulhando-a no caos, com um Papa que morre pouco antes de revelar o fracasso da Igreja, vezes e vezes sem conta.

Quis o destino que conhecesse pessoalmente Pagani, em 1980 e 1981, durante as campanhas eleitorais do PS, em que ele vinha cantar (no Coliseu, no Terreiro do Paço) e eu, fotógrafo free-lancer do Portugal Socialista, tinha livre-trânsito para o palco. Conheci-o e foi um momento extraordinário, que não esquecerei, em que me contou como desejava cantar cada vez menos e dedicar-se à pintura como actividade principal.

Muitas músicas dele são conhecidas - Gracias a la vida (Merci l´existence), Chez-nous, Le vieux pape, L´amitié, Ma Méditerranée, Leçons de peinture, L´étoile d´or...

Mas, além da música e da simpatia, o que também me fascinava em Herbert Avraham Haggiag Pagani, curiosamente nascido num 25 de Abril (1944)na Líbia, era o seu percurso, em italiano, na rádio e nos discos, com uma interpretação fabulosa do Plat Pays de Brel (La Lombardia, c´e casa mia).

Foi o primeiro DJ da Radio Montecarlo.
Quadro: "Bagdad"

E era pintor. E era escultor. E era poeta.

Ecologista e pacifista convicto, foi atingido por uma leucemia fulminante em 1988, tendo morrido pouco tempo depois. Foi enterrado em Israel, porque era judeu, mas defendia a causa árabe porque achava que todos os povos têm direito à autodeterminação e à paz.

Quadro: "Dimmi che scarpa calzi e ti dirò chi sei..."

Quando soube da sua morte foi como se um pouco de mim próprio tivesse morrido. Resta a sua voz, eterna, nos CDs, e a memória do "Tu es Mario, donc?! Mois je suis Herbert." que me dirigiu no Coliseu, em Lisboa.

Quadro: "Auto-retrato"

1 comentário:

Ezul disse...

Comecei a ouvir Herbert em 1974 ou 1975 e as suas canções tornaram-se um hino para mim. Só muitos anos depois da sua morte soube do seu desaparecimento. Procurei cd's dele em Paris, em Milão...procuro no Youtube...Por que motivo o esqueceram? A mensagem que transmitia nos seus poemas continua tão actual, tão necessária!...
Hoje apeteceu-me procurar quem teve o privilégio de o conhecer. Cheguei aqui e não quis sair sem deixar ficar um agradecimento por ter encontrado este texto e estas imagens. Afinal, eu sempre alimentara, desde aqueles tempos do início da minha adolescência, a vontade de um dia poder conhecê-lo pessoalmente...