quinta-feira, 22 de outubro de 2009

idiossincrasias da espécie humana...



Era uma vez um homem. Que, um dia, resolveu
"plantar-se" numa estação de metro em Washington e começar a tocar violino. Seis peças de Bach, durante 45 minutos. Segundo se calcula, devem ter passado por ele alguns milhares de pessoas.

Aos três minutos, a primeira pessoa parou, mas seguiu o seu percurso escassos segundos depois.

A primeira moeda "caíu" aos 5 minutos: quem a deu foi uma mulher, que contudo não se deteve mais do que o tempo de a atirar.

Quem parou, seguidamente, foi um rapaz de 3 anos, mas a mãe insistiu para que ele continuasse a andar.

O homem continuava a tocar.

Mais crianças pediram aos pais para ver e ouvir, mas os pais ralhavam com elas, dizendo que não tinham tempo para estar ali especados. Os adultos mostraram-se indiferentes.

Durante esses 45 minutos, apenas seis pessoas pararam, sempr epor escasso tempo, 20 deram dinheiro e o homem recebeu, ao todo, 32 dólares.

Quando acabou, ninguém aplaudiu, e o homem seguiu viagem.

Esse homem era Joshua Bell, um dos maiores violinista da actualidade, considerado um "menino prodígio", que nesse dia dava um concerto em Boston, com bilhetes esgotados e longas filas de espera por um qualquer bilhete devolvido. O custo de cada entrada era superior a 100 dólares.

As peças de Bach era das mais complexas e o violino com que as tocou, custou 3,5 milhões de dólares.

A ideia foi do Washington Post, a performance foi de Joshua Bell, as atitudes das pessoas e... as conclusões são suas, Leitor...

10 comentários:

Anónimo disse...

Pois... Hoje em dia já ninguém liga aos outros com quem se cruza... Longe vão os tempos (que ainda cheguei a viver) em que todo o mundo cumprimentava o desconhecido que com ele se cruzava...

Quanto ao Joshua Bell ouvi-o há alguma semanas na A2 (a tocar os prelúdios de Paganini) e, de facto, é um virtuoso violinista (na minha modesta opinião de amador de música).

Virginia disse...

É interessante comparar as atitudes dos transeuntes em países diferentes.
Fui muitas vezes a Munique quando o meu filho lá vivia e adorava parar a cada esquina para ouvir os pequenos grupos ou bandas que tocavam toda a espécie de música. As pessoas estavam horas especadas a olhar para eles, encantadas, a música soava bem no meio das praças, junto aos Kaufhofs e Herties, donde saíam milhares de pessoas. Sempre dei dinheiro - algum - a solistas e grupos que encontrei nos vários países em que estive por uma razão sentimental. Os meus filho e nora tb tocaram muitas vezes em galerias de arte, espaços abertos ao público, etc sem ganharem um tostão e eu achava que devia ser deprimente estar a tocar e não receber nenhum feedback - financeiro ou verbal - de quem os ouvia. Na Alemanha isso nunca aconteceria. As pessoas vivem a música dum modo entranhado, é o país mais musical que conheço. Em York tb muitos músicos eram ouvidos por turistas e ingleses e quase todos recebiam alguma coisa. É uma cidade super cultural.

A América é outro mundo. Tudo tem pressa lá...mas Boston é um local onde vi muita animação de rua e muita gente parada a ouvir. Não sei se davam algum dinheiro mas gostavam.

Eu adoro e aqui no porto a Rua de Santa Catarina e Cedofeita estão cheia de música por todo o lado.

Mário disse...

Este "teste" do Washington Post e do Joshua Bell (tenho vários concertos tocados por ele, e é realmente divinal, a par de Anne-Sophie Mutter), incluíu, ainda por cima, as peças que ele iria tocar no concerto.

A pressa, as correrias, o trabalho, a "selva urbana" tomaram conta de nós e já não nos fazem parar para pensar, ou para ouvir preciosidades como esta.

Sem querer ser arrogante, creio que não conseguiria deixar de ouvir. Um dia, na Place de la Sorbonne, com algum frio, estive com a minha Mãe a ouvir um quarteto de estudantes a executar divinalmente obras de Bach, umas atrás das outras. Bem sei que estávamos de férias, mas é difícil resistir a música de qualidade.

Quantos desses que passaram por Bell iriam depois mendigar um bilhete para o concerto do mesmo Bell?

Um dia, Sviatoslav Richter veio a Portugal e, como fazia sempre, andou pelo país "de piano às costas". Ao passar por uma pequena aldeia, perto de Évora, viu uma capela aberta, e encantou-se com ela. Mandou descarregar o piano e deu um concerto de mais de duas horas, para algumas beatas, algumas crianças e provavelmente alguns pombos e pássaros...
Depois, arrumou "o saco" e seguiu viagem... felizardos dos que o ouviram.

Virginia disse...

A tua "arrogância" é igual a minha. Nunca, mesmo aqui no Porto, fico indiferente a música ao vivo ,seja ela tocada pelo ceguinho ou pelos sul americanos das flautas de pan, acordeão ( adoro) ou mesmo keyboard. Acho que a música é um sinal de beleza, de vida, de apelo ao espiritual e devia ser implementada pelos autarcas de modo a chamar mais pessoas às cidades e vilas. Já há grupos óptimos aqui no norte - a Artave, por exº e coros vários - o da Sé é excepcional, mas mesmo assim ficamos a anos luz da Alemanha. Na minha primeira estadia lá, tinha eu 24 anos e fui para Bona tomar conta dos cinco meninos Lutz ( tipo Mary Poppins), o Pai trabalhava como descarregador de bebidas e fruta num supermercado. Chegava a casa, tomava um duche, mudava de roupa e sentava-se ao piano. Tocava, tocava e eu encantada. Uma vez ouviu-me a pôr um disco vinil de Bach no aparelho deles e disse-me, muito sério: Se quer ouvir isso, oiça que os miudos estão lá fora a brincar. Mas feche os olhos, pois Bach ouve-se com os olhos fechados.

Jawohl!

Unknown disse...

Fantástico...
Enraçado é que, provavelmente, na maioria do rodapé mental dessas pessoas que passaram, surgiu a palavra "vagabundo" ou "bêbado"...

Mário disse...

Pois é, Zé.
Algo como: "o que é que este f... da p... está aqui a fazer, a incomodar toda a gente e a atrasar-me para o concerto do Joshua Bell..."

zé disse...

AHAHAH! Nem mais!

Miguel e Rita Clara disse...

Aprender a FRUIR!!!
Venha de onde vier a arte precisa da FRUIÇão para se completar!!!
Depois mistura-se a convenção do Topos, o lugar onde está a arte.
Para além de saber ir aos sítios onde supostamente está a arte é preciso desejar a arte e a cultura!!!
Ah e depois vem o valor do vil metal!!!Se pagas muito então é MUITO BOM!!!
Falta á civilização ocidental reconhecer o corpo da sua identidade.
Fica o desabafo...

Luís Fonseca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís Fonseca disse...

Olá Mário, é bem verdade que o tempo corre atrás de nós (ou nós atrás dele), vamos perdendo hábitos de leitura, de ir ao teatro e a concertos.
Dois apontamentos. O primeiro lembra-me aquele sujeito que querendo ver-se livre de um frigorífico usado (mas a funcionar), o colocou à porta com um letreiro “Oferece-se”. Ninguém o quis!
Na noite seguinte voltou a colocá-lo à porta mas com outro letreiro “Vende-se”. Levaram-lho durante a noite.
O segundo tem a ver com uma boleia que eu dei este Verão, para os lados do Porto Alto (já não damos boleias… mas vinha sozinho e quando tinha vinte anos andei muito à boleia). Lá estava um indivíduo na berma, polegar esticado, com mochila e outro volume que na altura não reconheci a forma pois estava mais atendo ao aspecto do fulano.
Entrou, a ausência de duche há três dias fazia-se notar. Falávamos no meu mau inglês e lá me contou que tinha vindo a casa de um amigo mas que não o encontrou.
Era professor de música numa universidade em Estocolmo e fazia todos os anos viagens nas quais, tocando na rua, se ia governando. Lá me contou que nos últimos vinte anos tinha tocado em praticamente todo o mundo. Os melhores a dar dinheiro foram os de Hong-Kong. Em África tinha tocado em poucos países e a coisa não resultava muito bem.
Eu estava encantado com a conversa mas chegámos à estação do Oriente.
Ao despedir-se lá abriu o referido volume que não era senão o estojo de um violino, e de lá sacou um CD gravado por ele com peças de Bach que ele interpretava. "It's for you". Fiquei com o e-mail dele e prometi escrever-lhe.