Não há melhor do que acordar ao som da chilreada dos pássaros que fizeram lar nas árvores da Praça Pasteur.
Lembro-me de, quando estava de "banco", o som da passarada em Santa Maria, às seis da manhã, nos dias quentes de Verão, depois das terríveis noites sem dormir e a atender casos que, àquela hora, eram sempre graves, me provocava náuseas, quase piores do que os primeiros surtos de luz ou o café com leite a saber a sabão do Toxinas-Bar.
A sensação agora é outra. De sinfonia e de companhia. E de graça.
Ao entardecer também lá estão, aos magotes, escolhendo criteriosamente algumas árvores, mas enchendo-as completamente. E chilreiam, chilreiam, chilream. Cantam, cantam, cantam.
Mais tarde, pelas duas ou três, virão os rouxinóis fazer o seu solo.
Tenho muita sorte!
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
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9 comentários:
Interessante como o mesmo fenómeno pode causar diferentes sensações conforme as circunstâncias e os diferentes estado de espírito.
Experiências estas só sentidas para quem (como dizem os brasileiros) está ligado. E é impressionante quantos passam por cá sem sequer se aperceber do mundo que os rodeia.
Para o bem e para o mal...
Vida! E é por isso, só por isso, que quero plantar uma árvore quando me mudar para a casa nova!
Sem querer fazer bajulações, não posso deixar de lhe dizer o quanto gostei da entrevista na Única! Tão simples, tão verdadeira, tão completa! Não podia ser de outra maneira.
E se hoje me sinto a mãe especial que me sinto, com uns filhos mais que especiais, não posso também deixar de o considerar "culpado"...
Até breve,
Suzana de Araújo
Esta entrada, na sua aparente singeleza, remete para algo que me traz intrigado e simultaneamente me preocupa: o quotidiano profissional dos Médicos, a sua aspereza que, para muitos deles, é o demónio, em contraponto ao ponto de vista do doente e seus acompanhantes, que partilham desse quotidiano , a maior parte das vezes como uma experiência única, pesada de angústia e a cheirar a morte. Como conciliar o carácter pedregoso da rotina quando ela se encontra com o fio, finíssimo e inconstante, que faz da fragilidade ser só um passo, aquele que separa terra firme do abismo?
A Natureza é perfeita. Ninguém que a conheça, mesmo que apenas uma pequena parte desta, consegue discordar. Fascina-me tanto... Intriga-me e delicia-me. Compreender as ligações que temos com ela e o quão dela nós SOMOS.
Mas, de volta à realidade, vejo-me forçado a fazer uma pergunta: porque raio não haveria de ser grave o chilrear da "passarada"? A essa hora os pequenitos estão cheios de fome! Até eu faço voz grossa quando tenho muita fome...
Lembra-me um documentário com base num estudo feito sobre os efeitos da iluminação urbana no quotidiano de alguns pássaros que vi há algum tempo - o facto de haver luz 24 horas por dia está a desequilibrar algumas espécies em certos locais. As crias já chilreiam toda a noite porque não há distinção entre o amanhecer e a noite cerrada. Claro que alguns países desenvolvidos (não me lembro com exactidão quais) já estão a pôr em prática 2341234 projectos para os proteger...
Bom, aqui fica um pouco da resposta à pergunta: "Porquê que foste para Biologia?". Depois do que disse parece óbvio... mas sou bonzinho e não me ofendo.
Abraços,
João Pedro
A natureza é económica, não gosta de desperdício e não tolera redundâncias, coisas sem nexo ou sem significado, nem duplicações desnecessárias.
Uma folha cai quando tem que cair, caso contrário estaria a gastar seiva a todos sem contribuir em nada.
Só as sociedades pós-sobrevivência se dão ao luxo de desperdiçar.
Os pássaros sabem oque fazem e por que o fazem. A nós compete-nos apenas atribuir juízos de valor: horríveis numa madrugada de "banco", surpreendentes e bons numa manhã outonal.
A tua escolha "biológica" é mais que entendível - e dela esperamos os frutos e a convicção.
Não és tu o menino da Catarina Furtado???? - ah!, agora descalça a bota como quiseres perante os outros bloguistas...
Abraços amigos
Não moram vocês em S.Tiago, em Lisboa, com uns Lodons centenários que dão abrigo a papagaios verdes, rolas, melros, pombos, pardais, estorninhos, enfim um sem número de pasarada que dá gosto ouvir.
É sem dúvida Mário uma outra sinfonia ou várias.
pp.
Pepê - és um privilegiado, como eu.
Acho que temos que re-descobrir os pássaros de Lisboa (para além dos inefáveis pombos), pois são o símbolo da (ainda) qualidade de vida.
"Enquanto houver um pássaro a cantar, será proibido desistir"...
Abraços
Ainda esta semana, em Lisboa, passámos por um plátano ensurdecedor: era a passarada que lhe esvoaçava em redor, em variedade pelo menos tão grande como a que descreve o Pepê. Dir-se-iam trocadas as meias-estações, como se a Primavera tivesse tomado o lugar do Outono (foi a segunda ou terceira vez que na mesma semana surgiu esta sensação). Já de fim-de-semana, no Toxofal de Baixo, enquanto a menina do cais dormia, o amigo das codornizes viu-se a braços com igual cena, mas com abelhas em vez de aves. Zuniam de forma estonteante e eram bem menos enternecedoras...
Não percebo do que fala...
Não vou confirmar nem desmentir. Aliás já telefonei ao Pinto para que ele trate de arranjar um comissão de inquérito para resolvermos esse assunto (... enfim não consegui esclarecer muito bem isso porque ele não parava de dizer que ouvia barulhos esquisitos lá "ao fundo" e acabou por desligar)
[Já foi há tanto tempo... tantas saudades que eu tenho dessa altura..]
Abraço,
João Pedro
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