terça-feira, 29 de julho de 2008

mais uma "angustiazinha"


Devo confessar que muito aprendi com os comentários da Entrada anterior (que espero continuem).
Assim, retomo o tema:


O que resta na sobra da maré?
O que fica no sumo de um dia?
O que fica de pé
Na jornada
Fornada
Do pão que tu és?

O que fica na doce nebulosa
Viscosa
Magenta
Que paira no ar?

O que fica na onda do mar
Que se espraia
Na praia
E confunde a memória,
Já de si cinzenta?

Símbolo da glória
De um anoitecer?
Ou só uma história
Para adormecer?


Fotografia: Mário Cordeiro - Baleal

3 comentários:

Virginia disse...

Li isto antes de ir para a cama....não será a história ideal para adormecer, mas a foto transmite-me paz e serenidade...é o que preciso.
Entretanto vou-te mandar uma foto dum abstracto que fiz hoje - expressa uma certa raiva contra pessoas que continuam a irritar-me, mesmo sem já fazerem parte da minha vida.

Este blogue está-se a tornar um must.

É bom poder comunicar, mesmo sem versos.

Mário disse...

Sabe simultanea e ambivalentemente bem, o fim de tarde. A mudança de cor é, talvez, o que marca mais o entardecer, bem como a súbita claridade (antes do anoitecer), talvez pelo domínio do azul claro e magenta, e a calma que ocorre (o vento cai).
Os animais, todos eles, têm consciência da fragilidade - voltam à toca, ao ninho, a casa, não sem antes fazer alguma chilrreada.
É a hora da verdade, em que as brumas e as bruxas se confundem: nem dia, nem noite. Nem carne, nem peixe. Quem sou? quem és?

Virginia disse...

É para mim, o mais belo momento do dia e o mais nostálgico.

É o recolher, dizes bem, o retorno, o barulho das chaves nas portas, os beijos do fim do dia, os "então como foi o trabalho?", o "que fizeste hoje?", "o que há para o jantar".
É a hora em que mais apetecia não fazer nada...só contemplar o céu, o mar e as gaivotas a voar baixinho...mas é a hora das "donas de casa" se apresentarem ao serviço, tratarem dos meninos, fazerem o jantar, picarem o ponto e mostrarem a sua folha de presenças....

É uma hora de libertação para quem é livre e de prisão para quem anda acorrentado.

O poema é maravilhoso, Mário....e a magenta mágica.