A 10 de Julho de 1973, o jornal Times publicou um artigo na primeira página, da autoria do Reverendo Adrian Hastings, do College of Ascension, Birmingham, com a descrição pormenorizada de um massacre praticado pela 6ª Companhia de Comandos do Exército português, a 16 de Dezembro de 1972, na aldeia de Wiryamu, no então Distrito de Tete, Moçambique. Segundo aquele artigo, mais tarde com confirmação factual, teriam sido massacradas 400 pessoas, incluindo mulheres e crianças, com requintes de malvadez. Outros massacres semelhantes teriam acontecido em Mocumbura, também em Tete, sendo na altura o comandante da Região, o General Kaulza de Arriaga.
Passaram 35 anos sobre esta revelação. E agora foi preso Radovan Karadžić, que será levado ao TPI pelo massacre de Srebrenica, em que 8.000 bósnios muçulmanos, rapazes e homens, foram executados.
Poderíamos também regressar quarenta anos atrás, a 1968, mais precisamente a My Lai, no Vietnam, onde centenas de pessoas civis vietnamitas, na maioria mulheres e crianças, foram executadas por soldados do exército norte-americano, depois de violados, torturadas e espancadas.
Ou ao Massacre de Lisboa de 1506, a "Matança da Páscoa" em que, durante três dias, uma multidão perseguiu, violou, torturou e" matou quase 4.000 pessoas, acusadas de serem judias.
Ou ao Cambodja. Ou a Luanda, logo após as eleições, onde fontes referem cerca de cinquenta mil assassinados (José Eduardo dos Santos, esse "exemplo notável", não deveria ser chamado ao TPI?). Ou ao Ruanda, Darfur, Santiago do Chile, etc, etc, etc, para não falar do Holocausto ou dos Gulag.
Entendo a raiva. Entendo o clamor perante a injustiça e o que a Humanidade não pode tolerar. Entendo as aberturas de telejornal e as vozes sapientes. Só não entendo é os dois pesos e as duas medidas... se calhar porque Wiryamu soa a estrangeiro, e 1506 já foi há muito tempo... e nós somos um país de "brandos costumes", lá dizia o Botas.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
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2 comentários:
" Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas cogitaram várias vezes a idéia de estabelecer um tribunal penal internacional permanente. Em 1993 e 1994 instituíram dois tribunais especiais para punir as graves violações do direito internacional humanitário ocorridas na ex- Iugoslávia e em Ruanda, respectivamente. Em 1994 iniciou uma série de negociações para estabelecer um tribunal penal internacional permanente que tivesse competência sobre os crimes mais graves para a comunidade internacional, independente do lugar em que foram cometidos.
Essas negociações culminaram com a aprovação, em julho de 1998, em Roma, do Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), o que demonstra a decisão da comunidade internacional de cuidar para que os autores desses graves crimes não fiquem sem castigo. O Estatuto entrou em vigor após a ratificação de 60 Estados." in http://www.icrc.org/web/por/sitepor0.nsf/html/5YBLR2 ( e atenção ao Estatuto)
Instituiçao recente, acredito que o TPI , apesar de tudo, os vá apanhando um a um... como de certo modo, se tem comprovado.
Bom dia, Miguel
Espero que sim (adoravva compartilahr o teu optimismo, mas só quando lá vir o José Eduardo dos SAntos), mas confesso que vejo o TPI a apontar apenas numa direcção política, e especialmente na direcção dos que já caíram em desgraça. Revela a fraqueza do próprio TPI - um Tribunal nobre e forte acusa quem tem de acusar, independentemente do seu estatuto.
Por outro lado, qual a bitola? Ter feito massacres? Se sim (e acho bem), qual a definição de massacre, é ou não legítimo fazê-los num "jogo" em que o objectivo é exterminar o outro clã ou tribo, e a partir de quantos massacrados passa a massacre?
Todas as guerras e massacres passam por conquista de território: afectivo ou real, ligados às duas únicas pulsões genéticas paleo-primordiais: a alimentação/água para sobrevivência do corpo, a sexualidade para sobrevivência da espécie.
É por isso que em todos os massacres, os soldados violam as mulheres. Não por estarem "famintos de sexo", mas para "inquinarem" os genges de uma tribo com os seus genes, uma forma de a "destruir" (e também pelo exercício perverso de poder, que é marcar a parte mais íntima e sagrada de uma pessoa).
Enfim. Estamos em Lisboa, vão estar 28ºC e é Verão... Viva a Liberdade!
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