Já se contam 30 mortos e perdas incalculáveis, na Madeira, devido à tempestade das últimas horas. Há cerca de 20 anos, assisti a algo semelhante no mesmo local. Tinha ido ao Funchal para umas Jornadas de Pediatria Social, no final de Outubro, e lembro-me de o tempo começar a mudar, com cada vez mais vento. À noite fomos jantar - era o dia dos meus anos -, e quando voltámos ao hotel, já as palmeiras da rua se vergavam quase até ao chão. A chuva começou, e de que maneira! No dia seguinte, a baixa da cidade estava inundada de água, lama, troncos. Morreram 4 pessoas. Os dedos foram apontados para o acaso, mas também para a má gestão e limpeza das ribeiras, a construção desenfreada em betão que interrompe circuitos de drenagem natural das águas, a delapidação das pedras dos leitos das ribeiras... as mesmas razões que, provavelmente hoje, 20 anos depois, serão apontadas. Aos mortos, nada disto fará sentido.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
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4 comentários:
Um enorme sofrimento humano. A força da água a revelar um conflito que será crescente com as deficiências do nosso urbanismo.
Helena Freitas
E apesar da tragédia humana, ouvi há pouco o Dr. Alberto João Jardim dizendo que "se não fossem as infraestruturas de escoamento de águas, todo o Funchal teria desaparecido." Isto até parece não ter nada de mal e até é bom que as infraestruturas tenham minimizado os danos a todos os níveis. Mas conhecendo este senhor e ouvi-lo dizer aquilo, soa-me logo a propaganda de boa política. Bom, se calhar eu é que estou a ser malicioso... Enfim, esta conversa nem interessa para o caso. Política?!...
Quando se vai à Madeira e se vê aqueles desfiladeiros ingremes, correntes de água a transpirar em cada declive, as encostas verdes maravilhosas, tudo parece miraculoso e vem à ideia de que paisagens destas NÃO existem! Mas depois, acontecem estas catástrofes, como nos vales dos Alpes ou nos países da América do Sul, e compreendemos que a beleza da natureza é vulnerável e que se não for sustentada de um modo inteligente, pode desaparecer num ápice. É nestas alturas que acredito ser privilegiada por viver numa cidade que não é atreita a terramotos, nem a grandes cheias , apesar de ter o mar a 10m de casa. Com o novo molhe até o Douro já foi domesticado e evitam-se as cheias da Afurada e da Ribeira.
Pena a Madeira não ser poupada.É um verdadeiro paraíso e ainda este ano o senti.
Na porcaria que este país se transformou, até as mortes são politizadas...
O indecoro e a falta de lucidez e de vergonha atingiram níveis nunca vistos. Com a passividade da maioria, infelizmente.
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