Cheiro a terra molhada.
Folhas acastanhadas
Sol filtrado pelo tom magenta do poente.
Fumo das castanhas assadas.
Regresso às aulas.
Forrar cadernos.
"Então e as férias, foram boas?".
Hoje o dia é igual à noite, em todas as partes do mundo.
Quietude? Harmonia? Ou desistência, monotonia?
Todos os períodos de transição despertam sentimentos ímpares de nostalgia e ansiedade.
Outono. Aqui está ele. Dizem que deprime, que destabiliza, que perturba.
A mim dá-me uma certa melancolia, é verdade, mas também paz interior. E sensação de voltar à Terra-Mãe. Outono. Outono...
O Outono começa hoje. E com ele um ciclo ao qual não ficamos imunes. Aproveitemo-lo...
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9 comentários:
muito bonito... este ano também me apetece o Outono!
beijnhos
A mim o Outono faz-me sempre lembrar o meu pai a dizer, numa das suas raras demonstrações sentimentais, num fim tarde chuvoso de Outubro: "o inverno é tão triste".
Eu também acho os fins de tarde tristes. Mas acho-os todos. Com ou sem chuva, e em qualquer estação do ano. Desde sempre. Desde que me lembro...
"A mim dá-me uma certa melancolia, é verdade, mas também paz interior. E sensação de voltar à Terra-Mãe."
É o que sinto, também. O Outono é aquela estação que nos faz suspirar incessantemente. Contudo, raras vezes de tristeza.
Sofia K.: Este Outono será a chegada ao Cais de um navio muito especial. Não haverá igual, estou certo, na tua vida!
Sofia: os pais marcam-nos, muitas vezes quando menos esperamos e por coisas simbólicas pequeninas, mas não vivemos nós, afinal, de símbolos, não comunicamos através de símbolos?
Lembro-me de o meu Pai, em 1979, numa visita ao departamento onde, por acaso, eu estava colocado como interno policlinico, explicar que "para se auscultar o lobo médio do pulmão direito se tinha de auscultar abaixo da axila, caso contrário se poderia falhar uma pneumonia", porque muitos médicos só auscultavam as crianças à frente e atrás.
Desde sempre que o faço, e todos os dias o recordo, quando o faço.
João Pedro: pode-se pensar no Outono como o princípio do fim ou um tempo de reflexão. A queda da folha ou a potencialidade de uma nova folha.
Há coisas de que tenho saudades nos outonos da minha infância e já tb da vida adulta. A rentrée na escola a 1 de Outubro, o cheiro dos livros novos, das pastas de couro, das bics acabadas de se inventar, dos papéis de lustro e cartolinas...mais tarde, o reencontro com os alunos do liceu, as primeiras aulas, o fascínio pelo ensino ( sim,ainda havia...), as novas técnicas e as que nós inventávamos para tornar as aulas mais saborosas, as tardes na Beira Baixa, rodeadas de pinheiros por todos os lados, as castanhas assadas na lareira dentro duma lata esburacada, os tricots na sala de profs, os chás e pasteis no café em frente ao Liceu de Chaves, a Feira dos Santos a 1 de Novembro.
Era na "so called" província que mais sentia a passagem das estações porque lá o inverno era inverno e o verão o verão.
Também tenho saudades da família, reunida depois das aulas, dos bordados e conversas, da música clássica a toda a hora...
Felizmente os netos são sensíveis ao Outono; olham extasiados para as folhinhas no chão e dizem: sabes Avó, já é Outono!
Bjo
Virgínia
Virginia
Um desafio, aqui, directo e seco: que tal escrever as memória de uma "s´tora" que andou a correr seca e meca, não digo exilada no sertão, mas por acaso na Sertã, há 30 anos, quando não havia auto-estradas... nem quase estradas. E Esposende. E Chaves. E o Puaaarto, carago. E tantos outros locais, desde o Pedro Nunes ao Maria Amália.
Tanta história e tanta História. Lembra-se do Garcia Pereira (que não é o eterno candidato a tudo, nem sei se é da família), a ensinar-nos o "th" inglês? "Enrolem a língua e vomitem a garganta. Th, th, th...".
O Outono pode ser uma das alturaas mais criativas do ano e da vida.
(um dia escreverei sobre a cigarra e a formiga...)
Não tenho jeito para memórias...e não gosto muito de remexer no passado porque com as memórias boas, vêm outras menos boas e que é preferível esquecer...:)
O Garcia Pereira político é filho do nosso guru :), segundo me disseram em tempos. E o pai tão acertadinho nos tempos da outra senhora.
Do teu liceu tb tenho belas recordações: o frio e o nervoso miudinho às 8 da manhã, antes das aulas assistidas, o Jardim da Estrela, os pátios e os almoços na cantina à escolha ( salsichas com ovos mexidos), as sumidades e os FM , haha, era tão novinha e tudo me parecia tão difícil!!!
Virgínia
Virginia
Apreciei a prudência de chamar apenas FM aos tais. Pois eu passo a explicar. Estas cenas, do tempo da Outra Senhora (nas duas acepções da palavra), ocorreram quando a rádio lançou uma coisa extraordinária: a banda FM (frequência modulada), que substituía, com vantagens, a banda MW (onda média, que ninguém agora ouve, creio) e as ondas curtas, que só davam para apanhar coisas como a Rádio Teerão, onde uma das nosssas irmãs ouviu a notícia do assassinato do Kennedy. Mas adiante.
FM eram também os Filhos dos Ministros, dos quais o Liceu Normal de Pedro Nunes estava pejado. Actualmente, alguns deles já foram ministros. E o Liceu era o único em Lisboa que tinha "professores metodólogos", os quais estavam autorizados a ter estagiários - Aníbal Garcia Pereira era um deles, professor de Inglês, e a Virgínia foi sua estagiária (juntamente com uma colega que assina os seus romances como Teresa Veiga).
Bons tempos, como serão os de agora, com escapadelas aos "soutores" (na altura não eram ainda "s´tores") para jogar matrecos ou snooker no Jardim-Cinema, ou tomar uma bica (proibidíssima pelos adultos) no 1500 ou na Favorita (pastelarias da Álvares Cabral). Cada liceu terá os seus ícones, que cada um frequentava e venerava.
A última vez que entrei no Liceu foi para pedir um documento para si, lembra-se? Há tantos anos. Mas veja o repto que lancei numa das entradas acima... I´ll keep on waiting!
Rectifico: quem fez o estágio com o GP tb não foi a Teresa veiga, escritora , mas a irmã, Margarida, mais velha que eu e que tirou Germânicas. A Teresa foi para Direito e é hoje Conservadora ou Notária ( aposentada).
A Margarida foi professora no Mª Amália durante 36 anos.
O repto fica.....mas falta-me a garra.
V.
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