terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

o 23F


Nas Cortes, começava a votação nominal para a investidura de Leopoldo Calvo-Sotelo como Presidente do Governo da Espanha. Às 18:21 horas, um grupo de guardas civis irrompe no hemiciclo do Congresso dos Deputados encabeçados pelo tenente-coronel Antonio Tejero Molina, que gritou: "Quieto todo el mundo!" e deu ordem para todos se deitarem no chão. os deputados obedeceram, excepto Santiago Carrillo, líder do PCE, e Adolfo Suárez, chefe do governo. O general Gutierres Mellado, vice-presidente do Governo, enfrentou os golpistas.

Tejero resolveu, entretanto, reunir isoladamente quatro pessoas: Adolfo Suárez, chefe do governo, o ministro da Defesa, Felipe González, líder do PSOE, Alfonso Guerra, vice do PSOE e Santiago Carrillo, como reféns especiais.

Ao mesmo tempo, as tropas saíam á rua, em Valência, e cercaram edifícios institucionais e às 21h formava-se um governo provisório para continuar a gerir o Estado. Em Madrid, a resistência de alguns militares impediu a tomada dos meios de comunicação e dos ministérios. O Rei, instado a falar, aborta o golpe de Estado através de uma comunicação em que defendeu a democracia, no seue statuto de Comandante das Forças Armadas. Já antes, Jordi Pujol, presidente da Catalunha, declarava-se ao lado dos democratas.

O sequestro do Parlamento continuou até ao meio-dia do dia 24.

Não se trata de um guião de um filme de Almodovar ou de Amenábar. Aconteceu mesmo, a 23 de Fevereiro de 1981, quando a jovem democracia espanhola correu perigo e Portugal, por contiguidade, poderia também ter sofrido com isso.

5 comentários:

Huckleberry Friend disse...

Bom resumo de um golpe felizmente falhado, mas que 29 anos depois continua a representar as duas Espanhas que ainda hoje se enfrentam. Estive há dias em Madrid e é penoso ver que a raiva entre facções se mantém.

Sobre o 23-F, ficou para a História a intervenção do rei, de madrugada, fundamental para cortar as vazas aos golpistas. Menos conhecido é que para essa intervenção foi muito importante a presença do seu então chefe da casa militar, Sabino Fernández-Campo, falecido em 2009. É que o líder golpista general Alfonso Armada era muito amigo de Juan Carlos, e evocou o seu nome para justificar o golpe, dizendo aliás que ia para o palácio da Zarzuela reunir com o monarca. Foi Sabino, sempre ao lado do rei, quem impediu tal visita (que tornaria efectivo o apoio da coroa aos golpistas), ao responder por telefone a quem lhe perguntava por Armada: "NI ESTÁ NI SE LE ESPERA".

Mário disse...

Obrigado pelos aditamentos, tão interessantes. A história do 23F, se não fosse grave, parecia quase rocambolesca. E dava um filme. Há muitas atitudes, causas e posicionamentos que ainda não terão sido completamente esclarecidos, nomeadamente - alguns dizem - as hesitações do Rei entre o deixar correr e o intervir.
De realçar a postura de Adolfo Suárez e de Don Santiago Carrillo. Não se vergaram, mesmo sabendo que poderiam correr perigo de morte.

Anónimo disse...

E algum tempo depois, nos mentideros ligados aos (graças a Deus abortados) revoltosos, dizia-se que o único automóvel que todos os espanhóis deveriam comprar era um TALBOT:

T - todos
A - andan
L - listos
B - buscando
O - otro
T - Tejero

:-)))
Filipe Snr

Anónimo disse...

Correcção:

T odos
A ndan
L ocos
B uscando
O tro
T ejero

Sorry...

Filipe Snr

Huckleberry Friend disse...

Dava um filme e deu mesmo! Pela mão da TVE e com qualidade. Podem vê-lo aqui. Saludos!