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A história era um conto, ou o conto era de histórias. Uma jovem apaixonada casa com um príncipe a quem provavelmente não deixarão ser rei. Que tem ideias ousadas sobre arquitectura, mas que tem também vários anos a mais do que a sua noiva, uma amante secreta e um feitio, ao que dizem, “nada fácil”. “Hum!.. É para desconfiar”, diriam as vozes mais sábias e menos emotivas.
Que importa! Nesse dia longínquo de 1981, Londres, o Reino e o Império, pararam para ver Carlos de Inglaterra e Diana Spencer, professora primária mas com sangue azul “qb”, darem “o nó”. Nó górdio, como se veio depois a revelar, desde o momento em que um tablóide revelou que Diana ia a concertos rock só com as amigas, ou que “até tinham dormido em camas separadas” numa viagem oficial.
Da Catedral de São Paulo até às cenas de recriminação e de revelações na televisão e na imprensa, muita água correu, muitas coisas se passaram.
Mas o conto era mesmo para valer: infidelidades, depressões, anorexias e amantes. Censuras reais e adorações da plebe. Pelo meio, dois filhos.
O casamento durou onze anos, e até ao divórcio foram mais cinco. Tempo suficiente para o povo se apaixonar pela Princesa do olhar tímido, embora sempre igual, de sorriso fácil mas gracioso, que não hesitou em visitar hospitais, creches e asilos, ou de viajar por Angola, em “traje de safari”, por entre campos minados e crianças com membros esfacelados. Foi a sua última campanha, mas talvez a que mais impressionou. Pela sinceridade e pela coragem. Mesmo que houvesse uma faceta de demasiada ingenuidade, talvez teatral, quiçá mesmo cuidadosamente estudada, escondendo graves problemas de saúde mental num contexto de fingimento aristrocrático.
O resto foi o desígnio da sua vida. Serviu-se dos media e acabou como sua vítima, até terminar fisicamente a 200 km/h no tunel de Alma, em Paris, num 31 de Agosto igual a tantos outros. Tudo o mais foram as contradições, alegrias e angústias da condição humana.