segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

custará assim tanto dar felicidade?

Ontem dei comigo a pensar numa coisa: há anos fui a uma reunião em Jersey, nas Ilhas do Canal, onde existe uma enorme comunidade madeirense - a questão que se colocava era debater a melhor abordagem para as crianças e adolescentes que experimentavam algumas dificuldades: desejavam ser portugueses, mas ao mesmo tempo esconder as suas raízes de pobreza e a sua origem rural, e precisavam de ser ingleses, mas sabendo que seriam tratados como estrangeiros.

A solução foi pensar que as sociedades estão sempre em mudança, e que se Jersey agora era predominantemente britânica, há escassos séculos era francesa, e daqui a uns anos, sabe-se lá, eventualmente portuguesa e dos países de leste. Assim, uma das recomendações foi que os britânicos aprendessem o "survival Portuguese" e que não fossem apenas os portugueses a ter de falar inglês.


Ocorreu-me isso ontem, porque os meus filhos têm em casa da Mãe uma empregada ucraniana e constatei que não sabiam sequer dizer "bom dia" em ucraniano. Assim, o nosso "trabalho de casa" de domingo foi descobrir doze palavras fundamentais: "bom dia", "boa noite", obrigado", "por favor", etc. e treiná-las.

Um país que tem 4 milhões de emigrantes e luso-descendentes, e que há menos de meio século vivia em bidonvilles, mostra por vezes um desprezo e uma arrogância enormes perante os emigrantes.

E eles ficaram já felizes ao imaginar a felicidade da empregada, quando lhe disserem "bom dia!" na sua língua materna. Há coisas tão fáceis e tão óbvias, que podem contribuir para sermos felizes - porquê esquecermo-nos sistematicamente delas?

12 comentários:

Virginia disse...

A solidariedade é uma das virtudes - qualidades - que mais necessária se torna hoje em dia.
Todos precisamos de todos e ninguém é mais do que ninguém. Hoje a minha empregada que é angolana e de quem gosto mesmo muito estava mais preocupada com a minha doença do que os meus filhos, foi-me comprar os medicamentos a farmácia, desejou-me as melhoras, etc. Converso muito com ela sobre a filha que anda na minha escola e dou-lhe conselhos sobre o estudos e relações com a escola. Já uma vez telefonei para lá por causa da miuda e falei com a directora de turma.
Neste momento ela frequenta as Novas Oportunidades das 7 às 11 e a filha de 13 anos fica sozinha em casa, mas a mãe diz que tem de ser, que tem de tirar o 12º ano para mudar de vida. Oxalá...

Gostava de a ajudar mais concretamente, mas às vezes os filhos são egoistas e não compreendem o elo que liga as mães às empregadas ( mais importantes para nós do muitos familiares próximos).
Sempre procurei que eles fossem agradecidos, meigos e solidários...mas a vida é mesmo assim. A verdade é que sem as empregadas, nunca teria chegado a onde chguei, elas foram a alavanca que me possibilitou disponibilidade para trabalhar a sério.

Anónimo disse...

Eu gostaria muito de ter depois o follow-up,s.f.f. Conte como as coisas correrem.
Uma situação engraçada e muito bem aproveitada para se tornar didáctica.

Anónimo disse...

Saudações! Finalmente, de volta à nuvem azul!
Também já me vi numa situação semelhante: há cerca de nove anos trabalhei numa empresa que fazia montagens de ar condicionado e um dos meus colegas era um russo recém-chegado. Fizemos um acordo: ele ensinar-me-ia algumas palavras em russo e eu ajudaria no português. Ainda hoje sei dizer "Bom dia", "Obrigado", "De nada", "Natureza", "Senhor(a)", "Lindo", "Festa", "Andar a pé", "Até amanhã", etc.
Sempre que encontro alguém de leste que fale russo, toca de mostrar os meus dotes!
Bom, não se trata aqui de simples gabarolice, mas de fazer os outros um pouco felizes, tentar trazer-lhes uma lembrança de sua casa, fazê-los sentir-se bem-vindos, criar algum calor e proximidade entre as pessoas e isso, em contrapartida, vai também aconchegar o que somos, dar-nos um pouco de alegria, porque alegres os outros fizemos. E com este tipo de situações lá desaparece uma frustração de um dia mau, uma arrelia...
É pena que nem todos estejam "atentos" a estas "pequenas" coisas.
Abraços!

Mário disse...

Govorite liva pô russki, Zé?
Vinha num anúncio de há mais de quinze anos, no metro - e a resposta era: então, Berlitz. (uma escola de línguas de Lisboa).

Pois é. Os meus filhos estiveram apraticar o obrigado, por favor, bom dia e boa noite.

Jo-ao Pedro: pode não servir para nada, mas divertimo-nosà brava, a imitar o sotaque ucraniano, com o nome deles. Assim se vive, assim nos dibertimos - coisas pueris, mas que fazem da vida um encanto.
O resto, as "adultices", e respectivas "sacanices", que se lixem!, se me perdoam o termo.

Unknown disse...

Que tal partilhar essas doze palavras fundamentais com todos nós? É que no fundo, todos lidamos hoje mais ou menos de perto com algum (uns) Ucranianos. Teríamos assim o nosso trabalho de casa também feito...

miguel disse...

Pronto! Já sei como se diz "bom dia" e " boa tarde" em russo. É assim que vou saudar a minha aluna Viktória Kurmaneyeva , duas vezes por semana. Boa ideia.

Mário disse...

Hoje, ao entrar no consultório, disse "Bom dia" à empregada da limpeza, que é ucraniana. Ficou a olhar para mim, surpreendida, a pensar que raio de coisa é que eu tinha dito em português, e depois, quando percebeu que eu tinha falado em ucraniano, rasgou um sorriso e disse: "obrigado! Também para si.".
Arrepiei-me!

Mário disse...

Bom dia:Доброе рáнок. (Dobroranok!)

Boa tarde: добри́день! (Dobroden!)

Olá: приві́т! (Privit)

Adeus: До побачення. (Do Pobayennia)

Obrigado: дя́кую (diákuyu)

Por favor: подо́батися. (podóbatysia)

Virginia disse...

Felizmente a minha empregada é angolana e fala PORTUGUÊS...
Andei uma vida a ensinar Línguas e agora só me apetece falar ESPERANTO!!! :))

Mário disse...

Querida Irmã.
Durma bem
Sonhos felizes
Saudades

Kara fratino.
dormi bon
revi felicx
Sopiri.

Virginia disse...

Sopiri, sopiri....terá a haver com suspiros? Foste ao teu Esperanto sem Mestre ou ao de algibeira?

Se dormir bem é estar há 4 horas a tentar pregar olho, sem a minima chance de chegar ao Morfeu... then pigs will fly!!

Sou uma farmácia ambulante e só queria fechar os olhos e dormir....

Thanks anyway.
Tomorrow is another day ( Scarlet O'Hara, a minha guru)

Bjo

Mário disse...

João Pedro
Querias o feed-back: O resultado foi espectacular.
A empregada ficou maravilhada. Aproveitando os seus "conhecimentos", o Eduardo distribuíu "dobri ranoks" e "diakúius" pelos colegas de escola ucranianos e, segundo as suas palavras: "Ó Pai, pensar que é tão fácil as pessoas ficarem felizes logo de manhã!".
No fundo, o título desta Entrada. Vale a pena, mesmo contra ventos e marés.