sábado, 10 de janeiro de 2009

depois do ponto final, pronuncio-me.


Picasso - Maya com uma boneca

Factos
12.02.02 Nasce Esmeralda
28.05.02 É entregue ao casal Gomes num consultório dentário da Sertã, pela mãe biológica. PERGUNTA: em que condições? Já havia uma Lei da Adopção em Portugal e há muito que se falava de adopções "pela porta do cavalo". Houve dinheiro envolvido?

11.07.02 Baltazar diz que assumirá a paternidade após fazer exames de ADN. PERGUNTA: O que ganharia este rapaz, quase desempregado, em ter uma filha? Na altura não era a "Esmeralda dos media". Se não foi por amor e responsabilidade paternal, porque seria?

08.01.03 Testes confirmam paternidade e Baltazar perfilha a menor em Fevereiro. PERGUNTA: porque insistem alguns em dizer que a miúda teria "morrido à fome" se não fosse o tribunal? Acaso saberão que, na altura, um teste de ADN pedido por particular custava 1500€? E que, mal o tribunal propôs, Baltazar aceitou? E não acham que seria legítimo duvidar que o filho fosse seu quando o motivo de abandonar a namorada tinha sido, precisamente, o facto de ela andar com vários homens?

13.07.04 Sentença de regulação do poder paternal dá guarda da menor a Baltazar. Casal recusa entrega. PERGUNTA: o casal não deveria ter sido imediatamente forçado, pelas autoridades, a cumprir a decisão do tribunal? Estavam acima da Lei?

03.08 Iniciam-se contactos da menor com os pais

19.12.08 A menina é entregue ao pai para passar férias de Natal



05.01.09 Tribunal prolonga estadia por mais uma semana e entrega a guarda provisória da menor ao pai.
PERGUNTA: quase cinco anos para fazer cumprir uma decisão do tribunal que envolvia uma menor... a Justiça não deve meter a mão na consciência? Bem como os que, durante anos "não sabia," do paradeiro da miúda apesar do sargento se apresentar ao serviço todos os dias?

CONCLUSÃO: fez-se Justiça. O Tribunal agiu bem. As espertezas saloias do casal Gomes prejudicaram a criança. O pai demonstrou um carinho e uma luta espantosa, apenas por amor à filha. Está de parabéns. Quanto ao sargento e à mulher, que se alistassem nas filas para adopção, como fazem tantos e tantas. Quiseram ir pela "via verde", num anódino consultório dentário da Sertã... (e como, volto a perguntar? Não lhes terá cheirado a esturro agarrar numa criança assim? Não teria pai? Só mãe?).
Vergonha também para todas as grandes cabeças pensantes que debitaram ciência na TV e nos meios de comunicação em geral. Houve quem até dissesse que se este pai amava a filha verdadeiramente, a desse ao casal - a pergunta deveria ser devolvida a quem a fez, relativamente aos seus próprios filhos ou netos...

8 comentários:

miguel disse...

Certo...mas...neste país continuam a haver casos que " merecem" estas "transações de vão-de escada". Há por aí gente com muito amor para dar, há por aí gente incapaz de dar esse amor, todas as crianças carecem dele ccomo carecem de pão e água. O amor não pode esperar e muitas vezes espera demasiado tempo.

Mário disse...

É, Miguel, mas tem de haver regras.
A teoria de que, depois de uma criança estar com um determinado casal (que não nego lhe dê afecto), fica "agarrada afectivamente" não colhe, porque então estaríamos a legitimar e a fomentar os raptos de crianças (como os que têm havido em maternidades).
A Justiça foi vergonhosamente lenta, e a pergunta a que ninguém responde é: o que faz um rapaz sem dinheiro querer ser pai, se se provasse que o era? A Esmeralda de 2004 não "vendia livros"...
Por outro lado, que atitude é esta de um casal que vai buscar uma criança subrepticiamente - ainda por cima um agente da autoridade? Egoísmo de terem uma filha, sem pensar no melhor interesse da criança e no seu direito a ter um pai, já que a mãe estava disposta a dá-la.
Aliás, a mãe aparece agora a reivindicar não sei o quê, porque é quem mais deveria estar calada.
E como se deu essa troca? Quem foi a intermediária? Quem observou medicamente a criança depois dessa "dádiva" e não comuynicou o facto à Comissão de Menores? São estas perguntas (e outras) que gostava de ver respondidas, em vez de declarações de Benfica-Sporting, como as que houve ao longo destes meses.
Fui muito solicitado a intervir, e nunca me pronunciei. Mas acredito no amor dos pais, e se Baltazar fosse Baltazara, uma mulher, tudo seria diferente. É issoque é inadmissível.
Boa sorte para a Esmeralda, que bem merece, como todas as crianças, especialmente as que são maltratadas pelo egoísmo dos adultos e pela estupidez da Justiça.

miguel disse...

Aliás posicionei-me , inicialmente, contra Baltazar. Foste a primeira pessoa, contra-a-corrente, a reflectir a questão de maneira diferente. Partindo da tua posição, fui-me questionando.
Hoje, a minha posição, este caso, está muito mais alinhada com a tua.

Que ele vá servindo de study-case.

Mário disse...

Sabes, Miguel, nestas coisas eu sinto-me sempre enviesado, porque sabes o que sinto - e que sei que sentes - enquanto Pai.
O poema do Jorge, que por mero acaso circunstancial repousa na Entrada abaixo, foi dos que mais me marcou, pelo que posso entender não ter a lucidez total que se exigiria.
O que, no entanto, me irrita, são as caganças de juízos de valores, porque de um lado estava um casal e do outro um homem só. Ninguém se preocupou em saber que aquele "borjeço" (entre aspas) (até drogado lhe chamaram) tinha sido um brilhante aluno na escola, e que tinha desistido de estudar por falta de dinheiro, tendo de começar a trabalhar.
A Drª Maria Barroso é que teve a infeliz frase que citei. O que sabe ela (ou outra pessoa qualquer) dos sentimentos dos outros, designadamente de uma coisa tão íntima como a parentalidade?

Hoje, no Publico on-line, nos comentários dos leitores, alguém sugeria sarcasticamente que ela desse o João Soares ao casal Gomes, para o compensar... dá vontade de rir, mas o assunto é demasiadamente melindroso para isso.

Talvez porque eu, imaginamdo-me numa situação destas - imaginando, porque a minha empatia não chega para sentir o que cada um vive em coisas tão transcendentes - acho que faria como o Baltazar. E creio que lutarei pelos meus filhos, contra tudo e contra todos, porque eles são parte de mim, e a razão de ser da minha existência.
Este aspecto antropológico e trancendental, quase cósmico, entendeu-o Baltazar, quando, há 6 anos, era um jovem pedreiro que ganhava o ordenado mínimo. É isto que acho fantástico e por isso fico radiante com a decisão do Tribunal, porque sei que ele amará Esmeralda como nenhum sargento Gomes o poderá fazer - ele representa o altruismo, o casal Gomes o egoísmo, e quanto a isso sei do lado em que estou.
Esmeralda vai ter, finalmente, o lar que merece.

Anónimo disse...

Sempre achei as coisas relativamente simples neste caso. Conhecendo bem os factos (não só a história recente) não há assim tantas possibilidades.

Anónimo disse...

A "César o que é de César". Sendo ele o pai da criança tem todo o direito de a ter consigo. No entanto, penso que passou demasiado tempo, e temo muito por esta criança, para quem os seus pais são aqueles com quem sempre viveu. Criam-se hábitos, rotinas e afectos que vão muito para lá da parentalidade. Parir é dor criar é AMOR

Virginia disse...

Bom, a criança que sofreu abusos logo desde à nascença - porque venderem-na a um casal desconhecido é um abuso - vai sofrer toda a vida o clima de litígio em que cresceu e que findou (?) agora com a entrega ao pai Baltazar.
A mãe biológica é imputável e deveria ser penalizada fortemente pois o que fez foi criminoso.
Quando vivi na Sertã não havia dentista.....só aos fins de semana, com uma bicha que chegava a rua.:)))
Até pode ser que a criança venha a compreender que o sangue é mais forte que a água e descubra os laços que a prendem ao seu pai verdadeiro.
Quanto aos outros dois, acho que são irresponsáveis e que já ninguém lhes vai entregar nenhuma criança para adoptar.

Os media são culpados tanbém pela forte pressão que exerceram sobre os tribuais e publico.

luarmina disse...

Vamos ser rigorosos...Esmeralda não nasceu no dia 2 de Fevereiro de 2002, nasceu 9 meses antes. Se vivessemos nos tempos em que não se realizavam exames de ADN nunca teria pai biológico. Vejo incensar tanto os laços de sangue...mas se os laços de sangue são iguais a amor porque é que foi preciso exame de ADN? Também vejo aqui pôr em causa a forma como a criança foi entregue aos cuidados do casal Gomes. É que a criança foi entregue para cuidar pela única pessoa que à data tinha esse poder, isto é, a mãe. Qualquer pessoa que detenha o poder paternal pode entregar para cuidar, para cuidar, friso. O pecado do casal Gomes foi ter querido adoptar...se não o tivessem feito hoje estariam com a criança sem qualquer problema. Ou não estariam? O Baltazar teria dado um passo para a ir buscar? E se tivesse ficado com a mãe numa vida de abandono...o Baltazar tinha ido buscá-la? E era sempre a mesma Esmeralda...com os mesmos laços de sangue...Só que sem exame de ADN os laços de sangue não "falavam"!!!
Uma coisa posso garantir aos apoiantes de Baltazar.Na maioria dos países da Europa Balazar, após ter abandonado uma criança e a mãe até a 1 ano, teria sido inibido de exercer o poder paternal. Se contra tudo o que eu sei de Psicologia Infantil Esmeralda conseguir ter um desenvolvimento equilibrado, ficarei feliz. Os adultos têm o perfil construído, de uma ou outra forma a sua vida seguirá o seu caminho.