segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Jan Palach

Nunca me esquecerei. Os jornais noticiaram, faz hoje 40 anos. Jan Palach, um estudante checo, imolara-se pelo fogo na Praça Venceslau, como protesto pela invasão da Checoslováquia pelos tanques do Pacto de Varsóvia.

O que leva um jovem a decidir-se por isto? Suicídio? Incapacidade de viver com uma realidade externa insuportável? Sacrífício para que a liberdade ganhasse mais força? Heroísmo? Cobardia? Não sei responder.

Mas sei que, com 13 anos, passei muito tempo a pensar no assunto. Impressionou-me. E fez-me pensar que a liberdade não é compatível com certas formas de poder. O que aconteceu na Checoslováquia, em 1968, foi talvez o click para a minha tomada de consciência social e política.

O exemplo de Jan Palach foi seguido, nas semanas posteriores, por quase uma dezena de jovens. O seu corpo foi cremado e as cinzas entregues à mãe, para que nada restasse e não se fizesse dele um mártir. Vinte anos depois, em 1989, a Semana Palach, organizada pela resistência, foi brutalmente reprimida, e tornou-se num catalizador das mudanças políticas na Checoslováquia que levaram à "Revolução de Veludo".

Curiosamente, já em 1969, o astrónomo Luboš Kohoutek (no exílio) tinha baptizado um asteróide com o nome de Palach.

Recomendo vivamente a leitura de "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera, e de "Rock´n Roll", de Tom Stoppard. Talvez consigamos entrar um pouco na mente de Jan Palach.

Viva a Liberdade!

2 comentários:

Virginia disse...

Podes pensar que estou a divagar, mas li "A Insustentável..." em Praga, quando fui num package tour com o meu -ex a Viena, Praga e Budapeste. Levei o livro, que já tinha, e na camioneta ia-o lendo. Foi uma experiência interessante. Já tinha visto o filme com o oscarizado Daniel-Day Lewis e a tão formidável quanto bela Juliette Binoche.
Vi Praga em 1971 com os pais e ainda havia tanques russos e soldados na Praça Venceslau. Voltei lá trinta anos mais tarde e a cidade decadente e cheia de patine, lindíssima, com o rio Vtlava dourado e azul, tinha-se transformado num paraíso para turistas, o que me desconsolou um pouco, embora a Liberdade fosse total.
Pessoas como Jan Palach imolam-se, segundo acredito, para que algo se faça, não porque não amem a Vida. O seu sacrifício é em prol de uma transformação ou mudança política, de mentalidades ou pela Liberdade.

Pat disse...

Ao longo da História assistimos a atitudes de dezenas de Homens com quem concordamos, dicordamos, nos deixaram preplexos, mais ou menos impressionados. Tudo em nome da DIFERENÇA. E, para mim, é isso mesmo que tem valor, fazer-se a diferença, pela liberdade, pelos ideais, pela coerência.
Jan Palach foi um desses Homens (com H grande!). Tal como diz a Tia Bicas, acredito que se imolou precisamente por amor à vida e por acreditar que prescidindo dela poderia marcar a diferença.
Viva a Liberdade e Vivam os Homens que, de algum modo, contribuiram e contribuem para ela!