segunda-feira, 6 de julho de 2009

utopia, o não-lugar da sapiência.

Foi num dia 6 de Julho, em 1935, que Thomas More, Grande Chanceler da Inglaterra, foi decapitado em Londres, por ordem de Henrique VIII.

Foi aluno em Oxford, tendo sido colega de Erasmo, e chegou a membro do Conselho Privado do Rei. Após a queda do cardeal Wolsey foi nomeado Grande Chanceler, mas como se manteve fiel a ROma e se recusou a assistir à coroação de Ana Bolena, foi condenado, primeiro a prisão perpétua, depois à pena de morte por crime de alta traição.

Thomas More era filho de um juiz, que tinha como objectivo, para os filhos dotá-los de conhecimentos e de vontade própria e livre, não distinguido entre filhas e filhos (o que, para a época, seria uma raridade): todos aprenderam latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia.

Considerado um exemplo de humanista, o nome de More está associado indelevelmente à sua principal obra, "Utopia", editada em Basileia por Erasmo. "Os utopianos abominam a guerra como uma coisa puramente animal e que o homem, no entanto, pratica mais frequentemente do que qualquer espécie de animal feroz. Contrariamente aos costumes de quase todas as nações, nada existe de tão vergonhoso na Utopia como procurar a glória nos campos de batalha.". Contudo, a República da Utopia cedo faz a guerra, para auxiliar outro país, e com esta desculpa torna-se ferozmente violenta. Curiosamente, alguns membros da Administração Bush tentaram citar partes da Utopia de More para justificar a invasão do Iraque. Foi a segunda morte de More, certamente.

Decapitado (depois de estarem previstas múltiplas atrocidades e tortura), a sua cabeça esteve exposta na ponte de Londres durante um mês. Foi canonizado em 1935. Em 2000, o Papa "nomeou-o" como padroeiro dos Estadistas e Políticos.

PS: consta que há uma segunda Utopia, só que escrita por Thomas Mann, pelo menos de acordo com o que afirmou o PR Cavaco Silva, que a citou como "o livro que estava a ler nas férias"... provavelmente ao som dos concertos de violino de Chopin Lopes...

4 comentários:

Anónimo disse...

"A Man for All Seasons".

Vi três vezes este belíssimo filme com o Paul Scofield a fazer de More.
Também li Utopia em inglês na Fac. e estudei os conteúdos oníricos sobre a sociedade ideal de um sonhador...
Utopia compara-se com o "Animal Farm", são paralelos, só que Orwell era um homem terra a terra, realista e prosaico na sua visão do mundo, More um idealista tenaz, daqueles que "mais vale quebrar que torcer".
Entre os dois, prefiro Orwell, meu escritor de eleição. Gosto mais de alguém que prevê um futuro pessimista e nos salvaguarda, do que aqueles que passam o tempo a sonhar com o impossível e aguentam as maiores injustiças e torturas a defender esses ideais.
São santos? Talvez.


V.

Miguel e Rita Clara disse...

A resilência é uma qualidade em desuso, sobretudo desde que nos meteram no espírito a ideia de que a frustração se deve evitar...
Uma outra qualidade que me ocorre quando vislumbro tenazes sonhadores, é a ARETHÉ, descrita na tragédia grega, a dignidade com que se suporta a carga do destino...
Utopia Resilência Arethé - o meu eixo!!!
( desculpem o Dramatismo mas serei sempre actriz de formação)
Orwell foi militante comunista até compreender a preversão dos seus líderes, capazes de desejarem e fomentarem tragédias sociais para se alimentarem das consequências e das vítimas. Para quem não saiba até o quiseram dar como delator e louco... O preço da lucidez...
Ah e quanto ao engano do PR, esperemos que a Montanha Mágica fosse o seu livro de cabeceira desde a adolescência...
Até o consigo imaginar como tísico e romântico... calado claro...
Parabéns pelas visitas, confesso que também me habituei a passar por aqui como quem vai até ao largo da Igreja numa aldeia...

Mário disse...

Rita e Miguel - vocês já fazem parte deste Blogue. Aliás, é bom ter-vos aqui porque a vossa criatividade e bonomia são contagiantes. E a cultura, claro.
Quanto aos concertos de violino, eram do Chopana Lopes...
Abraços para Torres Novas.

Anónimo disse...

Não penso que as utopias - por muito belas e tentadoras que sejam - levem o Homem a algum progresso concreto, a não ser a busca da felicidade e do sonho.
Ser realista é uma virtude, contrariamente ao que possa parecer. Protege-nos de nós próprios e protege os outros que dependem de nós.
As grandes paixões idealistas levam a grande desgraças, ouvi dizer ( penso que ao meu -ex)a propósito dos filósofos alemães, Nietzsche e outros.
Um pouco de utopia, however, ou idealismo brando serão necessários para que o Homem sobreviva....não há nada pior do que olharmos para as notícias da TV sem pensar no outro lado que eles nunca mostram, o lado belo da Vida e os feitos de tantos e tantos homens e mulheres, todos os dias.

V.