sexta-feira, 6 de novembro de 2009

excesso de zelo



Em 1997, a situação dos parques infantis e espaços de jogo e de recreio era pior do que má, morrendo crianças e sendo internadas muitas por traumatismos~e ferimentos acidentais. Nessa altura, o governo decidiu, através do ministro José Sócrates, criar um grupo de trabalho para o efeito e tornar lei as decisões técnicas deste.
Em consequência, a segurança dos referidos espaços aumentou enormemente e os acidentes desceram muito.

Em Maio deste ano, o Governo procedeu à revisão da Lei, estabelecendo o encerramento dos parques que não cumprem a legislação e que teriam de pagar coimas: ao encerrarem, deixam de ter de o fazer. Em Oeiras, por exemplo, fecharam 80 parques, por "dá cá aquela palha", reduzindo enormemente as oportunidades para brincar em meio urbano. Mais: as crianças irão procurar outros locais, menos organizados, com eventual aumento de risco e de perigo.

O excesso de zelo leva ainda a coisas quase surrealistas, como a multa por "não ter informação quanto à lotação do parque" ser sete vezes superior à multa decorrente da "amputação de um dedo de uma criança num equipamento perigoso"!


Outro aspecto errado, é que o valor das coimas não reverte para a implementação da segurança nos parques ou para a formação de técnicos.

A APSI, por exemplo, tem solicitado ao PM uma reunião para debater o assunto. Desde Maio que a resposta é o silêncio. O mesmo JS que lutou pela legislação, de um modo corajoso e determinado, é o JS que, agora, torpedeia a dita cuja, de um modo determinado mas, creio, menos corajoso.

7 comentários:

Virginia disse...

É uma coisa que faz dó, cá em Portugal. A ausência de parques infantis, com acesso fácil que não seja o carro necessáriamente. Aqui onde eu moro até há um a uns 20m da minha casa e outro na Foz, já bastante mais longe.
Noa zona onde morávamos em Harvard ou em Arlington, nos EU havia pelo menos três parques perto. Uns até tinham slopes para a neve. Cada quarteirão tinha um, cheio de baloiços e sempre com campo de jogos para a pratica do basketball e futebol. Era um gosto. No Verão,abriam as torneiras - sprinkles - e então os miudos tomavam banho nos salpicos dos torniquetes, era uma festa. Além do mais conviviam negros, com chineses, brancos e portugueses , tudo numa animação saudável para as crianças e para os pais ou avós.

Cá é raro encontrar sítios giros para os miudos. Hoje fui à Foz com o meu neto que faz anos e almoçámos junto ao mar na Foz. O mar tinha despedaçado grande parte do parque infantil que eles têm no verão - e que todos os anos reconstroem na areia!! Mas foi bom, na mesma.

Teresa disse...

Aqui em Coimbra ainda há alguns parques, mas devia haver um em cada bairro onde as avós pudessem ir a pé com os netos pois muitas não guiam ou não têm carros onde caibam a malta toda ( Com esta coisa das cadeirinhas, a verdade é que nunca posso ir buscar os meus quatro netos ao colégio !). Aqui ao pé de casa tenho o Jardim Botânico mas sem espaço para crianças e povoado de gente duvidosa. O problema da insegurança é premente hoje em dia. Noutros parques fazem uma coisa engraçada que é separar o espaço dos mais pequenos do dos mais cresciditos. Assim, com crianças de idades diferentes, um só adulto não chega para vigiar dois lugares por vezes afastados um do outro! As nossas crianças ( pelo menos nas grandes cidades)vivem, cada vez mais, fechadas dentro de casa ou de Centros Comerciais que são uma fonte de consumismo ou de birras, se os Pais ou Avós não forem na cantiga deles !

Anónimo disse...

Estimado Professor,
Entro num parque com o meu filho de 4 anos e fico logo de orelha levantada para um conjunto de coisas que poderiam ser melhoradas, outras ainda uma aberração. Mal foi ter conhecido há uma dezena de anos, perdido no meio de uma América profunda, um parque infantil simples mas (re)pensado. O chão, por exemplo, era meio relva, meio feito de borracha reciclada, tinha imensas estrelas e dizia: “We have loved the stars too deeply to be afraid of the night.” Em Barcelona, cada bairro tem um parque infantil com areia, pais que conversam e baldes e pás comunitários. Impressiona.
Quanto ao 3ª e 4ª parágrafos: porque vai tudo para o mesmo saco? E que isto de começar e depois da massa feita deixar esmorecer ou estragar, é tanto uma tendência em Portugal?
Outra tendência, ou moda agora, ainda no campo da insegurança, é a de se fecharem os sacos de prendas com agrafos. Mesmo nas lojas de crianças. Peço sempre para não os fecharem. Sinto isto tão perigoso.

Amélia do Benjamim

Mário disse...

O que não consigo compreender são os critérios de, por exemplo, estabelecer este sistema de coimas, em que a falta de um aviso é muito mais penalizada do que uma lesão definitiva.
Por outro lado - e foi um risco para o qual o Grupo de Trabalho avisou o governo da altura -, o excesso de zelo pode levar a encerrar espaços que são aproveitáveis e que falham por coisas não-perigosas. Claro que se as multas forem elevadas e a fiscalização cega, então os donos dos parques (autarquias, na sua maioria) optam por fechar.

Amélia: uma das maiores armadilhas são as actuais embalagens de plástico duro, enormes, que envolvem as coisas mais pequenas, como uma pendrive, por exemplo. COnseguirmos abri-las sem estralhaçarmos os dedos é obra!

catuxa disse...

É pena que se caia no facilitismo quando a coisa começa a dar trabalho. Talvez fosse de a APSI vir para as TVs falar disso... muitas vezes, é a melhor forma de pressão.
Os parques (para brincar, fazer desporto, apanhar ar, conviver) fazem muita falta a crianças e adultos e, com o nosso clima, é uma pena que se perca a oportunidade.

Miguel e Rita Clara disse...

Aqui há uns anos uma Senhora (pedagoga reformada) fez uma reflexão que recorrentemente regressa ao meu espírito: a melhoria do nível de vida das famílias fez com que muitas deixassem de frequentar espaços comuns e passassem a permanecer quase em exclusivo nos seus espaços privados. Sustentava a mesma senhora que esta mudança estava a transformar a classe média em gente menos culta e menos capaz de socializar com diferentes estratos e condições.
Acho que esta reflexão, apesar de não pareceer, tem tudo a ver com o post. Fecham-se espaços públicos mas existem cada vez mais baloiços em casa, piscinas em casa, ginásios em casa. Só não estão lá os outros, os diferentes de nós!!!
E já agora, sobre segurança infantil, e ainda que ache ser um assunto importante, creio que de tanto nos assegurarmos corremos o risco de fazer dos nossos filhos incapazes e assustados.
Um tronco deitado tem infinitas possibilidades, de cavalo a ponte sobre um rio agitado!!! Talvez se simplificássemos e se recorressemos a memórias pudéssemos projectar parques que nnão se esgotem num único round...
Viva o ESPAÇO ao AR LIVRE E COMUM!!! Ensina sempre!!!
Bom Fim de Semana

Mário disse...

Devo dizer que sou contra os parques infantis, entendido como espaços de equipamentos monótonos destinados apenas a crianças e vedados aos adultos.

Defendo parques para todas as idades, como espaços lúdicops, de descanso e de recreio, com acentuada preocupação ecológica e estética, e que tenham áreas de exploração e de aventura, com elementos inacabados, no sentido do que a Rita e o Miguel escreveram.

Por outro lado, os equipamentos devem ser seguros para todos os utilizadores: se eu quiser andar de baloiço ou de escorrega, porque não? (faço isso com os meus filhos e fico um bocado mal na fotografia - o que me desculpa aos olhos dos passantes é ser pediatra e pai...).

O que vi na Suécia é um outro mundo: espaço bem verdes, com actividades diversas, bem orientadas para evitar conflitos, e cujo uso é livre. Tantas histórias se poderiam contar, designadamente o que se gasta com equipamento amortecedor que só tem razão de ser nas áreas de hipotéticas quedas verticais e que, nas quedas com propulsão horizontal podem causar graves fracturas dos ossos longos... ou os que não têm protecção solar e aquecem...

A areia, por exemplo, é o material melhor... e os nórdicos só não a usam porque não a têm. Pois nós, tendo-a, vamos comprar casca de pinheiro, cara, que alaga no Inverno e seca no Verão, causando mais crises de asma, irritações dérmicas e pequenos cortes na pele. Tudo isto é mais do que sabido, e o presidente da International Playground Association é um dos maiores peritos mundiais do assunto. o portuguesíssimo Professor Carlos Neto, da Faculdade de Moticidade Humana. Bastava ouvi-lo!