quinta-feira, 8 de novembro de 2007

relíquia do sonho (pesadelo) comunista


E por falar em Alemanha, hoje faz 50 anos o Trabant, esse símbolo da DDR e da fantochada que foi a República "Democrática" Alemã. De democracia não tinha nada, e de opulência e qualidade de vida nada tinha. Foi um logro, mesmo para muitos que já acreditavam que a URSS não era o "sol da Terra".

Reservatório de anedotas, após a queda do Muro, o Trabant poluía mais do que quase toda a indústria do Pacto de Varsóvia junta, e tecnologicamente era uma bodega. Acessível à classe média-alta leste-alemã, mas bodega na mesma.

Que deus os guarde, aos Trabant e aos ditadores comunistas. Cá na Terra não fazem falta.

4 comentários:

ana v. disse...

Ámen. Paz à alma de todos eles, Trabants e ditadores, antes que voltem como almas penadas...

jb disse...

Interpretei a leitura deste seu ‘post’ com 2 sentimentos distintos: por um lado perfeita consonância quanto à leitura que faz da ’democracia’ vivida na RDA, por outro alguma injustiça quanto à forma como descreveu o Trabant.

De facto, o automóvel não era um prodígio tecnológico, mas também não pode ser apreciado como uma viatura anacrónica à data do seu lançamento, em 1957. Mais, a Sachsenring - empresa que concebeu e fabricou o modelo - previu desde logo que o modelo fosse substituído por um novo em 1967, coisa que o regime comunista não permitiu que se viesse a concretizar, nem em 67, nem nas décadas seguintes.

Porém, e por incrível que possa parecer, a concepção do Trabant lançado à 50 anos atrás continha 3 características técnicas relevantes que, inspiradas ou não neste utilitário da RDA, estão a ser repescadas pela avançada indústria automóvel dos nossos dias. Estas são: a produção em massa de carroçarias construídas com materiais compósitos reciclados, a opção por motorizações de baixa cilindrada e a escolha de uma ‘arquitectura’ de 2 cilindros.

A carroçaria em ‘Duroplast’ destinava-se a reduzir, tanto quanto possível, a (cara) importação de aço e transformou-se numa das primeiras aplicações conhecidas de reciclagem, na indústria automóvel. Por outro lado, a aplicação desta tecnologia tinha vantagens na redução de peso do veículo e na obtenção de níveis de segurança apreciáveis, em caso de acidente, para um veículo desta época. Infelizmente, a posterior reciclagem do ‘Duroplast’ em veículos em final de vida já não era viável, mas nos anos 50 as questões ambientais também não tinham o relevo que têm hoje.

Por outro lado, a opção por motorizações de baixa cilindrada permitia reduzir os custos de produção do veículo e, teoricamente, de utilização, já que esta escolha consente a obtenção de baixos consumos de combustível. A verdade é que o carro não era brilhante a este nível, mas uma média de 7 l / 100 Km não pode ser considerada desajustada para um automóvel de há 50 anos atrás. Note-se que hoje, com vista a dar-se cumprimento às cada vez mais exigentes normas anti-poluição, os fabricantes recorrem cada vez com mais frequência a motores de cilindrada cada vez mais baixa, numa opção a que se tem chamado ‘downsizing’, e que em breve se generalizará a todas as marcas de referência.

Por fim, a arquitectura de 2 cilindros permitia uma grande simplicidade mecânica, com as vantagens que daí decorrem em termos de produção e manutenção do veículo. Porém, no caso, esta opção, aliada à tecnologia utilizada na concepção do motor, acabou por ditar os elevados níveis de poluição que se reconhecem ao Trabant. Contudo, esta será a solução tecnológica a adoptar, entre outros, nos futuros Volkswagen Up! e respectivas derivações da Skoda e da Seat, bem como no novo Fiat 500, paradoxalmente, com vista a obter-se bons resultados em 2 áreas em que o carro da RDA estava não era brilhante - consumos e emissões poluentes.

Resta falar no design do automóvel que, quer se aprecie ou não, ficará para sempre relembrado como um ícone, tendo inúmeros adeptos em todo o mundo. Também neste aspecto a escolha da fotografia que colocou no ‘post’ não foi feliz, já que se trata de um exemplo de ‘tuning’, transformando o carro numa aberração, retirando-lhe qualquer pinga de dignidade. Mas provavelmente foi a que conseguiu ‘decalcar’ da net.

Duas notas finais: os últimos Trabants produzidos foram equipados com motores Volkswagen com 1.100 cm3 de cilindrada, deixando para trás os antigos 2 cilindros, o que lhes garantia performances e níveis de poluição equivalentes à dos automóveis dos países ocidentais; por outro lado a Herpa, um importante fabricante de miniaturas de automóveis mostrou-se recentemente interessada em adquirir os direitos sobre o Trabant e produzi-lo numa versão actualizada, indo ao encontro dos desejos de muitos adeptos da marca, provando que o modelo não é tão repudiado como se poderia pensar.

Um abraço, joão bagão

Mário disse...

João
Muito obrigado pela sua lição, que muda a visão que se tem dos Trabant.
Aprendi e dou a mão à palmatória.
Talvez a ligação dos Trabant ao regime da DDR levasse a que eles acabassem por ser ícones do regime e, como tal, invectivados quando este o foi.
Trabant quer dizer "satélite" em alemão. Significativo...

E, já agora: vão ser produzidos novos modelos? A VW também anexou a Skoda, tornando estes automóveis num modelo excepcional em termos de auqlidade/custo (já vou no segundo, com enorme apreciação).
Abraços

jb disse...

Agradeço a simpatia da sua resposta. Partilho da sua opinião: julgo que com a queda da Cortina de Ferro, os Trabants padeceram do mesmo mal que a Skoda - ficaram injustamente associados às maleitas do Regime Comunista nos países de Leste. Isto talvez suceda porque temos a tendência para associar imagens a conceitos, e os automóveis prestam-se muito a transformar-se em ícones de uma era. Porém, à força da qualidade dos seus produtos recentes, a percepção que as pessoas têm da Skoda tem evoluído muito, fazendo-se finalmente jus ao enorme potencial da marca.

A este propósito, folgo muito em saber que é um fiel proprietário de Skodas, e convido-o a visitar o blogue «Sem Limites», em www.skoda-semlimites.blogspot.com , que partilho com o Adriano Miranda. A Skoda é a prova viva de como a força de uma marca pode ser transversal às inflexões políticas que marcam a história: as suas origens remontam a 1895, ainda no seio do Império Autro-Húngaro, depois a marca assistiu ao nascimento da Checoslováquia, sobreviveu às prepotências do III Reich e do Regime Comunista e rejuvenesceu com a chegada da democracia e com a formação da República Checa. A Volkswagen venceu a corrida à compra da marca (que envolveu inúmeros fabricantes) e tem colhido os melhores dividendos dessa inteligente aquisição. Os automóveis que conduzimos são prova disso mesmo.

Quanto à produção de um novo Trabant aconselho-o a uma passagem pelo sítio da Herpa, nomeadamente em http://www.herpa.de/herpa_CMS/(uiork045t1gclu55wpj3jai2)/en-GB,406,0,1,0.aspx , para dar uma vista de olhos ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nesse sentido. Tem-se especulado muito sobre o futuro «Satélite», mas informação palpável, que eu conheça, é a que se encontra disponível no referido sítio.

Um abraço, joão bagão