domingo, 18 de novembro de 2007
sinais dos tempos
O Público noticia, hoje: "Cremações disparam com novas atitudes perante a morte, tendo quadruplicado no espaço de dez anos. No ano passado, essa taxa foi já de 40 por cento - ocorre em quatro de cada 10 funerais ocorridos em Lisboa".
Mas a propósito desta notícia, para além das luso-nacionais curiosidades como o Tribunal "da Boa-Hora" e o Cemitério "dos Prazeres", sabem que o vereador que inaugurou o Crematório de Lisboa, em 1911, se chamava Alfredo... Guisado?
A vida é feita de incongruências e sinais, mesmo que ocasionais, da ambivalência da condição humana...
Imagem: Pirâmide de Fogo - de Aldina Duarte (fadista)
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6 comentários:
Há um certo simbolismo no fosso onde se depositam as cinzas dos cremados, pelo menos no cemitério do Alto de São João:é lá que estão, bem misturados, os restos de centenas ou milhares de pessoa. O nome é "Jardim..." de qualquer coisa.
Lá estarão, juntos, quem sabe, os mais desavindos dos desavindos, o mais explorado e o mais explorador,o apaixonado da mulher impossível com ela própria, num último e eterno encontro.
Interessante...
Fui pela primeira vez ao Crematório, há dias.
Ao contrário do que eu estava à espera - e talvez porque o momento foi de uma intensidade tranquila não antecipável -, não teve o quase masochisto momento do descer à terra, que sempre me fez impressão.
Talvez por isso a purificação pelo fogo tenha significado, pelos tempos fora, algo de superior, mesmo quando utilizado pela Inquisição (essa e outras).
As cinzas são um retornar à fecundidade da terra e ao ciclo evolutivo, tendo algo de determinismo mas também de liberdade.
Dá que pensar.
A cremação liberta os que ficam da obrigação de manter esse ausente "marmorizado e engavetado" para a eterna peregrinação dominical.
A leveza da cinza inspira a memória e a imaginação; afinal, nós vamos escolher as lembranças com que queremos viver!
"Quando eu morrer voltarei para buscar / Os instantes que não vivi junto do mar" - Sophia de Mello Breyner Andresen
As cinzas podem ser espalhadas por vários locais, fazendo-nos finalmente parte deles, seja o mar, o campo, uma praia deserta, uma clareira ou um bosque. Ou até, porque não, uma praceta no meio da cidade. Em vários algures, que nos farão germinar, e perdurar a contemplação.
Não terá o aumento do numero de cremações, em parte, a ver com a aceitação destas pela Igreja Católica desde 1964, creio?
O culto dos mortos é tema a que voltarei.
Quanto à Igreja Católica, é facto que a atitude não condenatória da cremação terá levado a que alguns ultrapassassem o medo de perder a vida eterna.
Mas até isso é curioso: tu és pó, e me pó te hás-de tornar... - a Igreja deveria ser a primeira a promover esta máxima.
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