segunda-feira, 12 de novembro de 2007
perguntem às árvores...
"A paixão traz consigo a semente da tragédia, alguém disse depois da perda. Mas essa semente pode nunca germinar. E mesmo que isso venha a acontecer, muito pior seria continuar a viver numa sociedade que, pura e simplesmente, aniquila todos os dias o amor ou a capacidade de amar, através da construção e proliferação de caminhos sem retrocesso que, no final, levam quem os percorre a becos feios ou a precipícios sem fundo."
José Eduardo Abreu, realizador, produtor e piloto do helicóptero que se despenhou no sábado, era romancista.
Sugiro a leitura deste seu livro, de onde extraí a frase que encima esta entrada.
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5 comentários:
Só para dizer duas coisas: que estou por aqui, sempre, e ler os bons blogues dos bons amigos e que é sempre um prazer ler belos textos, mais a mais absurdamente irónicos como é o caso do texto desse piloto que o compôes como se fosse uma profecia ou algo do género. Estará ele em paz agora?
Boa pergunta.
Conheci-o indirectamente, não pessoalmente. Tinha apontado um jantar com ele e com a mulher para o fim de semana que passou, para sermos apresentados e conversarmos. Creio que teríamos muitos pontos em comum. Era para ontem.
Quem o conheceu, fala do gosto do voar, de olhar para os pores do sol e para as copas das árvores, para as coisas belas, como afinal é quase tudo visto de cima, telhados de Lisboa a esconder os dramas das vielas. Fala da liberdade com que encarava a vida, a não submissão os poderes e aos preconceitos. Fala da criatividade e da bondade.
Mas a vida é assim. Feita de riscos e de probabilidades estatísticas.
Amanhã vão morrer 275 portugueses - treze em cada hora. Um de cinco em cinco minutos. Quem são? Eventualmente nós. Ou outros. Que conheceremos, ou não.
Miguel,
Conhecendo o Zé como o conheci, sei que ele está em paz!
Porque viveu sem medos, com coragem, determinação e liberdade, fazendo o que queria e gostava.
Era coerente com ele próprio e com a sua natureza. E isso é o mais importante para sermos felizes.
Por isso era e estava feliz.
Seja qual for o curto tempo da nossa existência, ela deve ser vivida assim, para que tenha sentido.
Mesmo que a perda de uma vida seja mais uma estatística, nunca deverá ser encarada nem vista como tal, dessa forma redutora e cruel, porque não somos números, mas sim seres humanos que deixam "marcas" nesta passagem.
E muita saudade e dor....
Tens razão, Catarina. Essa visão, tantas vezes expressa em "comunicados oficiais" é cruel. Fazer a passagem dos números às pessoas é um exercício difícil, e quase paradoxal para quem, por exemplo, gere políticas: ficar radiante por morrerem "apenas" não sei quantas pessoas por uma doença qualquer. Mas cada uma tem nome, identidade, família e amigos.
E a sensação de revolta destes é grande, quando vêem alguma insensibilidade "oficial".
A propósito: foi bom ver o Público, hoje, retratar-se das afirmações "de primeira página" que tinha feito ontem sobre a experiência do piloto. A leviandade de certos jornalistas confrange.
Conheci meu amigo JOSÉ EDUARDO ABREU, simplesmente Zé, em 2002, por quem me afinizei mais e mais com o passar do tempo, seja pelo gosto literário, pela criatividade, pela imaginação, pelas tiradas sensacionais, pelo enigma de toda uma vida. O quão profunda foi nossa amizade não convém aqui revelar, por respeito ao grande homem que ele foi, e sempre será nos corações de quem teve a sorte de conhecê-lo. Ele tinha admiração, até quanto eu soube, por José Saramago, cuja escrita era um redemoinho, e ao ler José, era tão hílário quanto Saramago, por ser brasileira, e não conhecer dialetos portugueses, até que conheci-o pessoalmente e tudo se tornou mais fácil. Ele era adorável e fomos bastante cúplices. Em pensar que rimos à toa, estivemos à lareira, frequentamos Brasil e Portugal, e onde íamos éramos notados. Infelizmente havíamos nos afastado, mas guardo por ele uma incrível admiração e adoro-o para sempre.
Que a família que deixou receba meus cumprimentos, de uma amiga que deseja que Deus cuide dele, onde for.
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