sábado, 5 de dezembro de 2009

Pai

Faz hoje 29 anos que morreu o meu Pai.

Engraçado que só à medida que o tempo passa nos apercebemos do que é um Pai - provavelmente quando nós próprios já o somos, e ainda mais quando o perdemos.

Ironias do destino, mas porventura é "o que tem de ser".

Se há ausências que não o são, porque sempre presente, como modelo, exemplo e também como farol (mesmo que pondo em causa muita coisa e não copiando os seus comportamentos), o meu Pai, para mim, é uma delas.

Nunca quis ter os seus valores, mas sim poder ter valores para cotejar, esgrimir, desfazer, baralhar e tornar a dar, até que de tudo (dos dele, dos da minha Mãe, da família, amigos, outras pessoas e até personagens de ficção) pudessem emergir os meus, que também vão sendo aperfeiçoados, cotejados e aparados todos os dias.

Tenho pena de ele ter morrido, também, na altura em que eu começava a dar os meus primeiros passos na Medicina, depois de terminado o Curso, designadamente na Saúde Infantil, em Óbidos. Perdi um Mestre, como depois perdi Torrado da Silva. Aprendi muito com ele, e se a Ciência e o Conhecimento evoluem a passos de gigante, a metodologia, o rigor e a ética mantém-se. Foi  isso que ele me transmitiu.

Como lhe dizia a brincar, quando estudava Medicina: "e o Pai que, quando fez o Curso, nem sabia quantos cromossomas têm o Homem!". E ele respondia: "mas sabia já, como você deve saber, a maneira de tentar encontrar as respostas para as nossas perguntas e inquietações."

Um grande beijo, Pai, carregado de saudade, mas também de alegria de o ter tido como Pai. E sabe como tento ser pai de cinco filhos para que eles, um dia, também me relembrem como diariamente o relembro a si.

10 comentários:

Pat disse...

Muita saudade! Para além do Homem brilhante que foi como médico, para mim foi, acima de tudo, o meu querido Vô Mário, que me sentava ao colo e dava rebuçados enquanto contava histórias. Recordo quando me dizia: Um dia vais ser uma médica como o avô... Infelizmente nunca tive qualquer vocação para tal, segui um caminho cmpletamente diferente. Partiu cedo demais, para mim, para todos.
Ficou a enorme saudade e a lembrança sempre presente da sua voz, do seu sorriso, do seu carinho, do seu cheiro.
Até sempre, Avô! Um beijo do tamanho da minha saudade!

Anónimo disse...

Também me lembrei - mais uma vez - do nosso Pai, hoje dia 5 de Dezembro

Foi um exemplo para nós todos e transmitiu-nos valores que são imutáveis, mesmo que a vida dê demasiadas voltas.

Faleceu muito cedo. Nunca chegou a gozar da velhice com os mimos e a ternura dos netos - tantos que não chegou a conhecer.
Partiu sem querer.

Para ele o meu obrigado e saudade que não acaba.

Virgínia

Anónimo disse...

Vou repetir aqui o que já inseri noutro blogue:

Colaboro com um poema de uma poetisa brasileira Regina Bettencourt:

Pai...
Hoje senti uma falta de você...
Do seu jeito de ser
Do seu modo de se preocupar
Dos seus telefonemas
Do seu sorriso
Do seu olhar
Do seu silêncio
Do seu movimento
Da maneira como gesticulava
E se empolgava quando algo contava

Pai...
Me perdoa pela saudade imensa
Pela falta que você me faz
Mesmo sem falar nada
Eu entendia o que queria
O que pensava, o que emitia
E seguia, como se nada o preocupasse

Pai...
Muitas saudades sinto de você
Mas não posso reclamar
Tenho que me conter
Foram só momentos de lembrança
Que hoje eu tive de você
Talvez por me sentir mais criança
Por querer me apoiar em uma esperança
Ouvir palavras que só você sabia me dizer

Pai...
Sei que continua ao meu lado
Só não posso olhar o seu rosto
Mas vejo no seu retrato
Uma luz forte, iluminando o meu quarto
E sorrio de novo, quando olho para o seu rosto
Porque escuto você me dizendo
Que enquanto aqui, estou sofrendo
Pela sua ausência e seu carinho
Você constrói nosso novo cantinho
Para de novo, um dia...
Estar juntinho de novo, com você.

+++

Penso que está tudo dito...

Virginia disse...

Lindo poema, fez-me chorar.

Diz tudo, realmente.

Obrigada Filipão.

miguel disse...

Esse poema convoca a emoção.E a emoção é quase como um reflexo condicionado: para que nos envolva, sem nós querermos, basta que seja exteriormente estimulada. E depois sai em torrente, provocando, rapidamente, o nó na garganta, a lágrima.

Este poema emocionou-me.

Sofia MJ disse...

A semelhança fisica consigo, Professor, é notável. Eu ainda tenho os meus pais. Mas percebo bem as palavras que aqui se escrevem. Estes são sentimentos tão especiais que é difícil verbalizá-los... Sofia

Huckleberry Friend disse...

Pertenço à última fornada de netos que o Avó Mário teve. O que dele sei foi contado por familiares e amigos, pois ainda não tinha 2 anos quando nos deixou. Não tenho memória directa dele e isso dói-me. Mas tenho outras coisas que me deixou e agradeço-lhas, a ele e a todos os que mas transmitiram, a começar pelo meu Pai, autor deste blogue. Beijinhos.

Virginia disse...

Podes ter a certeza, Pedro, que tu és dos mais parecidos fisicamente com o teu Avô, apesar de teres o cabelo claro e olhos azuis. Quando te vejo lembro-me dele, mais do que com qualquer dos outros primos. Também o teu Pai está a ficar cada vez mais parecido com ele, até nos modos e na voz. Quando o vejo, fico sempre comovida.
Eu saio muito mais ao lado da Avó, nunca me pareci com o Avô, a não ser nalgumas qualidades - tenacidade,teimosia e coragem para enfrentar as adversidades - não fisicamente.

Mário disse...

De volta à net:
Filipe: lindo, lindo. Emocionante. Emotivo. E as lágrimas, sorrateiras, que não cessam de querer aparecer no canto do olho...

Pedro: querido Filho. Vais conhecendo o teu Avô, pouco a pouco, através das memórias (e dos genes que vos pertencem em comum). É engraçado como o teu irmão Tomás está muito parecido com ele...

catuxa disse...

Linda lembrança, lindo poema, a condizer com o homenageado, meu querido e muito saudoso avô.
Quando penso que o avô, aos 14 anos, despediu-se dos pais e veio sozinho de Goa para estudar e trabalhar em Portugal e conseguiu fazer tanto, dar tanto e semear tanto, sinto um orgulho enorme.
Estará sempre presente, em nós e em tudo o que fez.