Vale a pena ver este site, sediado na magnífica cidade da Horta, Faial, Açores, inteiramente dedicado a Jacques Brel.
Um abraço ao seu autor, Sérgio Paixão.
13 comentários:
Anónimo
disse...
Brel, o genial cantor. Fui ao seu espectáculo há cerca de 40 anos e lembro-me do 'frisson' que foi escutá-lo no 'Ne me quitte pas'. Simplesmente soberbo e arrepiante. Um homem que punha nas palavras e nas letras toda a sua alma, por vezes extremamente angustiada. Pena foi que a Morte o levasse tão cêdo...
Este site, feito por um jovem que vive na cidade da Horta, é uma homenagem a Brel. E surpreende por ser feito por um rapaz que não é "da nossa geração". Vaut le voyage...
Um grande OBRIGADO a MÁRIO CORDEIRO por divulgar o blog O CANTO DO BREL neste ESPAÇO LÍMPIDO E AZUL. A minha intenção é (sempre foi) dar a conhecer JACQUES BREL e mostrar que ele tem uma obra vasta e muito rica. Interessa-me sobretudo que as pessoas saibam quem é Brel. Para as que já ouviram falar dele, que não se fiquem pelo NE ME QUITTE PAS. Há sempre a tendência de fazer de Brel "um sinónimo de ne me quitte pas"... Mas, Jacques Brel é muito mais. Muito mais. E é isso que tento divulgar naquele Canto. Sérgio
Caro Mário obrigado por me considerar um rapaz que não é da "vossa geração"... Fiquei bem sensibilizado com essa visão da minha pessoa mas agora vou ter que o decepcionar... Eu vivi a minha juventude nos anos 60, fiz a tropa no princípio dos 70, e vim para o Faial nos primeiros anos de 80. Esta "fixação" no Brel já vem dos anos 60 e o grande desgosto da minha vida foi estar em Lisboa em 74 e o Brel... na Horta! Perdi-o por 6 anos! Mas só conheci a minha mulher (faialense de gema)em 76 e demorámos a decidir onde viver. Para compensar, já fui a Bruxelas visitar a Fundação Brel e quando o meu filho acabar o curso vamos às Ilhas Marquesas visitar o túmulo do JB. Vaut le voyage... O meu filho também é um breliano incondicional (a quem sairá?) Um abraço Sergio
Sérgio. Não me pergunte de onde vem a noção de que era um jovem (e é-o, de certa forma, pelo menos não me parece estar a ouvir la pendule d´argent... qui nous attends.
Eu vivi a juventude no início dos anos setenta, mas foi com onze ou doze anos que comecei a gostar de Brel, talvez por se aprender no Liceu, primeiro o francês, depois o inglês.
O meu irmão viu o concerto que perdeu. Mas a vida de Brel é profunda, como a sua raiva aos flamengos - encontrei o mesmo sentir em muitos belgas valões que conheci, e que falavam em inglês com "os bárbaros do norte que tinham muitos filhos".
Estou curioso de o conhecer, na grande cidade da Horta.
E aqui fica um cheirinho do meu livro: De cada vez que chego à marina Venho mais nobre Mas sinto-me pobre E com a alma pequenina, Quando desenho o meu ex-libris Na Igreja das Angústias E o Pico tem-me refém, Como tem Quem dele provem À bolina. Chego cansado à marina E amarro a embarcação Com o oceano e a ressaca No coração.
Vou a Espalamaca E a Porto Pim Pobre dos outros Mas rico de mim, Cidade baía Lugar de conforto Chego a bom porto Na Ermida da Guia.
Aconteço um gin no Peter (Café Sport para os da terra) Ouço as saudades da guerra De um marinheiro sem braço Adormeço no abraço Da marina, minha amante, E olhando para cada cara Redescubro um Atlante. Em tons de sol e de luz Sintomas de manhã clara, Acordo com o arcabuz Do Forte de Santa Cruz.
Em horas já vespertina Quando o frio enfim me corta Aporto então à marina Na nau que o corpo transporta Para dissolver o cansaço Redescubro a minha sina No doce e terno regaço Da bela cidade da Horta.
Ou este O céu está preto Da cor do alcatrão Se calhar o avião Fica retido Esperas-me lá No fim do alfabeto Esperas em sentido Como um velho farol Como um raio de sol Para um barco perdido No porto À porta
O céu está escuro Está breu e já troveja Talvez seja O diabo, de irritado, Esperas-me lá Esperando pelo futuro Esperas calado Como um velho sinal Como um raio vital Para um homem cansado No porto Da Horta
Está traiçoeiro Mas vamos já no ar Os passageiros Não tentam nem olhar Se é grande o medo A vontade é de rochedo Vemos o Pico E o mar O Pico E o mar E o Pico E o mar Em qual deles vamos bater Primeiro? Esperas-me lá Sem temer Pelo companheiro. És forte E és conforto Na morte No porto Na porta Na Horta Sem sobressalto Esperas por mim
PARABÉNS!... quem escreve assim já esteve nas ilhas e não foi só para ver a paisagem. Conseguiu sentir aquela tal "insularidade" que só os ilhéus sentem. Parabéns mesmo. Vou gostar de ler "Ilhas Atlânticas - Melodia a Nove Cores". O meu "desencontro" de 1974 é uma maneira de falar. Brel passou por aqui, praticamente incógnito, e foi visto pelo Dr Decq Mota, a bordo do iate Askoy, porque tinha uma gripe. Não era gripe... era o princípio do fim! Eu na altura vivia em Lisboa (de onde sou natural) e não fazia ideia nenhuma que Brel estava nos Açores, nem que um dia viria a viver neste paraíso. E também termino com um verso. Um dos Versos na Pedra :
a paisagem de luto
no alvoroço da lava na ebulição da lama na acidez das cinzas no rubor de uma chama
na agonia da terra na romagem sofrida no grito do medo na prece compartida
na vinha de fogo na grota greste na seara de areia na sombra do cipreste
a paisagem de luto
... e outro (já agora)
Pó de lava que a brisa leve levanta, eleva, e leva, e leva ...
Pó de lava que a brisa leve leva para o mar e depois poisa, devagar, na vaga e navega, navega...
pó de lava que a brisa leve lava, lava, lava até ser nada.
Fica aqui um poema, e o desafio para ser dito com a velocidade da "Valse a mille temps"...
Uma Estrada Sinuosa, Perto de Deus - Vale Flamengo, Faial
Quantos passos Quantos traços Devo fazer Na paixão Para que a melancolia Ceda o seu turno À canção E o soturno Envolvimento De um movimento Discreto Faça da aversão Afecto E dê magia Ao refrão
Quantas caras de palhaços Quantos colos e regaços Quantos estilhaços De pombas Quantos hemisférios escassos Quantas dores e embaraços Quantas bombas Estardalhaços Tenho que dar e vender Para algum dia ainda ser.
Quantos passos Quantos traços Devo aprender em menino Quantas mais intimidades Devo mostrar ao destino Quantas nozes Quantas vozes E realidades Sem tino Devo encontrar no caminho Que vai do Céu ao Inferno?
Quantos abraços E laços Quantas batalhas perdidas Quantas curvas e baraços E inconstâncias sofridas Quantos cansaços E espaços Restam fazer no percurso Do curso Que vai da vida Ao limiar do eterno?
Belas palavras, lindas memórias sur le port d'Amst(ups!)Horta! Vou ao baú buscar algo que escrevi e que acompanhei com duas músicas que relaciono com a Horta. Decido dedicá-las a dois irmãos que surgem acima. Um é meu Pai e levou-me à Horta pela primeira vez. Outro é meu Tio e enviou-me um postal como o que se vê nesta ligação. É bom quando há quem espere por nós assim...
Não sei que dizer, por me sentir tão pequenino, depois de ler estas maravilhas.... Quem disser que não somos mais que um qualquer terceiro mundo, não tem sentido de SER... de SABER.... bem hajam, e continuem... também estive na Horta, no Peter's e também adoro Brel.Sou continental, minha filha está em S. Miguel. O meu primeiro contacto com os Açores foi em 1970, do mar, no navio bacalhoeiro S. Jorge. Aportámos a Ponta Delgada... bom , parabéns, voltarei pr aqui para Vos apreciar. Bem hajam. Isidoro, Mira, Coimbra
HuckBoas recordações do Faial, desde a estadia no Forte de Santa Cruz às deambulações pela ilha, até aos Capelinhos. Que imagem! Foi uma das ilhas de que mais gostei. E a tua fotografia com um tubarão (bebé...) recém-pescado na mão? faz agora 20 anos!
Isidoro Obrigado!(quase) todos temos poemas na cabeça, porque temos sentimentos. É só abrir a porta e deixar fluir. Volte sempre.
13 comentários:
Brel, o genial cantor. Fui ao seu espectáculo há cerca de 40 anos e lembro-me do 'frisson' que foi escutá-lo no 'Ne me quitte pas'. Simplesmente soberbo e arrepiante. Um homem que punha nas palavras e nas letras toda a sua alma, por vezes extremamente angustiada. Pena foi que a Morte o levasse tão cêdo...
Este site, feito por um jovem que vive na cidade da Horta, é uma homenagem a Brel. E surpreende por ser feito por um rapaz que não é "da nossa geração".
Vaut le voyage...
Um grande OBRIGADO a MÁRIO CORDEIRO por divulgar o blog O CANTO DO BREL neste ESPAÇO LÍMPIDO E AZUL.
A minha intenção é (sempre foi) dar a conhecer JACQUES BREL e mostrar que ele tem uma obra vasta e muito rica. Interessa-me sobretudo que as pessoas saibam quem é Brel. Para as que já ouviram falar dele, que não se fiquem pelo NE ME QUITTE PAS. Há sempre a tendência de fazer de Brel "um sinónimo de ne me quitte pas"... Mas, Jacques Brel é muito mais. Muito mais.
E é isso que tento divulgar naquele Canto.
Sérgio
Caro Mário
obrigado por me considerar um rapaz que não é da "vossa geração"...
Fiquei bem sensibilizado com essa visão da minha pessoa mas agora vou ter que o decepcionar... Eu vivi a minha juventude nos anos 60, fiz a tropa no princípio dos 70, e vim para o Faial nos primeiros anos de 80.
Esta "fixação" no Brel já vem dos anos 60 e o grande desgosto da minha vida foi estar em Lisboa em 74 e o Brel... na Horta! Perdi-o por 6 anos!
Mas só conheci a minha mulher (faialense de gema)em 76 e demorámos a decidir onde viver.
Para compensar, já fui a Bruxelas visitar a Fundação Brel e quando o meu filho acabar o curso vamos às Ilhas Marquesas visitar o túmulo do JB. Vaut le voyage...
O meu filho também é um breliano incondicional (a quem sairá?)
Um abraço
Sergio
Sérgio. Não me pergunte de onde vem a noção de que era um jovem (e é-o, de certa forma, pelo menos não me parece estar a ouvir la pendule d´argent... qui nous attends.
Eu vivi a juventude no início dos anos setenta, mas foi com onze ou doze anos que comecei a gostar de Brel, talvez por se aprender no Liceu, primeiro o francês, depois o inglês.
O meu irmão viu o concerto que perdeu. Mas a vida de Brel é profunda, como a sua raiva aos flamengos - encontrei o mesmo sentir em muitos belgas valões que conheci, e que falavam em inglês com "os bárbaros do norte que tinham muitos filhos".
Estou curioso de o conhecer, na grande cidade da Horta.
E aqui fica um cheirinho do meu livro:
De cada vez que chego à marina
Venho mais nobre
Mas sinto-me pobre
E com a alma pequenina,
Quando desenho o meu ex-libris
Na Igreja das Angústias
E o Pico tem-me refém,
Como tem
Quem dele provem
À bolina.
Chego cansado à marina
E amarro a embarcação
Com o oceano e a ressaca
No coração.
Vou a Espalamaca
E a Porto Pim
Pobre dos outros
Mas rico de mim,
Cidade baía
Lugar de conforto
Chego a bom porto
Na Ermida da Guia.
Aconteço um gin no Peter
(Café Sport para os da terra)
Ouço as saudades da guerra
De um marinheiro sem braço
Adormeço no abraço
Da marina, minha amante,
E olhando para cada cara
Redescubro um Atlante.
Em tons de sol e de luz
Sintomas de manhã clara,
Acordo com o arcabuz
Do Forte de Santa Cruz.
Em horas já vespertina
Quando o frio enfim me corta
Aporto então à marina
Na nau que o corpo transporta
Para dissolver o cansaço
Redescubro a minha sina
No doce e terno regaço
Da bela cidade da Horta.
Ou este
O céu está preto
Da cor do alcatrão
Se calhar o avião
Fica retido
Esperas-me lá
No fim do alfabeto
Esperas em sentido
Como um velho farol
Como um raio de sol
Para um barco perdido
No porto
À porta
O céu está escuro
Está breu e já troveja
Talvez seja
O diabo, de irritado,
Esperas-me lá
Esperando pelo futuro
Esperas calado
Como um velho sinal
Como um raio vital
Para um homem cansado
No porto
Da Horta
Está traiçoeiro
Mas vamos já no ar
Os passageiros
Não tentam nem olhar
Se é grande o medo
A vontade é de rochedo
Vemos o Pico
E o mar
O Pico
E o mar
E o Pico
E o mar
Em qual deles vamos bater
Primeiro?
Esperas-me lá
Sem temer
Pelo companheiro.
És forte
E és conforto
Na morte
No porto
Na porta
Na Horta
Sem sobressalto
Esperas por mim
Sabes que nunca falto
Ao nosso gin.
PARABÉNS!... quem escreve assim já esteve nas ilhas e não foi só para ver a paisagem. Conseguiu sentir aquela tal "insularidade" que só os ilhéus sentem. Parabéns mesmo.
Vou gostar de ler "Ilhas Atlânticas - Melodia a Nove Cores".
O meu "desencontro" de 1974 é uma maneira de falar. Brel passou por aqui, praticamente incógnito, e foi visto pelo Dr Decq Mota, a bordo do iate Askoy, porque tinha uma gripe. Não era gripe... era o princípio do fim!
Eu na altura vivia em Lisboa (de onde sou natural) e não fazia ideia nenhuma que Brel estava nos Açores, nem que um dia viria a viver neste paraíso.
E também termino com um verso. Um dos Versos na Pedra :
a paisagem de luto
no alvoroço da lava
na ebulição da lama
na acidez das cinzas
no rubor de uma chama
na agonia da terra
na romagem sofrida
no grito do medo
na prece compartida
na vinha de fogo
na grota greste
na seara de areia
na sombra do cipreste
a paisagem de luto
... e outro (já agora)
Pó de lava
que a brisa leve
levanta, eleva,
e leva, e leva ...
Pó de lava
que a brisa leve
leva para o mar
e depois poisa,
devagar, na vaga
e navega, navega...
pó de lava
que a brisa leve
lava, lava, lava até ser nada.
pó de nada.
Sergio
Perante dois magníficos 'Brelianos' nada mais me resta que reler as vossas entradas e saborear os vossos poemas...
Idem.
Fiquei banzada como se trava uma conversa tão elevada num blogue. São duas da manhã, vou para a cama mais confortada.
E amanhã vou ouvir La Fanette, uma das minhas canções que me arrepia...
Continuem, poetas!
Fica aqui um poema, e o desafio para ser dito com a velocidade da "Valse a mille temps"...
Uma Estrada Sinuosa, Perto de Deus - Vale Flamengo, Faial
Quantos passos
Quantos traços
Devo fazer
Na paixão
Para que a melancolia
Ceda o seu turno
À canção
E o soturno
Envolvimento
De um movimento
Discreto
Faça da aversão
Afecto
E dê magia
Ao refrão
Quantas caras de palhaços
Quantos colos e regaços
Quantos estilhaços
De pombas
Quantos hemisférios escassos
Quantas dores e embaraços
Quantas bombas
Estardalhaços
Tenho que dar e vender
Para algum dia ainda ser.
Quantos passos
Quantos traços
Devo aprender em menino
Quantas mais intimidades
Devo mostrar ao destino
Quantas nozes
Quantas vozes
E realidades
Sem tino
Devo encontrar no caminho
Que vai do Céu ao Inferno?
Quantos abraços
E laços
Quantas batalhas perdidas
Quantas curvas e baraços
E inconstâncias sofridas
Quantos cansaços
E espaços
Restam fazer no percurso
Do curso
Que vai da vida
Ao limiar do eterno?
Belas palavras, lindas memórias sur le port d'Amst(ups!)Horta! Vou ao baú buscar algo que escrevi e que acompanhei com duas músicas que relaciono com a Horta. Decido dedicá-las a dois irmãos que surgem acima. Um é meu Pai e levou-me à Horta pela primeira vez. Outro é meu Tio e enviou-me um postal como o que se vê nesta ligação. É bom quando há quem espere por nós assim...
Não sei que dizer, por me sentir tão pequenino, depois de ler estas maravilhas.... Quem disser que não somos mais que um qualquer terceiro mundo, não tem sentido de SER... de SABER.... bem hajam, e continuem... também estive na Horta, no Peter's e também adoro Brel.Sou continental, minha filha está em S. Miguel. O meu primeiro contacto com os Açores foi em 1970, do mar, no navio bacalhoeiro S. Jorge. Aportámos a Ponta Delgada... bom , parabéns, voltarei pr aqui para Vos apreciar. Bem hajam. Isidoro, Mira, Coimbra
HuckBoas recordações do Faial, desde a estadia no Forte de Santa Cruz às deambulações pela ilha, até aos Capelinhos. Que imagem! Foi uma das ilhas de que mais gostei. E a tua fotografia com um tubarão (bebé...) recém-pescado na mão? faz agora 20 anos!
Isidoro Obrigado!(quase) todos temos poemas na cabeça, porque temos sentimentos. É só abrir a porta e deixar fluir. Volte sempre.
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