quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

se querem medir forças, vamos a isso...

Por acaso dei por ele - acordou-me, o malandro. Não se comparou com o de 1969, esse sim, prolongado e a fazer dançar a casa onde eu vivia (uma enorme moradia). Não me assusto com tremores de terra, mas respeito-os muito, como a todas as manifestações da força da Natureza.
E aqui deixo um poema ("De manhã, de madrugada") que escrevi sobre o terramoto que destruíu parte da Ilha do Faial, nos Açores, há cerca de vinte anos. Com um abraço ao nosso amigo Sérgio Paixão.

Dezanove minutos

Depois das cinco
Da manhã
Juro
Julho
Mil novecentos e noventa e oito
Oito
Oito graus da escala de Mercali
Oito mártires
Sem escala
Sem fala
Sem final


Faial
Vinte segundos de terror
De pavor
Vinte
Vinde
Vinde assistir
Vinde assistir à agonia das aldeias
Antes do bater das cinco e meia
Vinde assistir
À derrocada
De uma vida
E à gente que viu, perdida,
Perder tanta gente amada

Dezanove minutos
Depois das cinco
Da manhã
Julho
Juro
A terra oscilou
Violentamente
Ondas de abano
Entraram pela alma
E abalaram a calma
Do viver açoriano.


Em Espalhafatos
Os desbaratos
Pareciam também
O ímpeto violento
Da Terra-Mãe.
Desabamentos
- a terra treme -
Aluimentos
- a terra treme -
Esbarrondamentos
- a terra treme -
Desmoronamentos
- a terra geme -
Geme.
E o homem teme
O desafio.
Onde está o leme
Deste navio?
Quando a vida está por um fio
E os segundos são uma eternidade,
Onde está o patrão
Desta embarcação?
Porquê esta a realidade
Que nos é dada?
O mundo a ruir
E os demónios a rir
Com o aluir
Das esperanças dos fiéis,
Um tudo nada
Antes das seis.


Dezanove minutos
Sim, dezanove,
Depois das cinco
Da manhã.
Repara que não chove
Na fajã.
O mar está raso
O vento acaso
E o alvorecer não tarda,
Mas nem os animais
Pressentem a bombarda.

Juro
Julho
Dezanove.
Mais de quatro mil sequelas
E outras tantas derrocadas
Vidas singelas
Destruídas
E outras tantas vidas
Destroçadas
Por um sismo
Sepultadas
Pelo cataclismo,
Sem barulho,
Sob os pedregulhos
Da terra fértil
Da terra vasta,
Que numa simples manhã de Julho
Puxou da vergasta,
E foi madrasta.

4 comentários:

joaopedrosantos disse...

Também dei por ele. E bastante me assustou, o raio do sismo. Ainda sacudiu os móveis e os forçou a gemer, mas tudo acabou por ficar bem. Ai, não esqueçamos as réplicas, que eu bem tentei avisar que poderiam vir réplicas, e ainda fiquei alerta por mais uns minutos, mas a Terra encontrou sossego, que partilhou comigo, para que eu pudesse dormir o resto da noite descansado. Felizmente, não aconteceu nada. Todos estamos bem para contar a história.

Virginia disse...

Não senti nada de nada, aqui no Noooorte. E estava aqui ao PC, nada oscilou, nem se desligou. O Porto é uma naçoooom, mas mesmo assim roubam-nos o AIR BULL RACE, achava bem que o meu mano se pronunciasse sobre isso em entrada especial!:))

Sérgio disse...

Também senti o sismo de 1969... Acordámos todos lá em casa, assustados, e a coisa passou.
Não me ficaram feridas na memória.
Agora em 1998... (há 11 anos) FOI MUITO SÉRIO ! Acordei às 5H19M com um estrondo e um abanão que duraram 25 segundos. Imaginem o que é um estrondo durar 25 segundos.
O abanão, como eu o senti , é equivalente a chocalhar uma caixa de sapatos energicamente durante os 25 segundos. É uma sensação terrível estarmos sentados na cama e não nos podermos levantar. Felizmente estava escuro e não deu para ver as ondulações e os abanões das paredes. A minha casa está na zona dos Flamengos (zona das mais afectadas) mas já é de construção anti-sísmica.
E depois vieram as centenas de réplicas... Algumas com a mesma intensidade mas com menos duração (felizmente!).
Nos dois anos seguintes não conseguia deitar-me sem ir à rua ouvir se os cães ladravam.
Além do estrondo (que vinha das entranhas da ilha) ficou-me na memória auditiva o ladrar e uivar dos cães, e os berros das vacas... Depois passou.
Mas agora qualquer uivar de cães da vizinhança , ou vacas a berrar...Clique! vem-me tudo à memória.
Só mais um pormenor. A nossa preocupação era ir ao quarto do Gui (nosso filho) para ver como ele estava . Na altura tinha 13 anos. Ao fim dos tais 25 segundos , corri para o quarto dele, e ele estava calmamente de cócoras debaixo da sua secretária, como lhe tinham ensinado uns senhores da Protecção Civil, lá na Escola.

miguel disse...

Já tenho duas histórias com sismos: o de 1969 e este. Ontem estava " acordadinho da silva" e sentado. Foram 8 segundos que se dividiram em milhentas fracções equivalentes a sentimentos diversos. Apanhei um cagaço.

O de 1969 foi a sério. A memória que guardo podia ser transposta para o texto do Sérgio ( que refere o sismo dos Açores ). Tudo foi igual, a não ser o berro das vacas. Foi um valente sismo...e eu também estava " acordadinho da silva". Coincidências chatas...