O Cardeal Patriarca de Lisboa afirmou hoje que a Igreja “nunca aceitará” o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Pelo menos enquanto se mantiver o celibato dos padres, acrescento eu...
A esse propósito refira-se uma notícia de ontem, em que se relatava que um padre católico irlandês abusava de crianças, e depois confessava-as do pecado que ELAS tinham cometido, dando-lhes como penitência dez avé-marias...
8 comentários:
Hesitei em comentar a entrada ( embora me pareça muito interessante ) porque entre tantas visitas e tão poucos comentadores, corro o risco de passar a ser considerado como se fôra género " emplastro do Brás Cubas", que não descola nem por nada.
Mas já que ninguém comenta, cá me têm ,outra vez.
Acho que a entrada é, em última análise, menos sobre os contornos obscuros da sexualidade humana do que sobre a hipocrisia dos adultos. A hipocrisia é a mentira institucionalizada, aquela que de tantas vezes repetida passa a ser verdade. É o silêncio daqueles que insistem em não ver " que o rei vai nu " , mesmo ali defronte. É a vitória dos fortes sobre os fracos. Nisto a Igreja - feita de homens - não se diferencia muito das outras istituições; embora faça muita coisa bem feita.
Miguel - não és nenhum emplastro! A liberdade de comentar tanto dá para NÃO o fazer, como para o fazer. E todas as colaborações são um estímulo intelectual.
Talvez seja eu quem se está a tornar obsessivo, mas que fique claro que não sou anti-clerical primário. Reconheço o papel da Igreja ao longo dos tempos, embora a veja como uma instituição de homens, com as virtudes e defeitos da Humanidade, e muita coisa bem feita mas também crimes, violência e patifarias de todo o tipo - morais, éticas, económicas e financeiras, tráfico de influências e mais um rol de coisas.
O que repudio é a insistente intrusão da Igreja Católica (em Portugal, porque noutros países serão outras) nos assuntos civis, sobretudo ciente da sua força (porventura convencida que tem mais força do que tem) e do poder de influenciar ou, o que é mais perverso, insinuar a dúvida de origem dogmática no espírito das pessoas.
Em diversos locais por onde tenho andado, não se pode dizer que se é a favor do casamento gay sem ser rotulado de esquerdista, fracturante, "o que tu queres é chegar à adopção" ou, como ouvi há dias: "e depois vêm a poligamia e o sexo com animais". Creio que o que existe é o que tu dizes: hipocrisia. E quem diz estas barbaridades, como citei acima e que os meus ouvidos já ouviram, é que provavelmente gostaria que a lei abrisse as portas à concretização das suas fantasias...
Não me querendo também tornar emplastro só venho lançar UMA ACHA PARA A FOGUEIRA (no verdadeiro sentido histórico da palavra) e relembrar aquela teoria (anedota?) que dizia que se a igreja católica não tivesse durante séculos perseguido os homossexuais para os queimar nos autos-de-fé eles nunca teriam “casado” com mulheres - para fugir à fogueira - e procriar, disseminando assim os genes homossexuais pelos filhos. Se não tivesse havido inquisição (ou melhor ainda, se nunca tivesse havido igreja católica e afins) os genes homossexuais eram agora muito mais raros e a homossexualidade seria uma doença rara.
Portanto, por esta e por muitas outras coisas , não vejo onde é que a igreja faça muita coisa bem feita.
O debate sobre a Igreja é um debate interminável mas que deve ser feito, naquilo que é possível no tempo útil de uma vida.
Há múltiplas questões que convocam múltiplos pontos de vista.
Gente com qualidade humana na Igreja não falta - conheço muita dessa gente. Mas faltam muitas coisas ( e também gente); coisas, talvez, que se foram perdendo; outras que foram perdendo a carruagem do tempo. A arte, por exemplo, e a sua relação com a religião: ficámonos por um Bach, num genial Caravaggio e na arquitectura religiosa renascentista. Aparece um Siza e um Portas, aceitam-se vagamente; quere-se inovar no Restelo, num atrevimento interessante e "aqui-del-rey" que anda tudo louco. Não há música sacra comtemporânea e os pintores católicos escondem-se , não se sabe bem onde.
Falta na Igreja quem pratique a ironia, caminho seguro para nos rirmos de nós próprios ; os abades gorduchos e piadéticos são um mito sem seguidores. Tomara que se convertessem os Eças e os Machado de Assis dos dias de hoje.
Mas não: os génios da literatura comtemporânea ou são judeus ou ateus empedernidos :)
Há coisas qque funcionam e bem.Um exemplo improvável: os Escuteiros.Fui Escuteiro (o que, diga-se de passagem, não abona em nada o CNE ) mas os meus filhos são-no ( o que abona o CNE :) ).Nos dias que correm,o CNE continua a ser uma organização de gente discreta, boa, dada bem menos à comtemplação do que à acção.
E siga o debate, se ele valer a pena.
p.s.- Declaração de interesses :fui aluno dos Jesuítas durante sete anos .
Levantaria uma questão mais ampla: as igrejas, para mim, representam a organização humana, institucional e burocrática, com todos os seus defeitos e (algumas) virtudes, em resposta à grande ansiedade de saber "quem manda nisto?" e "de onde vimos e para onde vamos?".
Os deuses foram inventados pelos homens para explicar o inexplicável, tanto mais que a ciência só fundamenta meia dúzia de coisas. O medo da morte sempre perseguiu os humanos, ou não sejamos todos herdeiros dos sobreviventes.
A seguir aos deuses - e no caso da Igreja Católica, o reforço dos martírios e das perseguições aos católicos -, vêm as igrejas, como sociedades (quase secretas, pelo menos no início), com todos os seus dogmas, rituais e liturgias. E com toda a hierarquia militante, regras e regulamentos.
No Mundo Ocidental, a Igreja, sobretudo pelo receio dos otomanos, quando os romanos começaram a ver a vida a andar para trás, acabou por ser um Estado dentro dos Estados, impondo normas e sabendo gerir bem a sua "imparcialidade" e melhor ainda o poder - basta ver a submissão do poder régio ao papa, durante séculos. O facto de as instituições da Igreja terem dinheiro (e não pouco), ainda por cima sem terem de prestar contas ou até pagar impostos, serviu para aumentarem o seu poder, muitas vezes através do medo, como nas Cruzadas, Inquisição ou outros desmandos. A arte e a produção da arte tinha na Igreja um grande fomentador - o Estado, como agora, dava pouco apoio e os artistas eram na sua maioria pobres. As grandes obras públicas, desde Roma, passaram pela Igreja.
Finalmente, com a emancipação da sociedade civil, incentivada pela Revolução Francesa,foi possível ter cultura e arte laica - talvez por isso a Igreja tenha extinguido a sua "produção", que era, no fim de contas, uma produção de feitos dos outros.
Vendo bem, e tendo em conta o que as Artes devem ser - todas elas -, quais os temas, ideias, histórias, debates que a Igreja tem para pôr em objecto de arte? Uma repetição da vida de Cristo? A Inquisição? É que, ainda por cima, os relatos das suas origens remontam a muitos anos após o início, e aidna por cima, os dogmas e a rigidez nasceram por pressão política e não por ideologia religiosa, muitos séculos depois de Cristo.
A Arte tem, como princípio major, a Liberdade, a Ousadia e a Criatividade. Nenhuma Igreja pode tolerar estes princípios, sob pena de se finar.
Enfim. Isto é o que eu penso, neste brain-storming, eu que fui baptizado à nascença, que tenho "n" padres na família (3 tios direitos) fiel católico até aos 18 anos mesmo bebendo ensinamentos do Padre Felicidade Alves e do Padre Alberto Neto, casado pelo civil, nunca tendo frequentado colégios confessionais ou escotismo, mas tendo no curriculum vários assédios da Opus Dei.
Até já... vou deitar as crianças depois da vitória do Benfica.
Como conciliar a mensagem de amor, esperança e a partilha dos Evangelhos com aquilo que alguém chamou de " natureza hegemónica " da religião Cristã-Católica?..ou...como se pode a Igreja afirmar se se remeter ao silêncio em questões que considera centrais?
Porque é que o "lobiyng" é uma profissão e a Igreja se deve manter longe das suas práticas?
A história ( abordada pelo Mário ) é reescrita todos os dias. Nisso a Igreja tem mestres ( sempre os teve ) entre os melhores teólogos e exegetas.
Ideias dispersas , produzidas por este meu cérebro confuso, ferozmente sexualizado :) mas humildemente interessado nos valores imtemporais que jorram dessa entidade abstracta a que chamam " O Espírito Santo ".
Pelo sim e pelo não tenho sempre à mão a minha bíblia, que aconselho vivamente a quem tem dúvidas e inquietações teológicas: A DESILUSÃO DE DEUS de RICHARD DAWKINS.
Obrigado, Sérgio,embora não esteja, aiinda, desesperado. :)
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