De hoje até ao Natal, publicarei, diariamente, um poema dedicado a esta quadra.
Poema de Natal - Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
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2 comentários:
Intenso, profundo, enigmático, LINDO...!!!!!
Vou ficar a "ver a noite dormir em silêncio", esperando "não ver (tão cedo) a face da morte" para que possa nesta e até ao Natal, ler e reler os poemas que aqui vão sendo publicados.
A arte do poeta é esta: transmitir tanto em tão poucas palavras, e de uma forma melódica, tranquila, estimulante.
Espero que gostes dos que se seguem. Daqui a bocado entra mais um.
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