quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

quem imaginaria que fosse possível?

Foi a 3 de Dezembro de 1967 que Christiaan Barnard, uma versão real do Dr. Kildare, que fazia mais furor entre as mulheres do que Cristiano Ronaldo ou Santana Lopes, realizou a primeira transplantação de coração humano.

O doente não resistiu às infecções causadas pela imunossupressão, mas já o segundo paciente durou um ano e meio após a intervenção, muito mais do que teria de vida.

Actualmente, com os novos fármacos, a transplantação de coração (tecnicamente fácil mas complicada pela carência de dadores e pelo pós-operatório) tem sido a solução para milhares de pessoas.

Em Portugal, foi Queiróz e Melo quem, em 1986, no Hospital de Santa Cruz, fez a primeira transplantação. A paciente chamava-se Eva Pinto e tinha uma esperança de vida de seis meses - viveu ainda mais nove anos, sempre bem disposta e vendendo almofadas em forma de coração, em lojas e mercados.

Por se chamar Eva, sempre se considerou predestinada a ser pioneira em algo, e logo que se recompôs foi agradecer pessoalmente à família do dador, vítima de um acidente de viação.

3 comentários:

miguel disse...

Tinha 9 anos quando Barnard realizou essa fantástica operação. Lembro-me de tudo como se fosse hoje. Fiquei confuso e frustrado com a morte do transplantado ( eu tinha 9 anos). Há uma geração para quem Barnard é " O Médico " um pouco como o Eusébio que é " O rei".

Queiroz e Melo é também, talvez pelo exemplo de Barnard , uma referência.´Tenho-o visto, todos oa anos, em Peniche, a correr a "corrida das Fogueiras "( 15 km) com a camisola do clube do Stress como que a passar a mensagem que " santos da casa não fazem milagres".

Um dos meus grandes amigos tem um coração novo há 6 ANOS. Estava à morte, teve uma série de problemas por causa dos imuno-depresores que tem que ingerir ( anda sempre com uma enorme caixa de medicamentos ao lado ) e hoje trabalha, tem múltiplos interesses,cozinha, viaja, cultiva ainda mais uma particular teimosia que já tinha e eu costumo dizer " que é como o "vinho do Porto". ESPECTACULAR. Acompanhei todo o processo e até eu estou grato à equipa que em Santa Marta trata ( ou tratava - o médico que o acompanhou já morreu) do coração dos outros.
Bem hajam , e , Luís, espero que continues assim por muitos anos!

miguel disse...

acho que me enganei: onde disse " "imunodepressores" deveria estar escrito " imunosupressores".
Certo, Mário?

Mário disse...

Excelente comentário, Miguel. Também eu vibrei com o médico do Hospital de Groote Schur - ironicamente acabou por ter artrite reumatóide e ter de deixar de operar por não controlar os movimentos das mãos.

Gostava de fazer uma entrada sobre o Clube do Stress.

Quanto à tua dúvida: é igual. São fármacos que deprimem a imunidade para não haver rejeição do tecido "estranho", mas depois deixam o organismo vulnerável a outros "estranhos", como as bactérias e vírus. Washkasnki, o primeiro transplantado morreu por causa disso - há quarenta anos os fármacos nesta área não tinham nada a ver com o que existe agora.

Finalmente, embora possamos considerar o coração como um órgão como outro qualquer, a verdade é que, seja para os profissionais, seja para o cidadão comum, continua a simbolizar a Vida. É o último órgão a deixar de funcionar - toda a gente morre de paragem cardíaca. E pensar que se pode "transplantar a Vida" é ainda, filosoficamente, belo e assustador, ao mesmo tempo.