domingo, 10 de janeiro de 2010

geração "rasca" - re-edição...



Geração perdida. A expressão, amarga, integral, acaba de ser usada no Reino Unido para encaixar quem tem agora entre 16 e 25 anos.
          Publico on-line

Confesso que não sou pessimista. Acho que não há gerações melhores do que outras, e tudo tem de ser contextualizado e analisado com rigor e cuidado.

O Mundo sempre passou épocas de maior amargura e dúvida, mas foram até as gerações mais novas que encontraram caminhos de rotura e de evolução.

Todos os velhos dizem que "no meu tempo" as coisas eram melhores, como é natural que se olhe para o futuro com pessimismo

PS: Pessoalmente, talvez por lidar tanto com crianças e jovens, não partilho desses sentimentos. Pelo contrário! E ao estar, ontem, com 63 membros da minha família, maioritariamente abaixo dos 15 anos, acho que estas notícias não têm, mesmo, razão de ser.

5 comentários:

miguel disse...

Nem de propósito: ouvi ontem declarações do director da I, que, comentando a grande aceitação do seu jornal num congresso internacional de especialista justificava o aparecimento do título com, após fazer estudo de mercado, ter descoberto um " target fascinante" ( palavras do próprio ) de gente culta, a auferir acima de 1800/2000€ mês (?!?) e - PASME-SE - na faixa etária 23-30 anos.

Folheio o" Público " e só leio testemunhos de jovens licenciados sem futuro...a catástrofe.

Em que é que ficamos?

Virginia disse...

Penso que há de tudo, bons e maus, com emprego e sem emprego nenhum. Quando ensinei, senti que havia alunos com notas piores que se iam safar no futuro ou porque tinha família que os absorvia no mercado de trabalho, ou porque eram desenrascados, ou porque sabiam bem ao que iam. Outros havia com notas muito boas, mas sem outros savoirs, com pais demasiado protectores, mas sem horizontes que não a função pública e esses iriam ter grande dificuldades, mesmo que tivessem as melhores notas do mundo. O todo completo, a personalidade, a experiencia para lá de aulas, o conhecimento da vida, o querer, o sair de Portugal, o arriscar são muito importantes. E é claro que muitos dos nossos jovens saem das faculdades depois de andarem por lá a passear e a correr para os bares e tendo uma vida académica duvidosa, sem o mínimo de jeito para nada e à espera que tudo lhes caia do céu!

Nos outros países, os alunos trabalham durante o curso, ganham experiencia de voluntariado ou de empregos menores, mas isso conta para o futuro.

As nossas gerações ainda estão à espera que o Estado lhe dê um lugarzinho no Céu....mas o céu está cinzento e aqui até promete neve!!

joaopedrosantos disse...

A minha opinião neste assunto ainda está a ser formulada, com as experiências que vou tendo ao longo da minha curta vida. Mas já posso afirmar que noto uma certa tendência pessimista.
Estou cada vez mais em crer que iremos ter uma geração de extremos, em que a desigualdade vai ser gigante e em que a maioria vai conseguir arrastar o país para o fundo, enquanto a minoria, constituída por jovens altamente qualificados e de excelentes profissionais vai, cada vez mais, procurar soluções fora do país.
Eu poderia estar aqui durante muito tempo a explicar tudo aquilo que tenho pensado sobre esta matéria nos últimos tempos, e acreditem que este texto seria muito extenso. Por exemplo, segundo as minhas previsões (que valem o mesmo que as de qualquer pessoa que nada saiba de sociologia nem de qualquer ciência social) é que o crime aumentará muito, tornando-se num escape de muitas pessoas que, sem formação nem emprego terão de enfrentar uma realidade em que convivem com algumas pessoas que se safarão bem e têm as posses materiais que escolhem.
Poderão replicar que as desigualdades sempre existiram, e isso não poderia estar mais perto da verdade, mas o que vai mudar, na minha óptica, é a forma como as novas gerações enfrentam as dificuldades que a vida lhes traz. A minha geração tem muito pouca capacidade de sacrifício e é muito motivada pelos bens materiais. Os tempos de pessoas pobres, mas que se matavam a trabalhar para conseguir levar uma vida o melhor possível estão a acabar porque essa geração de pessoas tentou evitar que os filhos passassem por esse tipo de privações. Então, temos jovens que, a partir do momento em que deixam de depender financeiramente dos pais, levam um choque demasiado grande e recorrem ao crime para colmatar essa falha na sua vida. Um dos exemplos que melhor ilustram aquilo que quero dizer é a criminalidade juvenil feita para a compra de roupa ou acessórios de moda.
Não preciso de ir muito mais longe para dar mais um exemplo. Eu próprio tenho algumas reservas se conseguirei ter o mesmo nível de vida que tenho actualmente, se desejar ser totalmente independente financeiramente. Escolhi uma profissão que não é famosa pelas quantias auferidas, em média, pelos seus profissionais e acredito que vá sentir isso na pele. Para além disso, eu tenho o enorme privilégio de ter os meus estudos pagos, bem como uma boa parte de bens não essenciais à minha sobrevivência. Tal como eu, acredito que muitas pessoas da minha geração tenham pouca resistência e adaptabilidade a mudanças radicais (por exemplo no caso de eu ter de ficar por minha conta)e cada vez mais se relativiza onde não se deve e a facilidade de cedência é maior face às adversidade e a valores morais muito concretos.
Bom, eu gostava de ver isto discutido e se alguém quiser falar com mais profundidade sobre isto, basta dizer-me que eu estarei disponível.

miguel disse...

O texto da Virgínia é certeiríssimo...infelizmente. Procede do senso comum - que eu tenho pouco - e da experiência empírica que eu e ela temos, e muito.

O texto do João Pedro é de uma enorme seriedade, clareza e candura - esta fica muito bem em que é sério e claro.

Julgo que o joão Pedro é um jovem e dos bons , como eu conheço muitos. Com efeito e paradoxalmente à subscrição que faço do texto da Virgínia, acho que esta geração é, globalmente, uma geração mais apetrechada do que as anteriores do ponto de vista cultural, nas suas várias dimensões : sexualidade; relações inter-pessoais; conhecimentos; novas tecnologias; ecologia;postura cívica;cultura "stricto sensum" etc.

Gosto, de uma maneira, dos jovens de hoje. O que me precupa, hoje, é o futuro próximo deste país do ponto de vista económico. Não oiço , da parte dos espcialistas , discursos optimistas e , pior que isso, propostas para caminhos e soluções.

Tenho uma esperança: que nos habituemos, TODOS, a viver com pouco ( matéria de altíssima complexidade )Modéstia Àparte , nesta matéria, sou mestre, que é como quem diz " quando não posso, não faço" Habituei os meus filhos a essa realidade. Não vejo idêntica postura na ESMAGADORA maioria das pessoas que conheçoo.Mesmo que pareça o contrário... E enquanto o "estilo de vida" ( a que está associado, GEMINADO, o dinheiro) fôr um FIM ( um projecto de vida), a globalização, as crises, a evolução da ecoomia mundial, serão sempre incompreendidas, isto é, inaceitadas. E esta não é uma questao dos jovens, é ds adultos que eles virão a ser.

Mário disse...

Viver com "menos do que ontem", ou pelo menos com o mesmo, é um objectivo que cultivo. Nunca me interessaram valores materiais - sou demasiado desprendido do dinheiro, e nunca assentei nada nos livros de cheque, não tenho rol do que gasto e vou-me limitando a pagar as contas, sabendo que não gasto em luxos nem em extravagâncias, sem ser unhas-de-fome.

Prefiro cultivar valores que se multiplicam, ou seja, quem os dá também ganha, ao contrário dos valores materiais, em que quem os dá perde-os. Os afectos, a alegria, a cultura, a partilha e o culto das coisas pequenas são um exemplo.

Mais: procuro cada vez mais encontrar prazer em coisas de "custo zero", como as que se encontram na Natureza, e er o rpazer de, por exemplo, as fotografar, apanhar, usar para compôr quadros e outras coisas no género. Se não tivermos cuidado, perdemos demasiado tempo com porcarias e deixamos escapar o essencial.

Esta crise pode levar a uma mudança de paradigma, pelo que se poderá ser feliz com pouco, e assim fugir da fatalidade de "geração-rasca à-rasca". É uma opção pessoal de cada um, mas há que ter a coragem de a tomar.