segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

quase uma sopa dos pobres, para alguns





Estive há dias num Encontro sobre "LED on Values", uma nova forma de implementar o ensino-aprendizagem das competências sociais e humanas, e o desenvolvimento da prática dos valores essenciais da democracia e do humanismo.

Entre as várias experiências relatadas, uma refere-se às refeições escolares. A saga da avaliação não permitiu que se visse o impacto que esta medida, que tem sido tomada pelas câmaras municipais, tem tido nas crianças, especialmente as mais desfavorecidas.

Os dados que vi vão ao encontro dos que encontrámos num estudo que realizámos em refeitórios escolares de Lisboa e da Amadora: para muitas crianças, a refeição quente na escola é a única que tomam ao longo do dia, e os lanches da manhã o primeiro alimento do dia, ou o lanche da tarde o último.

A realidade é, para muitas famílias, esta. E o estudo revelou que a qualidade dos alimentos e a composição das refeições (gratuitas para a maioria, a preço ridículo de 1,5€ por dia para os mais afortunados), é óptima, mesmo nos casos em que a confecção é menos saborosa ou "bonita". Acresce que, para muitos outros, se não fosse estas refeições escolares, não comeriam legumes, sopa ou fruta, mas apenas hidratos de carbono, proteínas e doces.

É preciso divulgar as boas práticas e o que de bom está a acontecer nas escolas. Dentro de dias abordarei a experiência do concelho de Mafra, um concelho exemplar, talvez por ter um presidente que, além de se chamar ministro, é um verdadeiro "Ministro", no que a palavra verdadeiramente significa: servidor.

5 comentários:

Elisete disse...

Fico à espera da entrada sobre o concelho de Mafra que conheço um pouco através da minha irmã. Aliás, vou dizer-lhe para estar atenta e comentar. Ela vive na Venda do Pinheiro e não trocava a sua qualidade de vida e a dos filhos por nada deste mundo. Está sempre a elogiar o "Ministro".

Miguel e Rita Clara disse...

Fica uma história real com cerca de 4 anos.
Uma menina sente-e mal e desmaia durante o intervalo numa escola oficial num cidade a escassos 100km de Lx.
Vai de âmbulancia e o diagnóstico é claro : A criança estava sem comer desde o almoço do dia anterior...
Costumava aguentar até á hora do leite escolar mas naquele dia demorou alguns minutos a mais dentro da sala e revelou a fome que muitos suspeitavam.
´Tinha 8 anos e só comia na escola...
( Não creio que o caminho seja o estado substituir-se ás famílias mas ajudá-las e responsabilizá-las...)
Cumprimentos Professor Mário.
RTSBGC

Virginia disse...

Não dei aulas no básico com alunos pequenos, mas mesmo a nível mais elevado, notava que os alunos se alimentavam mal e muitos deles fugiam às cantinas - a nossa era muito boa - para ir aos cafés, o que agora com os cartões se torna mais difícil. No bar havia tudo fruta e bolos , mas os alunos preferiam os croissants e batatas fritas a fruta. Apesar dos avisos tb havia alunas que não comiam para não engordar, estando por vezes quase a morrer nas aulas por subnutrição voluntária. É um fenomeno muito vulgar nas adolescentes de 14-15 anos, embora a obesidade tb seja um problema. Várias vezes dei dinheiro aos alunos que não tinham tomado nada de manhã e mandei-os ir ao bar, embora não fizesse disso um hábito pois acho que os pais é que deviam velar pelos filhos. Sei quao difícil é faze-los tomar pequeno almoço e os meus não eram excepção.
Acho muito bem que as câmaras tomem conta dessa situação, pois é necessário vigiar os alunos e educá-los para uma alimentação saudável. As máquinas de venda de bebidas e bolos deviam ser proibidas. Os alunos podem beber água da torneira , que é muito mais saudável do que muitos refrigerantes dessas máquinas.

R. disse...

Um aplauso para (mais) este esforço seu de relembrar que a Educação e a Escola em Portugal não se limitam à avaliação ou carreira docentes!

Mário disse...

Elisete: um bom autarca é um bom autarca... este é dos tais que deveria ficar sem limites de mandato.

Rita e Miguel: o Estado (leia-se a Escola) não deve substituir, mas infelizmente tem de ser, muitas vezes, o provedor da segurança, da cultura, da comida, da roupa, do afecto...

Virgínia: totalmente de acordo. O pecado mora em casa de cada um, nas máquinas de moeda, nas pastelarias e restaurantes próximos das escolas e até nos bares escolares (no 1º diclo não existem, felizmente). A pobreza não é só financeira...

Rui: obrigado. A Educação tem tanto sobre que se falar que é uma pena não apresentar experiências e ideias.